Outubro de 2022. Uberlândia, Minas Gerais, Brasil.
Juliette vasculhava constantemente os sites que tinha vagas de emprego para a sua formação, mas nada surgia para uma recém formada em Biomedicina.
- Juliette... - Amanda parou em frente a amiga que estava de frente ao computador. - Estou indo.
- Certo Amanda. Bom trabalho. - ela disse com a voz falhada.
- Ôh amiga. Toda manhã é sempre igual e você chora. Não faz assim.
- Até quando vou ter que esperar uma boa oportunidade?
- Até o dia certo. Devemos ter fé.
- A minha família acha que eu trabalho no laboratório da universidade e meu único ganha pão é ser acompanhante de velhos sem companhia e de gays dentro do armário.
- Não devia ter mentido Juliette. Isso é errado.
- E o quê vou dizer? Que fracassei? Não. Seria um desgosto enorme.
- E vender a sua companhia deixará eles felizes se um dia vinher a tona?
- Só faço companhia. Não faço programas e não me prostituo. Não é o melhor trabalho, mas com ele sobrevivo e ainda ajudo a minha família.
- Tudo bem. Mas não chora. Isso só te deixa mal. Vou indo. Fica bem.
Amanda e Juliette moravam juntas desde a faculdade e ambas terminaram o curso de Biomedicina, porém não tiveram sucesso pós formação superior. Enquanto Juliette embarcou para uma ocupação que Amanda não admirava, ela por sua vez sujeitou-se a trabalhar numa clínica como recepcionista por que não queria voltar para a casa dos pais. Mesmo que fossem trabalhos fora do eixo que elas buscaram, eram independentes financeiramente. E isso para duas jovem de 22 anos era suficiente.
...
Naquela manhã Juliette arrumou-se e como de costume colocou uma lace, dessa vez ruiva, para fazer companhia a um jovem homem gay que não tinha coragem de se assumir para a família.
- Você pode dizer a mamãe que está apaixonada por mim? - o homem dizia com a voz mais fina que Juliette já tinha ouvido.
Ela segurou o riso e apenas balançou a cabeça em sinal positivo.
- Ótimo. Vou lhe dá um selinho. É possível?
- Não. Eu espero que tenha lido o contrato. Nele está escrito que no máximo podemos dá um beijo no rosto. Espero que o senhor se contenha. Não se preocupe, sei ser convincente.
E realmente sabia. Quem viu o suposto casal acreditou que eles estavam apaixonados.
- Ai Juliana... Foi incrível. Muito obrigada querida. Se eu precisar novamente, posso entrar em contato?
- Claro Renato.
- Talvez eu precise, antes de dizer a mamãe que terminamos.
- Qualquer coisa já sabe onde me encontrar. Tenha um bom dia e não esquece de me avaliar no site, só assim recebo pelo meu trabalho.
- Sim. Farei agora.
Juliette só recebia quando o seu cliente lhe avaliava positivamente, mesmo que quase nunca tivesse um feedback negativo, as vezes um esperto fazia isso de má fé.
Por motivos como esses privou seu público: homens com mais de 65 e gays. Apesar de quase nunca ter saído com homens héteros jovens, das vezes que isso ocorreu odiou as experiências. Eles sempre queriam algo a mais e isso era contra tudo que Juliette acreditava.
Vender a companhia é uma coisa, vender o corpo seria algo demais para si própria.
Enquanto voltava para casa de ônibus, ela ia vendo algumas propostas e uma lhe chamou a atenção.
-"Oi Juliana. Me chamo Rodolffo Rios. Tenho 31 anos e sou um professor universitário. Preciso de uma acompanhante e viajando aqui pelo site, me interessei pelo seu perfil. Podemos conversar?"
Juliette não tinha grandes propostas naquela manhã para analisar e algumas só queriam saber de valores. Então ela respondeu prontamente:
" Bom dia. O senhor leu os termos do meu contrato e sabe o meu público alvo? Eu atualmente não atendo homens heterossexuais."
...
Universidade Federal de Uberlândia.
- Professor... Professor Rodolffo... Um instante.
Um aluno abordava Rodolffo frente a sala dos professores.
- O senhor não realizou a frequência hoje.
Rodolffo sorriu e ajeitou os óculos de grau no rosto.
- Não se preocupe. Eu conheço toda a turma. Nenhum presente ficará ausente. E não reprovo por frequência e sim por notas. Estudem, os exames não se demoram.
- Sinceramente, estando no meio do curso de Engenharia Agronômica, não desisto por causa do senhor. - disse entristecido Marcos.
- Não diga isso meu caro. É um bom aluno. É só um dia de dúvidas.
- Como o senhor conseguiu se formar e ser mestre em tão pouco tempo?
- Não é pouco tempo. Entrei na universidade aos 17 anos e logo depois de concluir a graduação fui fazer o mestrado e lá se foram mais dois anos, depois disso foquei em concurso público e cá estou. Não foi sorte, é esforço e dedicação. Eu abri mão de muita coisa nessa vida para estar onde estou.
- Eu sei. Obrigado professor, o senhor é um cara 100%.
Rodolffo sorriu e olhou para o rapaz que sumia no corredor. Logo entrou na sala dos professores.
- Bom dia professor Rodolffo.
- Bom dia a todos e todas. - ele cumprimentou timidamente os presentes.
- Quem te vê assim, nem diz o quanto é desenvolto frente aos seus alunos e como palestrante. Já ouviram uma palestra do mestre Rodolffo, cara ele é muito bom com as palavras. - Reginaldo era um colega de trabalho.
- Obrigado Reginaldo.
- Ele só é ruim para arranjar namoradas. - a sala toda sorriu.
- Nem tão ruim assim... - saltou Rodolffo. - Parece que o jogo virou para o meu lado. - ele disse e todos se calaram.
No fundo ele era tímido e muito reservado, além disso a vida corrida entre dois trabalhos lhe tiravam as oportunidades de encontrar um relacionamento. Mesmo que quisesse isso, era um plano sempre adiado e ele era muitas vezes motivo de chacota.
- Quem viver verá. - ele disse enquanto sentia uma notificação chegar no seu aparelho celular.
...
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Pinturas e disfarces
FanfictionUma história inventada, reinventada e feita por dois.