26

407 42 24
                                    


Capítulo 26










Acordei sentindo os raios de sol atravessarem pelas cortinas escuras, olhei ao lado e vi o relógio marcar 10 horas. Já era dia e eu ainda estava na casa da Engfa. Ótimo. Me revirei na cama ainda indecisa se deveria ou não levantar. Na verdade não saberia como reagir a presença dela. Deus, o que o álcool era capaz de fazer. Em sã consciência jamais teria pedido para vir aqui, nem teria me aproximado dela tão intimamente. Afinal ela ainda era minha chefe. Quão ridículo era minha situação nesse momento. Sentei na cama tentando avaliar o que faria, não saberia qual reação dela diante de tudo, sequer saberia como agir. Olhei ao redor, havia uma muda de roupa ainda lacrada depositada em cima da cama.
"Humm interessante" Peguei levando-as comigo até o banheiro, la haviam toalhas limpas e uma escova de dentes. "Bendito seja Deus!"
Tomei um banho rápido, escovei meus dentes três vezes e fui voltando ao quarto ja vestida. Bom agora não havia como fugir, teria que sair. Abri a porta lentamente ouvindo o barulho o barulho do vento nas cortinas do corredor. O dia havia amanhecido lindo. Menos mal. Fui discretamente em direção a sala que estava vazia quando ouvi uma voz atrás de mim.

--Bom dia. Dra. Engfa lhe aguarda para o café. Me acompanhe. –Disse o homem alto com um sorriso amigável e cabelo impecavelmente penteado para o lado. Despertei do susto e segui-o em direção a outro corredor imenso, depois a uma escada pequena de vidro e madeira em forma de caracol, a cada passo era possível ouvir com mais exatidão a voz dela, que parecia irritada e calma. Quem no mundo falava irritada calmamente? Só ela. Ele abriu a grande porta de correr e quase desfaleci com a vista daquele jardim. Era um jardim japonês singelo, porém deslumbrante, um pedaço da natureza dentre tantos prédios, simplesmente magnifico. A voz exasperada de Engfa fazia coro com o barulho da pequena fonte rodeada de bambus. Ela estava de costas para mim, em sua mão um jornal e na outra o celular, que ela apertava com tanta força que o sangue parecia sumir de seus dedos. Pigarreei chamando sua atenção. Ela não me olhou, e apenas se despediu ao celular de uma forma gélida. Não que eu fosse curiosa, mas aparentemente a discussão era profissional. Ouvi o barulho da porta pela qual havia entrado se fechar e me aproximei da mesa de madeira rustica ao lado oposto onde ela sentava. Ela levantou-se ficando uns dez centímetros mais alta que eu, usava saltos altos e uma calça de corte reto preta e uma blusa de seda cor chumbo, no busto um colar de pedras grandes safira e nos olhos um óculos redondo e escuro.
Foi ao meu lado e puxou uma cadeira para mim, esperando que eu me sentasse. Fiquei alguns segundos paralisada com o gesto e com seu aroma suave e marcante. Me sentei desconfortável como se houvesse espinhos na cadeira.

--Bom dia. –ela sibilou quase sem mexer os lábios.
--Bom dia. –falei e só então observei a mesa farta em nossa volta.
--Com fome?
--Um pouco.
Senti minha barriga roncar alto, me deixando envergonhada.
--Um pouco?

Baixei minha cabeça e comecei a devorar tudo que via pela frente, não que eu comesse muito, mas passei horas sem uma refeição decente, e aquilo tudo era tão delicioso que não quis resistir. Pão, suco, geleia, queijo, devorei tudo em questão de minutos.
Só então levantei minha cabeça e vi Engfa sorrindo eu diria que foi fofo. Mas quando notou que eu vi, imediatamente parou.

--Satisfeita? –perguntou educadamente
--Sim, obrigada. –falei limpando minha boca com guardanapo.
Ouvi o celular de Engfa vibrar e ela curvou-se sobre a cadeira cruzando as pernas confortavelmente enquanto digitava. Devo ter suspirado mentalmente diversas vezes com a cena. Ela demorou alguns minutos dispersa olhando para a tela.

--Então, acho que vou indo. –falei baixinho.
--Para onde?
--Minha casa.
--Eu levo você.
--Não é necessário, eu chamo um taxi rapidinho.
--Eu levo você.
--Eng, realmente não precisa.
--Eng? –Me olhou divertida.
--Sim –falei corando.
--Eu trouxe você, Yoko. Eu levo você. Assunto encerrado. Agora vamos.

SUA OBSESSÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora