Capítulo 29

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No início da manhã. Quitinete de Juliette.

Ela levantou cedo. Fez suas orações matinais, logo depois suas higienes e logo depois fez a primeira refeição do dia.

- Bom dia princesinha. Hoje mamãe vai te ver e está tão feliz. - ela disse alisando a redonda barriga. - Ontem eu sonhei com o seu pai. Ana Clara... Minha pequenina...

Juliette sonhava sempre com Rodolffo. Mesmo que seu racional quisesse esquecê-lo, o emocional falava mais alto.

Depois de pronta, ela saiu para o ponto de ônibus que a levaria ao centro, mas nas proximidades dali, ouviu um pessoa lhe chamando. Fazendo ela olhar para trás.

- Bom dia senhor Jorge.

- Bom dia. Está tudo bem? Já vai começar a trabalhar?

- Estou bem. Não. Tenho consulta médica. Vou ver a Ana.

- E seria possível que aceite uma carona?

Juliette ficou pensativa.

- Jorge eu acho que...

- Que deve aceitar. É melhor que o ônibus minha querida e assim eu fico perto da Ana.

- Tudo bem...

Juliette entrou no carro do avô de Ana Clara e ele foi junto com ela para a clínica.

Jorge não foi embora como Juliette imaginava e insistiu para participar da consulta, mas ela foi firme:

- Não me sinto a vontade para que entre. Depois te mostro as imagens, prometo. Fique aqui me esperando se quiser.

Ela entrou na consulta e a cada novo ângulo da bebê sorria.

- Está tudo bem com ela, não é?

- A Ana está ótima.

Juliette sentiu-se aliviada e saiu da sala de ultrassonografia muito contente.

Antes de retornar para ir embora, Juliette visitou a psicóloga que a acompanhava durante o período gestacional.

- Como está tudo Juliette? Tem exatos um mês que nos vemos. O quê mudou nesses dias?

Juliette contou muitas coisas. A psicóloga a ouvia sem julgamentos e ela conseguiu se abrir, falando até de Jorge que a esperava.

- O Jorge é um homem bom.

- Mas você não confiou dele estar contigo na ultrassonografia, por quê?

- Por que eu não estou pronta para outro homem me ver semi nua. O Jorge é um homem bom, mas ele não é o pai da Ana. Rodolffo foi o único homem que eu me relacionei intimamente e esses momentos deveriam ser vividos com ele e não com outro, entende?

- Juliette eu te vejo ainda muito dependente desse relacionamento com o pai da Ana. Parece que não há uma evolução...

- Eu o amo.

- Mesmo com todos os erros cometidos contra você?

- Sim. Eu sei que ele errou, mas sei que também errei. Quem alimenta uma mentira, como eu alimentei, vira refém dela por muito tempo. É um preço alto a se pagar.

- Ele desconfiou do seu caráter. Juliette isso não é simples.

- Dói muito quando lembro das duras palavras dele e deve ser por isso que não tenho coragem de procurá-lo, mas estou decidida a fazer. Não é por que tenho esperanças com ele, mas por que a minha filha merece ter um pai.

A psicóloga fazia anotações.

- Da última consulta, havia me falado do João, que lhe fez uma proposta.

- O João é um bom homem e me convidou a viver com ele, mas eu disse não.

- Mas estou vendo aqui que você me relatou que ele até chegou a frequentar a sua casa. Por que não deu uma oportunidade ao João?

Juliette ficou pensativa.

- Se você deseja uma mudança Juliette, terá que ser a primeira a trocar os passos na caminhada.

- O João foi na minha casa e levou algumas coisas para a Ana. Eu agradeci e o convidei para jantar. Nós conversamos durante a refeição e depois ele me ajudou a arrumar a cozinha. Foi enquanto eu secava os pratos que ele tomou a iniciativa de um beijo.

- Que evolução interessante.

- Mas ele não queria só me beijar. João desejava o meu corpo e no início confesso que permiti alguns toques. - Juliette fechou os olhos para descrever. - Mas quando a mão dele encostou na minha barriga, eu o afastei de mim.

- Por que Juliette?

- Por que eu não consegui. Tudo aquilo me pareceu errado. A minha carência não podia ser suprida com ele. João não é o pai da minha filha.

- Então você se sente carente?

- Muito. Eu tento não me sentir assim, mas é impossível. Depois desse momento que tive com João pedi que ele se afastasse de mim e ele assim fez.

A psicóloga fez mais anotações.

- Juliette meu conselho de hoje é que se for possível e confortável busque o pai da Ana. Tentem ter um diálogo saudável e se ele questionar a paternidade, mostre a sua idade gestacional ou outro argumento que possa lhe convencer. Não se trata de reatar nada, vai com calma, mas pela sua filha tente essa reaproximação. O seu ex sogro pode te ajudar com isso?

- Sim. Com certeza.

- Então pronto.

Juliette estava mais leve depois das consultas de hoje e saiu dali mostrando as fotos da ultrassonografia a Jorge.

- Que linda!

Animados foram almoçar juntos.

- Eu acho que ela parece com o Rodolffo, desde a morfológica.

- Não concordo. Parece com você. Aqui dá para ver que o nariz é o seu. - Jorge retrucou.

- Como vai a dona Verônica? Eu pensei que vocês moravam numa área rural.

- Eu estou de vez na cidade, ela continua no campo.

- Mas vocês vivem separados?

- Verônica e eu temos uma longa história juntos, são mais de três décadas partilhando uma vida, mas decidimos seguir sozinhos agora.

Juliette ficou de olhos arregalados.

- No início é ruim, mas acostuma.

- Nossa... Sinto muito.

- Não sinta.

Um enorme silêncio se fez.

- Seu Jorge, o senhor poderia me dá o número do Rodolffo?

- Muito difícil falar com ele. Está no meio do mato. - Jorge disse com má vontade e Juliette não insistiu. - Mas se quiser me passar o seu número, eu posso tentar falar com ele.

- Não é necessário. Eu só pensei que ele poderia ter acesso a internet.

- É um estudo longo. Praticamente um retiro. Mas vai ser bom para ele.

- Sim. Com certeza.

O assunto Rodolffo foi encerrado. Ana era a mais comentada e tudo girava em torno dela. Jorge pediu para ficar mantendo contato com Juliette e ela não recusou.

Naquela mesma manhã, ele deu alguns pertences do enxoval da neta e levou Juliette para casa antes do horário do trabalho.

...

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