Amanheceu, mas o sol não trouxe o alívio que eu esperava. O céu cinza ameaçava desabar a qualquer momento, e eu já estava de pé, sem ter conseguido pregar os olhos direito. A noite havia sido longa e cheia de pensamentos que não me deixavam em paz. O destino de Esmeralda me consumia, mas, estranhamente, não era só isso. A presença de Laura mexia comigo de um jeito que eu não conseguia entender.
Vesti minhas roupas típicas de trabalho, jeans desgastados e minha camisa de flanela favorita, aquela que já tinha visto mais chuvas e dias duros do que eu gostaria de admitir. O cheiro da terra úmida e o som distante do trovão me faziam lembrar que a tempestade estava longe de acabar - dentro e fora de mim.
Assim que entrei na cozinha, o aroma do café fresco me envolveu, e lá estava Joana, movimentando-se com destreza entre o fogão e a bancada, como fazia desde que eu me entendia por gente. Ao me ver, ela largou o que estava fazendo, abrindo um sorriso caloroso que carregava o conforto de anos de cuidado e presença.
"Daniel, meu filho!" exclamou Joana, estendendo os braços para mim com uma ternura que só ela conseguia transmitir. Ela sempre foi mais do que uma cuidadora; desde a perda dos meus pais, Joana assumiu um papel de mãe para mim e minha irmã. Seu abraço sempre foi o lugar onde eu encontrava um pouco de paz, mesmo nos dias mais difíceis.
Apertei-a contra mim, sentindo a familiaridade daquele gesto que acalmava meu coração agitado, nem que fosse por um instante.
"Estava com saudade desse seu abraço, Joana," murmurei, tentando segurar a emoção que teimava em aparecer.
"E eu de você, meu querido." Ela olhou nos meus olhos, a expressão mesclando carinho e preocupação. "Como você está, Daniel? E sua tia Margareth?"
"Ela está bem, se recuperando," respondi, sentindo um peso sair do meu peito ao falar. "Foi um susto, mas já está se alimentando melhor e fazendo as fisioterapias."
Joana sorriu, aliviada. "Isso é ótimo de ouvir! A Margareth sempre foi tão forte. Você a conhece bem, né? A cabeça dela é de ferro!"
"Com certeza," ri um pouco, lembrando de como minha tia nunca se deixava abalar por nada. "Mas, você sabe, ela não é muito boa em pedir ajuda. Sempre acha que pode dar conta de tudo sozinha."
"É difícil para algumas pessoas aceitarem que precisam de apoio," disse Joana, com um olhar compreensivo. "Mas você estava lá por ela, e isso foi importante."
"Eu sei, Joana." respondi, apreciando a sabedoria dela. "Às vezes, é só que a preocupação toma conta."
"Isso é normal, Daniel. Você carrega muito nas costas. Mas lembre-se de que não está sozinho. Estou aqui, sempre estarei."
Agradeci com um sorriso, sentindo uma onda de gratidão por ter Joana ao meu lado. Conversar com ela sempre me trazia um pouco de conforto, e sabia que, apesar das dificuldades, eu ainda tinha pessoas que se preocupavam comigo.
Senti o peso da noite mal dormida, das preocupações com Esmeralda, e, claro, da inesperada presença de Laura.
Aquele breve momento com Joana era como um bálsamo para a alma, um lembrete de que, apesar de tudo, algumas coisas nunca mudavam.
Ela me soltou e voltou para o fogão, mas o olhar atento de Joana continuava fixo em mim, cheio de uma preocupação silenciosa. Era como se ela enxergasse além da minha fachada, percebendo as mudanças que nem eu conseguia explicar.
''Você viu se minha hóspede já acordou?'' Perguntei, tentando soar casual, mas sentindo o coração acelerar de leve.
Joana franziu a testa por um instante, mas logo um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
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Tempestades de Corações: Amores Improváveis
RomanceNa vasta fazenda Encanto, Daniel Jackson, um fazendeiro de 35 anos, leva uma vida tranquila e dedicada ao trabalho, cuidando de sua irmã mais nova desde a morte de seus pais. Ele é um homem de rotinas simples, apegado à terra e ao isolamento do camp...