1- Tempestade

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DANIEL

Eu sempre soube que a fazenda Encanto era mais do que apenas terra e gado. Era meu porto seguro, meu lar, onde cada folha de grama carregava histórias antigas. Mas naquele dia, ao cruzar o portão de entrada e avistar o céu escurecendo com uma tempestade iminente, senti que algo estava diferente. Havia um peso no ar que me apertava o peito, uma sensação de que nem tudo estava sob meu controle.

Assim que estacionei o jeep em frente à casa principal, mal tive tempo de desligar o motor antes de sentir o impacto de um abraço que quase me tirou o ar.

''Daniel!'' Exclamou minha irmã, Márcia, apertando-me com tanta força que me fez sorrir. Seu abraço era sempre um lembrete de que, independentemente de qualquer coisa, eu tinha uma parte de casa viva e esperando por mim.

''Que bom te ver, Márcia.''  Murmurei, afagando seus cabelos enquanto ela ainda me segurava.

Ela se afastou, mas seus olhos continuavam fixos nos meus, carregados de preocupação.

''Como está nossa tia Margaret?'' Sua voz estava suave, quase temerosa da resposta. '' Você ficou tanto tempo em Seattle...''

Soltei um suspiro pesado, sensação o cansaço da viagem e o peso das semanas ao lado de uma tia que parecia definir a cada dia. Pensei em mentir, dizer que tudo tinha corrido bem, mas, na verdade, foi bem difícil por um tempo. No entanto, Márcia sempre conseguiu ver a verdade por trás dos meus olhos.

"Ela está bem," disse, enfim, em um tom baixo, mas com um rompimento evidente. "Foi uma batalha difícil, mas ela aguentou firme."

Márcia apertou minha mão, oferecendo aquele tipo de consolo silencioso que só irmãos sabem dar. No entanto, logo mudou de assunto, indo para outro tema doloroso.

"E Katherine? Ouvi falar do acidente... ela está bem?"

Katherine. Só de ouvir seu nome, senti um aperto no peito. A imagem do carro amassado e o rosto dela ferido passaram pela minha mente como um raio.

''Ela... vai superar.''  Respondi, tentando manter a voz firme.  ''Katherine é mais forte do que parece. Vai demorar, mas ela vai se recuperar.''

Márcia assentiu, mas eu sabia que aquela preocupação não a deixaria tão cedo. Havia algo em Katherine que sempre despertava o cuidado em todos nós, mesmo quando ela insistia que não precisava de ajuda.

Antes que pudéssemos continuar a conversa, José, o caseiro, apareceu correndo em nossa direção, com o rosto franzido pela urgência e a mão segurando o chapéu como se estivesse prestes a ser levado pelo vento.

''Patrão!'' Ele me chamou, a voz rouca de preocupação.  ''Ainda bem que chegou! Esmeralda tá com problemas, dores de parto. Tá ruim, patrão, e o veterinário do povoado não tá por aqui.''

Um frio percorreu minha espinha ao ouvir o nome de Esmeralda. Ela não era só uma égua. Ela era parte da história da fazenda, uma amiga fiel. E a ideia de perdê-la me deixava inquieto.

''Como assim o veterinário não tá?'' Perguntei, a tensão crescendo na minha voz enquanto o vento começava a ganhar força ao nosso redor.

''Ele viajou, mas tavam mandando outro veterinário de Seattle.'' José respondeu, olhando para o céu, que agora estava quase totalmente coberto de nuvens negras, prenunciando a tempestade que se aproximava. ''Mas a tempestade tá chegando rápido, e o outro ainda não apareceu.''

Minha cabeça girava com mil preocupações ao mesmo tempo. Eu precisava ver Esmeralda. Sem perder mais um segundo, corri em direção aos estábulos, sentindo o vento forte bater contra meu corpo e os primeiros pingos de chuva caírem pesadamente sobre mim. Aquele som de trovões distantes parecia anunciar que tudo estava prestes a desabar.

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora