51- O Som do Coração

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Atravesso as portas do hospital com o coração na boca, e meus olhos encontram Márcia na recepção. Ela me vê e, num segundo, vem até mim e me abraça como se quisesse tirar o peso que eu carrego. Mas, por mais que eu precisasse daquele apoio, minha cabeça estava em Laura.

Soltei Márcia com pressa, mal contendo a ansiedade. Precisava ver Laura. Precisava vê-la com meus próprios olhos e ter certeza de que ela estava de alguma forma, bem.

" Me leva até ela, Márcia" falei, minha voz mais grave do que eu esperava.

Ela me olhou com aqueles olhos cansados, de quem segurava o peso de uma preocupação imensa, mas não queria que eu visse.

" Daniel... Laura está em observação, e está dormindo." Ela colocou a mão no meu ombro, quase que tentando me manter firme. " A viagem até aqui foi um inferno pra ela."

" Mas ela está bem?" perguntei, numa ânsia desesperada.

Ela soltou um suspiro, apertando os lábios antes de responder. Esse silêncio dela me deu um nó no estômago.

" Não, Daniel. Ela... não está bem." Sua voz soou contida, com cuidado. Não só por quase perder o bebê, mas também... pelo que aconteceu entre vocês."

Senti um soco na consciência. Cada palavra era uma facada de culpa. Se eu tivesse sido menos teimoso... se eu soubesse que ela estava grávida... mas não, fui um idiota. Eu a deixei desse jeito. Passei a mão na cabeça, tentando aliviar a pressão, mas nada diminuía a sensação de ser o maior culpado disso tudo.

" Por favor, me leva até ela, Márcia. Eu preciso ver a Laura... dizer a ela que está tudo bem." Minha voz já estava mais baixa, mas a urgência transbordava.

Márcia assentiu e começou a caminhar na minha frente. Fomos pelos corredores, e eu tentava não deixar minha cabeça desmoronar antes de vê-la. Paramos em frente a uma porta, e Márcia, já meio esgotada, deu um meio sorriso.

" Vou sair pra comprar um café. Preciso de algo pra manter os olhos abertos."

Assenti, tentando manter a calma, e esperei ela sair antes de abrir a porta. Entro no quarto, tentando controlar o turbilhão de emoções que bagunça minha cabeça, e dou de cara com Pool. Ele está sentado numa poltrona ao lado da cama de Laura, com uma expressão cansada e uma certa tensão nos ombros. Ele levanta a cabeça quando me vê e acena em silêncio, como quem entende o que estou passando. Respondo com um aceno mínimo, mas minha atenção já está totalmente voltada para ela.

Laura está ali, deitada, frágil e pálida como eu nunca vi. Meu coração aperta como se tivesse levado um soco; não consigo evitar me sentir culpado, mesmo que eu não soubesse de tudo que estava acontecendo. Me aproximo dela em silêncio, com cuidado para não acordá-la, e ao ver o rosto dela tão vulnerável naquele lençol branco de hospital, quase perco o ar.

Porra, Laura. Como deixamos as coisas chegarem a esse ponto.

Com a voz baixa, me viro para Pool, querendo entender o que realmente está acontecendo.

" Como ela está?" pergunto, tentando soar calmo, mas a ansiedade está estampada na minha cara.

Ele olha para Laura, suspira e me responde com um peso na voz.

" Está um pouco melhor. Os médicos decidiram deixá-la em observação por mais algumas horas." Ele faz uma pausa, me encarando. " Estamos esperando o obstetra para fazer o ultrassom e garantir que o bebê está bem."

Assinto, apertando os lábios, tentando absorver tudo aquilo. Preciso ter calma. Mas só de imaginar o que ela passou sozinha, sem eu estar lá... droga, não sei como consegui ser tão cabeça dura. Laura não merecia isso.

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora