35-o Grito do Coração

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Já era noite quando voltei do campo, cansado pra caramba de trabalhar com o gado. O vento fresco que soprava na fazenda mal fazia efeito diante da tensão que eu sentia. Desde a última noite, quando as coisas ficaram complicadas entre mim e a Laura, parecia que uma barreira invisível tinha se formado entre nós. Eu não sabia exatamente o que estava rolando, mas algo estava fora do lugar, e essa sensação me incomodava pra cacete.

Ela já deve ter voltado do povoado, pensei enquanto descia do cavalo e o levava para o estábulo. Só que, porra, sentia falta dela perto de mim. Um dia sem trocar uma palavra parecia uma eternidade. Precisava resolver essa falta de comunicação que estava me corroendo por dentro. A gente precisava falar, acertar as contas e acabar com esse clima estranho.

E eu precisava, de uma vez por todas, descobrir quem era esse maldito Luke que ela mencionou. Além disso, tinha que pedir desculpas pelo jeito idiota como eu tinha agido ontem à noite. Cada vez que lembrava de como as coisas saíram do controle, o arrependimento me batia forte. Eu só queria consertar essa merda.

Enquanto caminhava em direção à casa, um sentimento esquisito me tomou. O carro dela não estava lá na frente. Estranho. Meu estômago revirou. Será que ela ainda não voltou? Ou, pior, será que aconteceu alguma coisa?

Subi as escadas num impulso, fui direto pro quarto e comecei a tirar as roupas sujas de trabalho. Entrei no banho, mas a água quente não ajudava a acalmar a bagunça na minha cabeça. Minha mente estava a mil, ensaiando o que eu diria quando a visse. Precisávamos conversar de verdade, botar tudo pra fora. Chega de meias palavras, chega de fugir.

Depois de me trocar, tomei uma decisão: hoje a gente resolveria isso. Desci decidido, pronto para esperar por ela no jantar. Cheguei até a porta do quarto dela e, com a mão hesitante, abri devagar. Tudo parecia no lugar. Pelo menos isso... Ela não tinha ido embora. Ainda.

Fechei a porta e fui para a cozinha. Encontrei Joana terminando de arrumar a mesa do jantar. Ela me deu aquele sorriso tranquilo de sempre, mas eu não estava nada bem.

"Joana, você viu a Márcia?" perguntei, tentando soar normal, mas minha voz já denunciava que algo estava errado.

"Está no quarto dela," ela respondeu, ajeitando os talheres com cuidado. "Vou chamá-la daqui a pouco."

Assenti, mas minha cabeça estava em outra. Eu só queria saber de uma pessoa.

"E a Laura?" perguntei, tentando soar casual, mas o nó na garganta era impossível de ignorar. "Ela ainda não já voltou do povoado, Talvez devêssemos esperar por ela antes de jantar."

Joana parou, me encarou com um olhar cauteloso, como se soubesse que o que vinha a seguir ia ferrar comigo.

"Daniel, a Laura não vai jantar hoje."

"Como assim, Joana?" perguntei, a voz mais firme do que pretendia. "Ela... não vai?"

Um aperto no peito começou a crescer. O medo de que algo estivesse errado me deixou tenso. Eu precisava de uma explicação rápida.

"A Laura foi para Seattle."

Aquilo bateu em mim como um soco. Eu só consegui repetir, atordoado:

"Seattle? Ela foi pra Seattle?"

O chão parecia ter sumido debaixo dos meus pés. Laura tinha ido embora? Pra Seattle? E por que diabos ela não me avisou? Ela não poderia simplesmente ter sumido assim, poderia?

"Sim, Daniel. Ela ligou mais cedo dizendo que precisava ir. Achei que você soubesse, ela disse que ia falar com você."

Foda-se. Não. Ela não falou. Nada. Meu peito ficou pesado, e eu só conseguia pensar no quanto isso estava errado.

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora