O nome de Niana lhe caía bem. Porquanto, Niana é uma belíssima flor venenosa nativa das selvas de Zanya , um país dominado por Sana e por exuberantes florestas que fica além mar. Tudo o que sei sobre essas terras quentes ouvi durante minha infância, ás vezes os adultos comentavam sobre essa região. Sempre fui um garoto de mente inquieta e naturalmente as lendas de uma terra desconhecido me atiçaram a curiosidade. Quanto mais eu escutava sobre as belezas tropicais do além mar, mais eu acreditava que Zanya era o paraíso, por esse motivo sonhei muitas vezes em me mudar para lá.
Durante muito tempo, guardei em minha alma o desejo de viver na exuberante Zanya, pois isso era a única coisa que me pertencia. Eu fantasiava sobre minha fuga para a terra das selvas e já fazia planos: com uma canoa eu atravessaria o mar e chegaria à minha terra prometida, lá eu seria livre e viveria muito feliz.
Um dia não consegui dormi e percebi que meu pai estava acordado. Minhas ideias estavam especialmente borbulhantes e resolvi conversar com ele, indaguei-lhe sobre Zanya e ele me contou que Sana também dominava aquele país. Meu progenitor me disse que lá a vida era tão miserável quanto a nossa, porque naquela terra existia gente tão sem coisa alguma igual à minha família e havia capatazes tão cruéis quanto os que viviam em Danji.
Após ouvir o relato de meu pai, senti meu coração se despedaçar, mas não chorei, pois naquela época já estava acostumado a me tornar cada vez mais quebrado todos os dias e eu estava ciente de que nem minhas lágrimas me pertenciam. Apenas fiquei em silêncio e fui dormir.
Os dias passavam e eu continuava pensando sobre Zanya, mesmo após a maior decepção de minha infância. Aquela região tão bela ainda povoava minha mente e eu desconhecia o motivo de tal fixação.
No fundo, eu ouvia algo em Zanya me chamava e eu não conseguia ignorar este chamado. Eu não sabia qual era o responsável por minha misteriosa convocação, eu tinha apenas algumas hipóteses: às vezes eu acreditava que as florestas exuberantes com seus mistérios me atraíam para o desconhecido, em outras ocasiões o oceano profundo e desconhecido me chamava através de suas ondas.
Em uma noite de verão criei coragem e perguntei à minha mãe o motivo de muita gente falar de Zanya se lá a realidade era bem parecida com aqui. Com sua voz doce e cansada, ela me contou que eu era descendente dos refugiados de Zanya e sentir saudades dessa terra estava em meu sangue.
Há quatro séculos vieram muitas pessoas fugidas de uma guerra entre as tribos daquela terra além-mar, elas aportaram em Dai com sonhos e a esperança de reconstruir suas vidas em uma terra estrangeira. No entanto, nunca se olvidaram de sua Zanya e sempre sentiram saudades de lá. Todas as noites contavam aos seus filhos as histórias que seus ancestrais lhes contaram quando eram crianças nas tribos cercadas pela selva.
Além disso, todos os filhos de Zanya mantinham vivas suas tradições através de várias manifestações culturais que englobavam desde as roupas coloridas e exuberantes até as festas sazonais celebradas por eles. Dessa maneira, ser descendente desses imigrantes se tornou uma identidade capaz de atravessar séculos de agruras.
Minha mãe me contou que esses imigrantes de Zanya eram seus ancestrais como o eram de boa parte das pessoas de meu povo. Ela me disse que minha avó lhe falou que antes da dominação de Sana em Danji, a grande cidade era mais colorida, cheia de casas singelas, animais selvagens e árvores gigantescas.
Existia uma praça principal onde todos se reuniam no verão para celebrar mais um ano de bênçãos, minha bisavó conheceu seu amado nesse largo. As praias viviam cheias de pescadores e nos finais de semana elas se lotavam de banhistas, tanto nativos como estrangeiros. O litoral era palco de algumas competições e no final todos se divertiam. Danji estava impregnada com uma alegria que nem o domínio de Taen conseguiu dissipar.
Eu sempre soube do antigo império Taen, ele chegou a conquistar Dai, impôs sua língua e cobrou altos tributos ao meu povo. Entretanto, éramos " livres", mesmo que pobres, nada nos impedia de perpetuar nossas tradições desde que pagássemos os pesados impostos à metrópole.
Quando Sana nos dominou, todos os feiticeiros locais foram escravizados e essa escravidão se perpetuou por gerações até me atingir. Aqueles que não se tornaram mercadoria também foram muito explorados e reprimidos. Construíram-se os palácios dos colonizadores de Sana com muito derramamento de sangue. Danji foi tomada por casebres ainda mais precários onde a miséria se escancarava em toda a sua tristeza. As majestosas árvores desapareceram para dar lugar ao progresso que beneficiou somente os dominadores. Nem os animais selvagens foram poupados das crueldades, eles acabaram mortos em brutais caçadas atrás de suas carnes e de suas peles. Por fim, o povo de Dai foi proibido de ser ele mesmo.
Não podíamos mais celebrar nossas festas tradicionais, praticar nossa magia e nem vestir nossas roupas tradicionais, pois os filhos de Sana não admitiam que seus colonizados se vestissem com mais roupas mais belas e exuberantes do que as deles. Por causa da arrogância desses dominadores, fomos obrigados a usar roupas simples e cor de areia. Quanto à nossa religião, tornaram-na um crime passível de morte em local público, porém persistimos em nossa fé e muito antes de eu nascer houve levantes que nos devolveram o direito de professar nossas crenças livremente.
Sorri ao me lembrar de meus pais. Pelo menos existia uma vantagem quando eu pensava em Niana, recordei-me daqueles que me trouxeram à vida. Eu tinha as memórias de meus ancestrais para honrar e minha irmã deveria ser salva das feiticeiras das trevas. Desistir de derrotar as servas do mal não era possível mesmo sabendo que meu coração sangraria ao fazer Niana beber do amargo cálice da derrota. O que eu faria com minha alma depois de estraçalhá-la era problema meu. Transformei-me em um perdido por me apiedar de uma criatura tão detestada, mas não deixaria a humanidade toda ser condenada por causa de minha desventura e eu faria o que é certo para impedir os avanços das forças sombrias.
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A independência de Dai
FantasiZoco é um jovem bruxo escravizado de Dai. Não bastando as condições adversas ao qual ele é submetido, ele se apaixona por Pemi, a filha do representante da metrópole em Dai... Um amor proibido. Os deuses, principalmente o deus da guerra, não quisera...