24- Momentos e desejo

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O sol da tarde iluminava o céu com um brilho suave e dourado. A brisa fresca soprava gentilmente, e o campo à nossa frente se estendia em um mar de lírios do campo. Era como se estivéssemos em um cenário de filme, um daqueles momentos que só se vê na tela grande. O verde profundo do campo contrastava com os tons delicados das flores, criando uma paisagem de tirar o fôlego. Laura, ao meu lado, parecia tão encantada quanto eu.

Laura observava tudo em silêncio, encantada com aquelas flores que desafiavam as tempestades e o frio. Eu conseguia ver o brilho nos olhos dela enquanto admirava cada detalhe do campo. Estávamos deitados numa toalha quadriculada, daquelas que parecem saídas de uma foto antiga. Ela tinha a cabeça apoiada no meu peito, e eu acariciava seus cabelos, sentindo a suavidade de cada fio enquanto olhava pro céu, onde as nuvens brancas passavam devagar.

O silêncio era confortável, muito diferente do caos de qualquer outro lugar. Ela suspirou e disse, como se fosse um segredo:

"Eu nunca pensei que poderia gostar tanto de viver em meio à natureza... esse silêncio... é quase mágico, longe da correria da cidade grande."

A voz dela era tranquila, mas carregada de significado. Beijei o topo da cabeça dela e sorri, provocando:

"Me conta mais sobre como era sua vida em Seattle."

Ela suspirou de novo, mas dessa vez parecia mais tensa. Na hora, percebi que tinha cutucado em algo sensível.

"Mas só se você quiser falar, tá bom?" acrescentei, tentando aliviar.

Laura levantou a cabeça e me olhou com um sorriso que misturava tristeza e aceitação.

"Tá tudo bem..." Ela voltou a deitar a cabeça no meu peito, e eu continuei acariciando seus cabelos, deixando o clima leve pra ela se abrir.

"Minha vida em Seattle era uma loucura... sempre correndo pra eventos cheios de gente superficial, preocupada só com o quanto ia ganhar ou qual porcaria ia comprar só pra se exibir." O tom de desprezo na voz dela me surpreendeu.

Eu congelei por um segundo, minha mão parando de mexer no cabelo dela. Nunca tinha imaginado que a vida dela fosse tão cheia de ostentação. Era um mundo tão diferente do meu. Eu tinha a fazenda, a simplicidade. E, porra, será que meu mundo seria suficiente pra ela?

Ela percebeu minha tensão, levantou a cabeça de novo e me olhou com preocupação.

"Tá tudo bem?" perguntou, suave.

Eu assenti, mas por dentro, a porra da dúvida me corroía.

"Laura... sua família... eles são ricos, milionários ou algo assim?"

Ela riu, mas foi uma risada amarga, inesperada. Algo naquela risada me fez perceber que tinha muito mais ali. Depois de uns segundos, ela parou de rir, deitou de novo e ficou olhando pro céu.

"Já foram..." Ela disse, mais séria agora. "Mas meu pai faliu. Perdemos tudo. E minha mãe... bem, ela nunca aceitou isso. Na cabeça dela, ainda somos a família rica de antes. Ela vive de aparências, criando dívidas que não pode pagar."

As palavras dela me acertaram em cheio. Nunca imaginei que ela estivesse carregando esse fardo. Laura sempre parecia tão forte, tão dona de si. Olhei pra ela, tentando processar, e perguntei com cuidado:

"E seu pai? Como ele lidou com tudo isso?"

Ela virou o rosto pra mim, nossos olhares se encontraram, e vi a dor nos olhos dela antes que soltasse um longo suspiro.

"Meu pai... nunca mais foi o mesmo desde que perdeu tudo. Antes, mesmo viajando o tempo todo, ele sempre dava um jeito de ser carinhoso comigo e com meu irmão, Pool. Agora... é como se ele tivesse desistido de tudo."

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora