33- Desejo e Culpa

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O tilintar dos talheres ecoava pela grande sala de jantar da fazenda, mas eu mal registrava o som. A mesa estava cheia de risadas, vozes animadas, garfadas rápidas e conversas jogadas de um lado para o outro. Mas, pra ser sincero, eu não estava ali de verdade. Meu corpo, sim. A cabeça? Nem perto. Cada vez que cruzava o olhar com Laura, forçava um sorriso, mas minha mente estava presa naquela maldita conversa que ouvi mais cedo.

O que diabos ela estava escondendo de mim?

Apertei o cabo da faca com mais força do que deveria. Toda vez que tentava focar na conversa, ela se desfazia no ar, substituída pela lembrança da voz de Laura e do tio, o jeito como ela parecia tensa. Por que ela não me contou? Meu estômago se revirava.

Então, senti o toque suave da mão dela sobre a minha, me arrancando daquele redemoinho mental. Laura se inclinou um pouco, sorrindo de leve, o suficiente pra me desmontar por dentro. "Tá tudo bem? Você parece meio... longe", ela sussurrou.

Porra, eu queria só abrir o jogo e contar o que tava me atormentando. Mas tudo que consegui fazer foi forçar um sorriso sem graça e apertar a mão dela de volta. "Tô bem, só cansado", murmurei, tentando soar convincente.

Ela assentiu, mas o olhar de preocupação não desapareceu de imediato. Voltou a comer, enquanto eu mal conseguia terminar o que restava no prato. A sensação de que algo estava errado não me deixava em paz.

Foi aí que o tio dela resolveu puxar conversa comigo. "Daniel, não sei como te agradecer por nos receber aqui na fazenda. Sua hospitalidade é incrível." Ele sorriu, genuíno.

Eu forcei mais um sorriso, tentando parecer no controle. "Não precisa agradecer, pode ficar o tempo que precisar", respondi, sentindo o peso das palavras saindo sem alma. Eu estava muito longe de querer mais companhia agora.

Senti o cansaço emocional se acumulando, como se estivesse carregando um caminhão nas costas. Não dava mais pra aguentar aquela noite. Precisava sair dali.

Me levantei devagar, percebendo os olhares se virando na minha direção. "Vou me retirar, pessoal. O dia foi longo..." Minha voz saiu meio abafada, mas tentei soar casual.

Laura olhou pra mim imediatamente, seus olhos brilhando de preocupação. "Quer que eu vá com você?" Ela perguntou baixinho, como se só nós dois existissem naquele momento.

Quero pra caralho. Mas eu sabia que precisava de um tempo sozinho pra colocar a cabeça no lugar. "Não precisa, continua aqui. Tá tudo bem, eu só preciso deitar um pouco", respondi, forçando um meio sorriso, tentando tranquilizá-la.

Ela assentiu, mas a confusão em seus olhos ficou evidente. Voltei a dar um leve aceno pra todo mundo e comecei a caminhar para fora da sala. Só que, antes que eu pudesse sair completamente, a voz de Márcia me pegou de surpresa.

"Daniel, posso falar com você rapidinho?"

Fechei os olhos por um segundo, exausto até a alma. Não estava com cabeça pra mais nada, mas também não podia recusar minha irmã. "Claro, no escritório", murmurei, apontando com a cabeça, e ela se levantou, desejando bom apetite aos outros.

No caminho até o escritório, tentei sorrir pra ela, mas o que saiu foi uma careta forçada. Márcia, sempre atenta, não deixou passar. "O que tá acontecendo, Daniel? Você tá com uma cara de quem acabou de brigar com o mundo", ela disse, me olhando com aquele cenho franzido de preocupação.

Suspirei, tentando empurrar meus pensamentos pro fundo da mente. Não queria despejar mais preocupações em cima dela. "É só cansaço, nada demais", menti descaradamente, desviando o olhar.

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora