Capítulo 04

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Amanda retornou ao apartamento na madrugada e Juliette estava vidrada no computador.

- Menina, ainda tá acordada? O quê tá acontecendo?

- Estou sendo antiética, mas olha para esse homem aqui. - ela mostrou a tela do notebook para Amanda.

- Eitaaa. Que gato!

- Ele é gato mesmo e gay. Como pode isso?

- Mas tem uma cara de homem. Ôh mundo ingrato.

- Eu vou ser acompanhante dele por um dia.

- Sério?

- É... Nós conversamos e ele é super educado.

Amanda olhou para a página da internet e viu que ele estava no quadro de professores da UFU.

- Hum... É um professor universitário. Todos são gays mesmo amiga. Conta-se nos dedos um hétero.

- Eu sei Amanda. - Juliette voltou a olhar para a tela do computador.

- Que cara é essa? Não estou entendendo.

- Por que eu não tenho sorte?

- Juliette de novo isso?

- Se ele fosse hétero eu poderia tentar usar a influência dele a meu favor.

- Hein? Amiga cê tá louca?

- O quê tem?

- Isso é prostituição Juliette. E eu tô entendendo tudo. Se o boy fosse hétero cê dava o chá em troca de uma oportunidade de trabalho?

- Melhor do que você que sai para dá e volta do mesmo jeito.

- Juliette assim você me magoa.

- Mas eu quero estar perto desse homem. Ele disse que talvez virão mais vezes e eu quero usar todas as oportunidades que me forem dadas para subir os degraus da minha vitória.

- Nunca te vi tão mal intensionada. Sinceramente não gosto dessa Juliette oportunista e interesseira.

- Boa noite Amanda.

Juliette disse praticamente expulsando a amiga se perto dela. Quando sozinha ela olhou para a foto de Rodolffo e sorriu.

...

Universidade Federal de Uberlândia.

Manhã seguinte...

Rodolffo tinha ido até o coordenador do simpósio e junto dele conseguia assentos privilegiados para a sua família.

- Virão meu pai, minha mãe, minha irmã, meu cunhado juntos com a bebê deles e também a minha namorada.

O coordenador olhou para ele sorridente e lhe disse:

- Tem certeza que é namorada mesmo? As mulheres hoje em dia não levam ninguém a sério.

- É namorada e ela estudou aqui. Fez Biomedicina e se chama Juliette. Olha aqui a foto dela.

Rodolffo mostrou a foto que tinha no perfil do WhatsApp de Juliette e o coordenador olhou com atenção.

- Muito bonita.

- Eu não gosto de mulher feia.

- Achei até que você não gostasse de mulher.

- Que é isso Fabrício?

- As alunas sempre te dão mole e você só esnoba.

- Eu não esnobo, mas não quero namorar uma aluna. E nunca gostei de ser assediado.

- Tem muito tempo que estão juntos?

- Não muito. Pouco mais de um mês, mas ela mexe comigo de um jeito.

Rodolffo era ruim com mentiras, mas estava se esforçando. Precisava ser convincente.

...

Um pouco distante dali.

Juliette ia para outro encontro e dessa vez acompanhava uma senhora de 72 anos para compras no shopping.

Era a primeira vez dela nessa função, mas achou que estaria apta a desempenha-la com primor.

- Quando a gente é jovem acha que será assim para sempre minha querida. Eu acreditei tanto nisso. Fui tão egoísta a vida inteira.

- Mas a gente precisa ser egoísta dona Heloísa.

- Para tudo na vida há um limite e eu não tive limites. Sempre desejei ser uma mulher bem sucedida e fui, na verdade eu tenho muito dinheiro, mas no final ele não me basta.

- Como assim?

- Na juventude eu tive oportunidade de ter um companheiro e de ter filhos.

- Me desculpa ser invasiva, mas a senhora só está viva até hoje por que não casou e nem gerou filhos.

Heloísa olhou um pouco assustada para Juliette.

- Para quê casar se temos uma liberdade imensa? Para quê estragar o nosso corpo se os filhos não nos ligam no final?

- Seus pais ainda são vivos? - Heloísa disse calmamente.

- São sim.

- E você não os liga?

- Claro que ligo. Todos os dias falo com a minha mãe e as vezes o pai fala comigo também.

- E por que acredita que casar e ter filhos é uma perca de tempo? Se você é fruto de um casamento entre seus pais.

Juliette ficou muda.

- Carreira profissional é bom e dá retorno, mas não é tudo. Quando os pais se vão e os irmãos também, só a solidão fica e dói muito. Se eu tivesse um filho, talvez hoje algum jovem me chamaria de avó, mas não é possível voltar no tempo e o conselho que eu dou é que quem puder ter ao menos um filho o tenha.

- Eu não terei. E sou sincera em confessar que tenho mais medo de engravidar do que de morrer.

Heloísa sorriu e Juliette fechou o semblante.

- É ainda tão jovem. Não diga essas coisas.

- Eu digo por que é real. É tanto que me mantenho distante de qualquer risco. Imagina uma criança crescendo em mim? Não! Para!

- Eu namorei bastante, mas parceiro sexual só tive um. Não tenho vergonha de dizer que me entreguei a um único homem na vida, mas por ironia do destino ele partiu cedo demais. O ruim de ficar velho é isso, vê seus amores partindo um a um.

Dona Heloísa tinha sido uma das melhores companhias que Juliette tinha trabalhado. Ela gostou muito de estar perto daquela senhora.

- Olha dona Heloísa, se um dia a senhora quiser novamente uma companhia, não precisa pagar, venho estar com a senhora com todo prazer.

Passou o número telefônico para a senhora e lhe deu um sorriso gentil.

- Agora eu tenho que ir.

- Chegará novidades na sua vida e serão boas. - dona Heloísa disse segurando na mão de Juliette.

- Espero que seja meu tão sonhado emprego.

- As vezes Deus não nos dá o quê a gente quer, mas o quê a gente precisa.

Juliette só abanou a cabeça e sorriu. Deu um abraço em dona Heloísa e foi embora.

...

Pinturas e disfarcesOnde histórias criam vida. Descubra agora