10- O Peso das Escolhas

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A manhã seguinte chegou mais cedo do que eu gostaria, o som dos pássaros lá fora contrastando com o caos que ainda reverberava dentro de mim. A cama parecia um campo de batalha, e eu era o único soldado caído. As memórias do dia anterior me perseguiam como um espectro, especialmente aquele último olhar de Laura antes de entrar na casa.

Ainda deitado, fechei os olhos e respirei fundo. Não estava pronto para encará-la de novo. Não depois do que aconteceu no jipe. Não depois do jeito que eu a desejei e a afastei ao mesmo tempo. Meu corpo a queria, mas minha cabeça... Ah, minha cabeça estava um verdadeiro inferno.

Levantei-me com esforço, evitando olhar para o espelho. A última coisa que queria era ver o reflexo de um homem perdido, de alguém que já não sabia como lidar com o que sentia. Não desci para o café. Sabia que Laura estaria lá, e a última coisa que eu queria era cruzar com ela. Passei direto, peguei as chaves da oficina e fui em direção ao único lugar onde eu poderia encontrar algum tipo de paz: o carro dela.

A oficina era o refúgio perfeito para me esconder de mim mesmo. O cheiro de óleo e metal, as ferramentas espalhadas pelo chão, e o carro de Laura parado ali, esperando que eu fizesse o que prometi: consertá-lo. Cada parte mecânica daquele carro era uma desculpa para eu evitar pensar no que realmente importava.

Comecei a trabalhar, ajustando as peças, apertando parafusos, mas minha cabeça estava longe. Cada vez que tentava me concentrar, a imagem de Laura vinha à tona. Seu rosto molhado pela chuva, o jeito como ela olhou para mim, vulnerável e forte ao mesmo tempo, quando a conheci. Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Precisava terminar o trabalho.

De repente, senti algo quente e suave perto do meu ouvido, uma voz feminina sussurrando baixo:

'' Daniel...''

O susto foi imediato, meu corpo reagindo antes que eu pudesse raciocinar. Levantei a cabeça rapidamente e bati com tudo no capô do carro. A dor explodiu como uma onda, irradiando pela minha testa até meu pescoço.

'' Merda!'' gritei, virando-me com a mão na cabeça, tentando aliviar a dor pulsante.

E lá estava Amélia, com aquele sorriso cínico no rosto, como se não tivesse feito nada de errado. Olhei para ela com raiva, tentando me conter, mas o incômodo da pancada somado ao tumulto na minha cabeça não ajudava.

'' Amélia, pelo amor de Deus!'' rugi, a dor tornando minha voz ainda mais áspera. '' O que você acha que está fazendo?''

Ela fez uma cara de inocente, os olhos brilhando com uma falsa surpresa.

'' Eu só queria ver se você estava bem...'' Ela levantou uma cesta de frutas, como se aquilo justificasse o susto que tinha acabado de me dar. '' E trouxe isso. Sei que você ainda não comeu nada.''

Eu massageava minha cabeça, tentando dissipar a dor enquanto olhava para a cesta. A preocupação dela parecia genuína, o que me desarmou um pouco. Respirei fundo e tentei me acalmar. Amélia sempre foi meio provocativa, mas nesse momento, eu não tinha paciência para lidar com isso.

'' Desculpa...'' Murmurei, suavizando o tom. Não devia ter gritado com você. Só me pegou de surpresa.

Amélia sorriu como se não tivesse ouvido minha irritação anterior, sentando-se ao meu lado enquanto eu pegava uma maçã da cesta. Estava muito próxima, sua presença me incomodava de uma maneira que eu não conseguia definir. Talvez fosse porque eu sabia o que ela queria. Amélia sempre fez questão de mostrar que estava interessada, mas eu nunca a vi dessa forma. Não agora. Não com Laura na minha cabeça.

Enquanto eu mordia a maçã, ela se aproximou ainda mais, o braço tocando o meu. Minha mente gritava que aquilo estava errado. Eu não queria que Amélia estivesse ali, mas como dizer isso sem ser rude?

Tempestades de Corações: Amores Improváveis Onde histórias criam vida. Descubra agora