31- Sombras e Decisões

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Quando estacionei o jeep em frente à clínica veterinária, o silêncio que tomou conta do carro parecia mais leve do que antes. Laura soltou um suspiro suave enquanto tirava o cinto, como quem finalmente se prepara para enfrentar mais um dia. Eu sabia que ela não via aquele trabalho na clínica como algo definitivo, era apenas uma substituição temporária enquanto o tio dela cuidava da saúde. Mesmo assim, não pude deixar de perceber um certo peso nos seus ombros, algo que parecia além da rotina da clínica.

Laura olhou para mim de relance, com um brilho sutil nos olhos que sempre me deixava intrigado.

" Daniel..."  ela começou, hesitante, enquanto seus dedos ainda pairavam sobre o cinto que acabara de soltar. " Você conhece alguém no povoado que conserte celulares? O meu está..."  Ela parou, um pouco constrangida. " Eu preciso levá-lo depois do trabalho."

A pergunta dela fez minha mente voltar instantaneamente ao dia anterior, quando eu a vi perder o controle. O celular acertando a parede com força depois de uma ligação da sua mãe. O som seco do aparelho se espatifando me tirou o fôlego, mas foi o olhar de dor e frustração nos olhos de Laura que me marcou mais. Nunca soube o que sua mãe havia dito, e por mais que eu quisesse perguntar, temi tocar na ferida.

Eu me lembrei do olhar dela naquele momento... devastada. O que poderia ter sido tão grave a ponto de fazê-la explodir daquela forma? Que tipo de dor ela estava carregando em silêncio?

A voz de Laura me trouxe de volta para o presente, e eu percebi que havia uma vulnerabilidade na forma como ela pediu a minha ajuda.

" Eu conheço alguém que pode dar uma olhada nisso"  respondi, tentando parecer casual, mesmo com o peso do que aquilo significava para mim. Estendi a mão, querendo mais do que apenas ajudar com o celular. " Me dá o aparelho. Eu vou cuidar disso pra você."

Laura me olhou de um jeito diferente, seus olhos brilhando com algo entre gratidão e surpresa. Ela inclinou a cabeça levemente e sorriu, aquele sorriso que sempre me desmontava.

" Sério? Você faria isso por mim?"

Eu sorri de volta, mas, em vez de responder de imediato, me inclinei para frente e peguei sua mão delicadamente. A pele dela era macia sob meus dedos, e enquanto trazia sua mão até meus lábios para um beijo suave, senti a onda de emoção percorrendo meu corpo.

" Claro que sim, Laura. Eu faço qualquer coisa por você."  Minha voz saiu suave, mas era a verdade. Eu faria qualquer coisa por ela.

Ela me olhou de um jeito que fez meu coração disparar. Havia algo nos olhos dela que dizia mais do que palavras poderiam expressar, e antes que eu pudesse reagir, Laura se inclinou para frente, pressionando seus lábios nos meus em um beijo suave, mas carregado de significado. Um beijo que dizia mais do que qualquer agradecimento.

Quando ela se afastou, senti o calor dela ainda em mim, e por um breve momento, tudo parecia simples. Como se o mundo fosse só nós dois, e nada mais importasse.

" Obrigada, Daniel"  ela murmurou, ainda perto o suficiente para que eu sentisse seu hálito contra minha pele. " Deixei o celular no consultório. Vou buscar pra você."

Ela sorriu de um jeito que me fez sentir que, por um momento, todas as preocupações dela haviam desaparecido, mesmo que fosse apenas por alguns segundos. E então, antes que eu pudesse responder, ela abriu a porta do jeep e desceu, o movimento rápido e gracioso.

" Espera aí, Laura."  Minha voz saiu mais alto do que eu esperava enquanto tirava o cinto de segurança e abria a porta. Eu não ia deixá-la entrar sozinha. " Vou entrar com você."

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora