36- O Silêncio da Ausência

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A estrada de chão batido se estendia à minha frente, iluminada apenas pelos faróis do jeep. As árvores passavam em borrões, mas minha cabeça estava a mil. A conversa com Albert martelava na minha mente. Laura tinha ido embora, mas agora eu entendia o porquê. E, porra, eu não sabia como processar aquilo.

Enquanto dirigia de volta pra fazenda, o silêncio dentro do carro era sufocante, contrastando com o turbilhão de pensamentos que rodavam na minha cabeça. Albert me disse que logo depois de chegar ao povoado, Laura recebeu uma ligação do irmão, Pool. A notícia foi um soco no estômago: o pai dela, Robert, tinha tentado se matar.

As palavras de Albert ainda ecoavam nos meus ouvidos.

"Daniel, o pai dela está mal. Tentou se matar."

Eu lembro de congelar, o sangue gelando nas veias. Caralho. Sabia que o pai dela estava passando por um momento difícil, mas ouvir isso assim? Puta merda. Na hora tudo fez sentido. O jeito dela, a pressa de sair, a decisão de não se despedir. Ela não estava fugindo de mim, estava indo socorrer o pai.

Apertei o volante com força, os dedos brancos de tanto apertar. O som do motor do jipe era tudo que eu ouvia enquanto minha cabeça explodia de perguntas.

"Como ela tá? Como ela tá lidando com essa porra toda sozinha?" Murmurei, irritado comigo mesmo, com a situação, com o mundo. Eu deveria estar lá com ela, porra! Deveria estar ao lado dela nesse momento.

Assim que Albert me contou, a primeira coisa que quis fazer foi pegar o meu jeep e ir direto pra Seattle. Mas o velho foi claro.

"Calma, rapaz. Aguarde notícias. Laura precisa de um tempo, e você... precisa esperar."

Porra de esperar! Não era justo! Eu queria agir, fazer alguma coisa. Então insisti.

"Eu tenho que estar com ela, Albert! Não posso ficar aqui, caralho! Ela precisa de mim!"

O velho só suspirou e me encarou com aquele olhar experiente, que me dava nos nervos às vezes, mas que sabia que estava certo.

"Espere pelo menos um dia, Daniel. Laura precisa de espaço agora. Confia. Ela vai te avisar quando puder."

Eu não queria ouvir isso. Queria pegar o jeep, pisar fundo e estar lá com ela. Queria abraçá-la, segurar sua mão e dizer que ia ficar tudo bem, mesmo que eu não tivesse certeza de porra nenhuma. Mas, merda, eu sabia que Albert tinha razão. Ela precisava de espaço, precisava processar tudo isso. E eu? Eu precisava esperar.

Agora, enquanto o jipe sacolejava na estrada vazia, meu cérebro berrava pra eu dar meia-volta e ir atrás dela. Mas sabia que não era o momento. Isso não tornava mais fácil. Na verdade, só tornava tudo uma merda maior. Laura estava enfrentando o inferno, e eu estava aqui, impotente, sem poder fazer nada.

Soltei um suspiro frustrado, encarando a estrada sem fim à minha frente.

"Que inferno, como alguém chega a esse ponto? O que leva uma pessoa a tentar acabar com tudo assim?" Falei em voz alta, minha própria voz soando estranha no silêncio. "Como o pai dela pôde se sentir tão fodido ao ponto de querer morrer?"

A pergunta ficou no ar, sem resposta. E o que me deixava mais louco era imaginar Laura, a mulher forte e decidida que eu conhecia, desmoronando por dentro. Ela devia estar devastada, e eu não estava lá pra segurar sua mão.

Eu queria estar com ela, porra! Queria segurar sua cabeça no meu peito e dizer que tudo ia dar certo, mesmo sem saber se isso era verdade. Mas eu estava aqui, dirigindo no escuro, sozinho, sem poder fazer nada além de remoer cada segundo.

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