7 - Entre o Desejo e a Razão

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A manhã estava esquisitamente silenciosa quando acordei. O peso da noite anterior ainda pesava na minha cabeça, como um filme rodando sem parar. Eu tentava afastar a imagem de Laura na cozinha, lambendo aquela maldita colher de sorvete, mas, claro, não conseguia. Era como se meu cérebro tivesse tirado uma foto em alta definição só pra me torturar.

Saí do quarto, tentando me recompor, e assim que fechei a porta, ouvi outro clique suave. Meu coração deu um salto, e eu sabia exatamente quem era. Laura. Ótimo... era só o que faltava.

Ela também estava saindo do quarto, e eu já sentia aquele formigamento irritante no corpo todo. Me forcei a não olhar, a não pensar nela, mas o som dos passos dela atrás de mim era suficiente pra fazer meu coração bater mais rápido. Cada passo dela parecia cronometrado pra me ferrar mais. E claro, a lembrança dela molhada pela chuva, com aquele cabelo grudado no rosto e lambendo a colher... Droga, para com isso, Daniel! Eu precisava sair dali antes que fizesse alguma besteira.

Quando cheguei à cozinha, estava quase sem fôlego, como se tivesse corrido uma maratona. Joana já estava preparando tudo, e me olhou com aquele olhar de quem sabe que algo tá errado.

" Daniel, você está bem?"

"Tô... tô bem," resmunguei, puxando uma cadeira e me jogando nela como se fosse um náufrago agarrando uma boia. A verdade é que eu tava longe de estar bem. Pelo amor de Deus, eu não consigo nem respirar perto dela sem entrar em colapso.

Antes que eu pudesse me recompor, quem entra na cozinha? Laura. É claro. Ela entrou e me deu aquele bom dia suave, casual, mas eu senti como se tivesse levado um soco. Eu murmurei um "bom dia" sem nem levantar a cabeça, porque sabia que se olhasse diretamente pra ela, eu estaria ferrado.

Mas não pude evitar secar ela de relance. E foi aí que a porra ficou séria. Porra, e essa calça apertada? Quem inventou isso? Como que alguém acha que é justo? A calça dela tava praticamente moldada no corpo, e tudo que eu conseguia pensar era: Você precisa transar, cara. URGENTE. Porque não é normal um homem ficar desse jeito por causa de uma calça jeans.

Tentando me distrair da calça – e de todo o resto – perguntei a Joana:

" E minha irmã?"

"Ainda está dormindo, Daniel. É sábado." Respondeu ela, sem nem perceber o caos emocional que eu tava vivendo.

Beleza, é sábado, mas eu tô aqui, tendo um colapso existencial porque a Laura resolveu usar calças jeans coladas e lamber colheres de sorvete como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu precisava urgentemente achar uma desculpa pra justificar o que tava acontecendo comigo. Fazia tempo que eu não transava, só podia ser isso. Tá aí, é só isso. Tô agindo assim porque faz séculos que não rola nada. Só preciso dar um jeito nisso, e pronto.

Então, Laura quebrou o silêncio, com aquela voz calma e tranquila que me acertou como um raio.

"Daniel, tá tudo bem com você?"

Ela puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado, antes que eu pudesse evitar, sua mão tocou meu braço. Merda. Agora fodeu de vez. Foi como se ela tivesse me dado um choque. Minha pele começou a formigar, e claro, fiz a única coisa que um idiota faria: recuei como se tivesse levado uma descarga de verdade.

"Eu tô bem!" respondi, só que minha voz saiu alta demais e ríspida, o que fez ela arregalar os olhos, surpresa. O toque dela ainda queimava no meu braço, e eu me odiava por ter reagido daquele jeito. Ótimo, Daniel, excelente trabalho. Agora ela deve estar pensando que você é um completo babaca.

O silêncio que se seguiu foi insuportável. Eu queria me enfiar num buraco e nunca mais sair.

Amélia, sentada do outro lado da mesa, deu um sorriso satisfeito que me irritou ainda mais. Claro, ela adorava esse tipo de tensão. Eu sabia.

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora