4- Conflito

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Ao sair do estábulo, senti o peso das gotas de chuva que começavam a cair, molhando a terra e trazendo aquele cheiro familiar que me acalmava, mas ao mesmo tempo me deixava inquieto. Laura andava ao meu lado em silêncio, e eu não sabia muito bem o que dizer. Algo nela despertava emoções que eu não sabia como lidar. Talvez fosse a forma como ela olhava para Esmeralda, ou o jeito que seu sorriso se abria de maneira tão espontânea, como se tudo ao seu redor ficasse um pouco mais leve.

Enquanto caminhávamos de volta para a casa da fazenda, meus pensamentos giravam em torno dela. Como alguém que eu mal conhecia conseguia mexer tanto comigo? Eu sempre fui prático, focado no que precisava ser feito, mas com Laura... eu simplesmente me perdia.

Quando entramos na cozinha, o cheiro de café fresco misturado com o aroma do pão assando encheu o ambiente, trazendo uma sensação de conforto e calmaria, que eu não sabia que precisava até aquele momento.

Mas a calmaria durou pouco.

"Daniel!" A voz aguda de Amélia ecoou pela cozinha antes que eu pudesse reagir, e, num piscar de olhos, ela estava me abraçando apertado. O choque me pegou de surpresa, e fiquei sem saber exatamente como retribuir sem parecer rude. Amélia era quase como uma irmã para mim, a sobrinha da Joana, que cresceu aqui na fazenda ao lado da Macia. Mas o jeito como ela se agarrou em mim, com uma certa intensidade e proximidade, me deixou desconfortável. Tentei afastá-la gentilmente, sorrindo para disfarçar o incômodo.

Laura estava encostada na porta, observando tudo com um olhar curioso e indecifrável. Ela não disse nada, mas pude ver algo mudando em seus olhos - um brilho de surpresa, talvez até um pouco de avaliação.

"Como está a Esmeralda?" Amélia perguntou, finalmente soltando-me, mas não antes de lançar um olhar rápido para Laura, misturado com uma pontada de curiosidade e, talvez, ciúmes.

Olhei para Laura enquanto respondia, tentando expressar minha sincera gratidão. "Ela está bem, graças à Laura." Mantive meu olhar fixo em Laura, e um sorriso suave, mas verdadeiro, apareceu em seu rosto.

Amélia, percebendo o olhar que trocávamos, não hesitou em se intrometer. "Então, você é a veterinária que vai substituir o velho Albert no povoado?" Sua voz carregava um tom de desdém que imediatamente chamou minha atenção.

Laura, mantendo a compostura, confirmou com um leve aceno de cabeça. "Sim, Albert é meu tio. Ele foi viajar para cuidar da saúde e estou aqui para ajudá-lo durante a sua ausência." Sua resposta foi firme e serena, como se cada palavra estivesse cuidadosamente escolhida para não dar margem a mais perguntas invasivas.

Sentamos à mesa, e Joana começou a servir o café. Me acomodei na cadeira e fiz um gesto para que Laura se juntasse a mim. Depois da noite intensa que tivemos cuidando de Esmeralda, um momento de pausa era bem-vindo.

"Eu não fazia ideia de que o Albert tinha parentes proximos," comecei, tentando iniciar uma conversa para quebrar o gelo. "Ele sempre foi uma figura tão solitária na clínica, nunca imaginei que tivesse família."

Laura, enquanto pegava a xícara de café, respondeu com um sorriso tranquilo. "Sim, meu tio sempre foi mais reservado. Ele prefere a solidão do campo à agitação da cidade. Eu sou uma das poucas pessoas com quem ele mantém contato."

Eu a observei por um momento, impressionado com a forma como ela falava de Albert. A familiaridade e a reverência em sua voz revelavam um vínculo de carinho.

Antes que eu pudesse responder, Amélia interrompeu, sua voz carregada de curiosidade e uma ponta de competição. "E você, Laura? Também gosta de viver perto da natureza?"

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora