Capítulo 15: Mestre e Aprendiz

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          O ambiente no quarto ficou frio e pesado, como se o ar estivesse denso com segredos não ditos. A luz da lua iluminava cada canto, revelando sombras, testemunhas silenciosas de um momento que mudaria tudo. Finn olhou para o Mestre, seu coração acelerando.

— Mestre... — começou Finn, sua voz tremulando. — Então eu fui criado como uma simples peça em um tabuleiro que se movimenta a partir das vontades dos que comandam? — A indignação na voz de Finn reverberou pelo quarto, como um eco de suas frustrações acumuladas.

          O Mestre desviou o olhar, a tristeza profunda em seus olhos cor de mel refletindo um peso que parecia carregar há décadas.

— Eu sei, Finn. E eu sinto muito. Mas Áina fez isso pelo bem maior de Flavo. — A voz do Mestre parecia sumir de tão fraca que estava.

          Finn sentiu um nó se formar em sua garganta. As memórias de sua infância invadiram sua mente: risadas, histórias contadas sob as estrelas, a sensação de segurança que ele sempre tivera, agora manchada pela verdade.

— O que eu fui, então? Um projeto? Uma estratégia? — Ele respirou fundo, tentando domar a raiva que borbulhava dentro de si. — As coisas que vivi, os momentos que valorizei... Eram apenas parte de um plano?

          O Mestre fechou os olhos por um momento, como se estivesse absorvendo cada palavra de Finn.

— Não. Você é muito mais do que isso. Cada momento que você viveu foi real. Cada risada, cada lágrima... tudo fez parte de quem você é. Mas a verdade que você agora carrega é um fardo, e eu... eu não queria que você o tivesse que carregar.

          Finn balançou a cabeça, a dor crescendo em seu peito.

— Eu deveria ter sabido! Eu tinha o direito de saber sobre minha vida, sobre meus pais. Como posso confiar em você e no meu tio, sabendo que vocês escolheram me esconder a verdade.

— Você não precisa confiar em mim, — o Mestre disse, a voz carregada de pesar. — Mas eu te peço que me ouça. Havia razões para isso.

— Razões para me criar como um pássaro em uma gaiola? — Finn gritou com raiva, desafiando.

          O Mestre deu um passo à frente e, de repente, envolveu Finn em um abraço apertado, como se quisesse protegê-lo de toda a dor que estavam enfrentando. Finn ficou surpreso com o gesto, mas sua raiva não diminuiu. No entanto, havia algo na maneira como o Mestre o segurava que falava de uma dor profunda e genuína.

— Sinto muito, Finn... — a voz do Mestre era um sussurro, carregada de tristeza. — Eu nunca quis que você sentisse isso. Nunca quis que você se sentisse preso.

          Finn sentiu o corpo do Mestre tremendo levemente, e, para sua surpresa, percebeu que as lágrimas começavam a escorregar pela face do velho. Era um choro silencioso, mas a emoção estava ali, palpável.

— Eu sempre vi você como meu neto. — O Mestre continuou, a voz embargada. — Quando você chegou em Fatae, eu prometi proteger você de qualquer mal, mesmo que isso significasse esconder a verdade. A culpa que carrego é pesada.

          Finn não esperava essa vulnerabilidade do Mestre. Ele se afastou um pouco, olhando nos olhos do homem que sempre fora seu mentor. Viu não apenas um sábio, mas um ser quebrado, lutando contra as decisões que havia tomado.

— Como você pode me proteger? — Finn perguntou, a raiva se transformando em confusão. — Você me disse que a verdade é importante, que a luz é o que guia as pessoas. Então por que me privou dela?

— Eu pensei que estava fazendo o certo! — O Mestre exclamou, a voz tremendo de emoção. — Eu queria que você tivesse uma infância normal, longe das sombras do passado. Eu queria que você soubesse o que é viver em paz antes de enfrentar a escuridão que se aproxima. E agora... agora eu vejo que falhei.

O Segredo dos Sete Reinos:   Prelúdios de GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora