Tader e Miya

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Caminhei com passos incertos até o acampamento. Entretanto, no trajeto percebi que Burdealdea e Hualca me seguiam. Imediatamente, parei e tentei convencê-los a me deixarem sozinho. No entanto, eles estavam decididos a me acompanhar e nada os demoveria. Tive de aceitar a companhia deles na minha jornada rumo ao desconhecido, mas relutei em aceita-los junto a mim. Porquanto, eu poderia estar indo atrás da glória indizível de abrandar ou derrotar um ser das trevas como eu poderia estar caminhando para minha morte. Eu temia que além de assistirem à minha morte, eles fossem assassinados.

Com o coração sufocado, continuei minha jornada até o acampamento acompanhado de Burdealdea e de Hualca. Entretanto, minha viagem foi interrompida mais uma vez ao encontramos dois desconhecidos de pele queimada pelo sol. Provavelmente, eles vieram dos desertos de Aima, onde o sol sempre foi impiedoso e marcava os filhos dessa terra árida através da sede e da vermelhidão da pele.

Estranhei viajantes da distante Aima naquelas paragens e esperei que eles chegassem mais perto de mim e de quem me acompanhava. Geralmente, quando alguém de Aima viajava para Dai, essa pessoa ficava em Danji, não era muito comum se aventurarem pelo interior de Dai e muito menos pela terra dos rejeitados. Certamente, eles deveriam ter ótimos motivos para estar onde estavam.

Quando chegaram mais perto de mim, vi que se tratava de um casal. Deixei-os se aproximar mais de nós e depois lhes indaguei o motivo de estarem ali. O rapaz me contou que estava indo para Danji a fim de impedir que a sua irmã fizesse alguma loucura. Ao ouvir isso, fiquei alarmado e lhe perguntei o que a sua irmã planejava fazer.

O jovem estrangeiro me respondeu que, infelizmente, não era exatamente um plano. Porquanto, a irmã dele não tinha sanidade para tanto, ela aparentemente ouvia vozes e as obedecia. Ele afirmou que a irmã dele se chamava Gaia, tinha poder de controlar e apodrecer o sangue dentro das pessoas e conseguia controlar a água.

Ao falar sobre Gaia, os olhos do casal de filhos de Aima marejavam e se perdiam no tempo. Parecia que as trevas dela lhes roubaram algo ou alguém importante, isso lhes causava grande luto. Em virtude de tanta tristeza, o rapaz perdeu a voz.

Depois, o desconhecido que me falava recuperou a voz e descreveu a voz que insistia em não deixar a irmã deles em paz: ela era referida com Niana e era altamente perigosa, pois ela conseguia controlar a mente da Gaia.

Segundo, a Gaia, Niana era capaz de invadir sonhos e durante essa invasão ela poderia capturar e matar seus adversários. Além de tudo isso, ela também conseguia controlar as chamas, mas pouco se utilizava delas.

Niana me lembrou da funesta dama, a qual tanto mal causou a mim. Comecei a suspeitar que a sombria entidade que tentou me matar e a voz que conseguiu capturar a mente de Gaia poderia ser Niana. Para confirmar minha teoria, indaguei ao estrangeiro sobre a aparência da invasora de sonhos e ele descreveu exatamente a assombrosa soberana que me afligia.

Finalmente, perguntei ao filho de Aima sobre o motivo pelo qual a alma de Gaia se entregou às trevas de Niana. No entanto, o rapaz afirmou que Niana era apenas uma voz na cabeça de Gaia, Niana não existia, talvez fosse apenas uma desculpa para Gaia cometer as piores atrocidades sem sentir culpada.

O jovem percebeu meu interesse por ela e me perguntou o motivo disso. Sem meias palavras, contei-lhe o que aconteceu comigo e com quem eu amava. O rapaz me disse que havia grandes chances de Niana ser mais do que uma voz na cabeça da irmã dele e se isso fosse importante o suficiente para mim, talvez eu pudesse ajuda-los a derrotá-la. Certamente, ela não gastaria seu tempo com alguém que não lhe fosse importante de algum modo. Quiçá, eu fosse um potencial aliado ou estivesse ameaçando os planos dela, esta última suposição era a mais possível.

Partindo do pressuposto no qual ela estaria interessada em dominar Dai, eu poderia ser um empecilho e por isso ela tentou me matar. Entretanto, ela falhou e acabou por despejar parte de sua ira em quem eu gostava, ela poderia ter atacado Pemi e Tla.

Com as explicações do estrangeiro, tudo o que havia ocorrido comigo passou a ter mais sentido. Decerto, existia a possibilidade de eu ser um obstáculo para a realização do sonho de dominação de Niana. Talvez, ela tenha se perdido por causa de tanto almejar o poder. Vários se perdem dessa forma, inclusive a ambição desmedida foi a responsável pela separação entre eu e Malotl. Durante minha vida, percebi que o poder é apenas um nome bonito para muitos atos de crueldade e eu o abominava, pois ele tirou-me muitos entes queridos.

Nesse instante, senti saudades de Malotl e da época na qual éramos amigos. Meu sonho era ser seu irmão e companheiro por séculos, porém isso não se concretizou. Foram apenas promessas e estas foram quebradas da pior maneira. Se houve amizade, ela morreu e não pude me despedir dela.

Todavia, não era a nostalgia dos velhos tempos a responsável pelo frio glacial que eu sentia em minha alma. Na verdade, sentir o fim próximo de um amigo me causava calafrios, apesar de sua traição. Ele havia me trocado por poder, mas eu ainda me importava com Malotl. No fundo, eu sabia que, no final das contas, Malotl pereceria traiçoeiramente, isso se a sua alma já não tivesse morrido.

O meu maior medo era acordar no dia em que Niana e Gaia tirariam a vida de meu ingrato amigo, eu temia perdê-lo dessa forma. Afinal, Gaia estava indo para Danji, isso se ela já não estivesse lá e eu não sabia o que Niana disse para ela, vai que essa voz maléfica mandou Gaia acabar com Malotl.

Tive vontade de chorar por Malotl, mas não como aquele amigo que sente saudades e sim como aquele que antevê seu funeral. Entretanto, guardei minhas lágrimas e indaguei ao filho de Aima quem ele era para saber tanto daquelas feiticeiras.

O rapaz me disse que se chamava Tader e que conhecia apenas Gaia, ele nem sabia se Niana era real, mas o que Niana dizia para Gaia tinha consequências reais e catastróficas. Infelizmente, Gaia era sua irmã assim como a garota ruiva que o acompanhava, esta última se chamava Miya. A garota dos cabelos em chamas tinha esse nome, porque era muito bela e delicada desde o dia no qual veio ao mundo.

Apresentei-me a Tader. Depois de ficar calado o diálogo inteiro, Hualca falou quem ele era e propôs que Tader e Miya se juntassem a nós na nossa jornada para invocar Niana no acampamento abandonado.

Meu irmão falava como se fizesse a proposta mais normal e segura possível. Decerto, Tader se espantou com o convite de Hualca e afirmou que isso era a maior loucura que poderíamos fazer, pois se Niana existisse, ela não deveria ser coisa boa. Hualca sorriu e falou as seguintes palavras: quem sempre fez a história se mover foram os loucos.

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