Tempestades de Corações: Amores Improváveis

46- O medo da verdade

LAURA

Fiquei parada, observando o jeep de Daniel sumir na esquina, tentando segurar o sorriso forçado que havia mantido no rosto enquanto ele me olhava. Mas, assim que o carro desapareceu completamente, todo o peso que eu carregava no peito veio à tona, como se uma represa tivesse rompido. O sorriso desfez-se lentamente, dando lugar à tensão que eu escondia desde que Lukas entrou em contato mais cedo.

Meu coração disparava, e minhas mãos tremiam levemente. Lukas havia descoberto sobre o pedido de casamento de Daniel. Como ele soube, eu não fazia ideia, mas sua reação ao telefone foi um misto de fúria e ameaças. Ele não aceitava que eu tivesse escolhido Daniel, e me lembrou de nosso acordo feito há um ano, aquele que envolvia o pagamento de todas as dívidas da minha família. A sensação de estar sendo comprada voltou com força, e o pânico crescia em mim. Mesmo assim, disse a ele com toda a firmeza que pude reunir que jamais me casaria com ele. Não com Daniel ao meu lado.

Mas, por dentro, a verdade era bem diferente. Eu temia Lukas. Temia o que ele poderia fazer, tanto comigo quanto com Daniel ou minha família. E agora o fato de Lukas conhecer Daniel pessoalmente só fazia com que esse medo crescesse. Se Daniel soubesse de tudo... eu não sabia se ele seria capaz de entender, e isso me apavorava.

Respirei fundo, tentando segurar as lágrimas e a ansiedade que teimavam em me consumir. Eu precisava falar com meu tio Albert. Ele sempre tinha uma perspectiva clara das coisas e, talvez, pudesse me ajudar a descobrir como contar tudo a Daniel. Comecei a caminhar em direção à clínica de Albert, tentando acalmar minha mente.

Quando cheguei diante das grandes portas de vidro da clínica, parei por um segundo e respirei fundo, buscando alguma serenidade. Empurrei as portas, sendo recebida pelo ar frio do ar-condicionado. Aquela lufada de ar gelado contra minha pele me trouxe um breve momento de clareza.

" Oi, Kessy" acenei para a recepcionista, tentando forçar um sorriso natural.

" Laura! Que bom ver você de volta" ela respondeu, sempre com seu tom simpático e acolhedor.

" O tio Albert está no consultório?"  perguntei, tentando não demonstrar a urgência no meu tom.

Kessy balançou a cabeça, ainda sorrindo.

" Não, ele foi para o apartamento dele tomar um café com Pool e Márcia."

Assenti, um tanto aliviada, mas minha mente ainda fervilhava.

" Obrigada, Kessy."

Me despedi rapidamente e saí da clínica, contornando o prédio. O caminho até o apartamento do meu tio era curto, mas cada passo parecia ecoar as dúvidas e medos que rondavam minha cabeça. Quando já estava perto do destino, uma cena me fez parar abruptamente.

Pool estava ali, segurando o braço de Márcia, sussurrando algo em seu ouvido. Meus olhos se estreitaram, e uma onda de preocupação e irritação tomou conta de mim. Apressei o passo, o coração acelerado, e antes que eu pudesse me conter, minha voz saiu carregada de desconfiança.

" O que está acontecendo aqui?"

Os dois se separaram num pulo, como se tivessem sido pegos em flagrante. Pool tentou disfarçar, limpando a garganta, enquanto Márcia parecia desconcertada, sem saber para onde olhar.

" Não é nada, Laura" Pool começou, tentando parecer calmo. " Só estava dizendo pra Márcia ir pro carro. Vou só pegar minha bolsa no apartamento do tio Albert, e já vamos pra fazenda."

Meu olhar oscilou entre os dois, tentando captar qualquer detalhe que entregasse a verdade. Márcia parecia desconfortável, e isso só aumentava minha desconfiança. Eu sabia que Daniel não aceitaria, nem por um segundo, ver sua irmã mais nova envolvida com um homem mais velho, ainda mais Pool.