A poderosa dama

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Aqueles que se aventuraram no mar de Danji acreditavam que uma terra paradisíaca os esperaria se eles fossem capazes de resistir à fúria do oceano. O destino desses desesperados sonhadores é desconhecido. Entretanto, até os dias atuais existe um grupo de mulheres que rezam todas as noites por quem se perdeu no mar e elas são conhecidas como as damas afogadas. Geralmente, essas devotas foram abandonadas por seus entes queridos que embarcaram nas balsas e nunca mais retornaram.

Eu estava desconcertado, pois eu também era um tipo de dama afogada: todas as noites eu me lembrava que eu sofri alguns abandonos durante toda a minha vida, mas rezava sempre que possível por aqueles que me deixaram... Talvez em uma tola fé de que eles iriam voltar para mim.

Quando acreditava que somente eu estava desperto, fui para fora do acampamento e me deparei com Burdealdea . A princesa dos ventos estava meditando e levitando. Enquanto flutuava, ela parecia ser de um mundo no qual as pessoas não tocam o chão. Pensei que a jovem dos olhos de safira não tinha percebido minha presença, porque vi seus olhos cerrados. Tentei ser o mais silencioso possível a fim de não ser notado. No entanto, a filha do vale dos abandonados me percebeu e me indagou para onde eu iria. Assustei-me com a beldade e fiquei quieto.

De repente, ela abriu seus olhos, estes estavam completamente brancos e brilhavam como duas estrelas. Em choque, permaneci quieto de pavor e a filha do Lua me contou que conseguia ver o que eu não era capaz de enxergar. Rapidamente, a curiosidade tomou o lugar do receio e perguntei à garota dos olhos galácticos se ela poderia me contar qual seria meu futuro. Então, ela afirmou que meu destino seria a mais bela tragédia já vivida e não mentiu quanto me disse isso.

Indaguei à Burdealdea se ela tinha conhecimento do que eu faria e ela disse que estava ciente disso, o fato dela ser filha do deus Lua lhe concedera o dom de prever o futuro enquanto meditasse durante a noite. Entretanto, a princesa dos ventos não me condenou mesmo conhecendo meus prováveis desatinos e se limitou a fazer a seguinte afirmação: eu não estava construindo apenas meu futuro, quando fizesse minha escolha, eu traçaria o destino da humanidade, porém as pessoas que eu amava não seriam poupadas de seus próprios sacrifícios.

O temor voltou a tomar conta de minha alma e dessa vez fugi correndo da sinistra vidente, mas eu não queria deixar Burdealdea para trás. Na realidade, meu desejo era escapar do mau agouro profetizado por ela. No entanto, isso não era possível. Por fim, resolvi correr até algum lugar com o intuito de tentar me comunicar com a deusa da morte para entender melhor a situação na qual eu estava mergulhado.

Andei tanto que cheguei a um vilarejo fantasma e o adentrei. Receoso, caminhei até uma praça abandonada e fiquei paralisado, pois lembranças que não me pertenciam me assaltaram. Recordei-me das crianças que brincavam naquele largo há séculos, elas estavam mais vivas do que eu e ainda era possível ouvir suas cantigas. Naquele povoado não era o silêncio dos mortos que se fazia presente, pois as vozes dos aldeões continuavam a bradar em minha mente.

Estranhamente, não me amedrontei com os rumores que eu ouvia e construí uma grande fogueira na praça onde eu estava. De repente, todas as vozes se calaram e um silêncio aterrador me invadiu. Após alguns instantes, notei que tudo parou. Nesse momento, uma sensação de morte iminente inundou minha alma, talvez fosse minha sanidade tentando resistir a uma alucinação. Apesar do mau pressentimento, não desisti de invocar a morte para tentar escapar do meu destino.

Mesmo aterrorizado, coloquei-me a chamar pela deusa da morte. Minhas palavras ecoavam para além do horizonte, elas se encaminhavam à eternidade e eu ficava cada vez mais próximo da loucura ao ouvi-las quebrar o silêncio. Comecei a pensar que eu morreria naquele largo em qualquer instante. Inesperadamente, ouvi uma voz muito profunda, esta me pedia para sair daquela cidade e nunca mais voltar lá.

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