28- Sombras do Passado

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O silêncio no carro estava insuportável. Eu mantinha os olhos fixos na estrada à frente, as mãos agarrando o volante com tanta força que meus dedos já estavam ficando brancos. O motor do jipe ainda roncava, mas desligá-lo parecia errado. Não agora. Tudo o que eu queria era acabar logo com essa droga de situação, deixar Samantha em casa e voltar pra minha vida. Pra Laura.

Cada segundo que eu passava ali me fazia sentir como se estivesse traindo Laura. E o pior? Ela nem sabia. Não sabia que Samantha era minha ex-namorada. Não tive coragem de contar. Como eu explicaria? Como dizer que a mulher sentada ao meu lado foi um capítulo que já fechei há muito tempo? Algo que nunca foi amor de verdade, só uma atração passageira que sumiu no ar?

Estacionei o jipe em frente à casa de Samantha, deixando o motor ligado. Minhas mãos ainda estavam no volante, como se eu precisasse daquele controle. Esperava que ela simplesmente descesse do carro e a gente acabasse logo com isso. Mas o tempo passou e nada. A tensão no ar era sufocante, e eu sentia o olhar dela cravado em mim.

Finalmente, me obriguei a olhar para ela. Nossos olhos se encontraram pela primeira vez desde que entramos no carro. Havia algo diferente no olhar dela, uma tristeza que não notei antes. Então, ela quebrou o silêncio.

"Se eu soubesse que um dia você amaria alguém assim..." A voz dela saiu baixa, quase vulnerável. "Eu nunca teria ido embora, Daniel. Eu teria lutado por você."

Aquelas palavras bateram como um soco no estômago. Fiquei em silêncio, ainda segurando o volante, mais confuso do que deveria estar. Por que diabos ela tinha que trazer isso agora? Há um ano, tudo era incerto. E se ela não tivesse ido embora? Talvez... talvez eu pudesse tê-la amado. Mas agora era tarde demais. Meu coração era de Laura. Só de Laura.

Desviei o olhar, focando na estrada à frente. Soltei um suspiro longo e pesado, tentando me livrar daquele peso no peito.

"Samantha... é tarde demais," comecei, tentando ser firme. "Reabrir o passado só vai piorar as coisas."

Ela riu, mas foi um riso amargo, triste.

"Reabrir? Daniel, eu nunca fechei essa droga de capítulo." A voz dela tinha um quê de desespero, algo que me fez sentir ainda mais incomodado.

Desliguei o jipe e me recostei no banco, esfregando o rosto com as mãos. Isso não estava certo. Eu só queria sair dali. Samantha sempre soube como me deixar mal.

"Você sempre mereceu mais, Sam," murmurei, sem coragem de encará-la. "Merecia alguém que pudesse te amar como você merece. Alguém melhor que eu."

Ela suspirou e olhou para frente, o silêncio preenchendo o espaço entre nós. O peso na minha cabeça só aumentava. Eu sabia que precisava terminar logo com aquilo, mas as palavras estavam emperradas.

"E por que você não contou isso pra Laura?" A pergunta dela veio como uma acusação. "Por que não disse que a gente foi mais que amigos?"

Respirei fundo, sentindo o nó na garganta apertar. Não sabia como responder isso sem parecer um idiota.

"Não era o momento... depois da discussão de ontem..." minha voz saiu hesitante. "Eu ia contar."

Samantha assentiu, mas eu via que aquilo não a confortava nem um pouco.

Silêncio de novo. E eu sabia que era o fim da linha. Liguei o jipe mais uma vez, deixando claro que estava na hora de encerrar esse ciclo.

"Eu preciso ir."

Antes que eu pudesse engatar a marcha, senti a mão dela no meu braço. Aquele toque me fez estremecer. Não era certo. Não era o que eu queria.

"Daniel..." A voz dela era suave, quase um pedido de socorro. "Você pode entrar um pouco? Queria te mostrar uma coisa."

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora