DEZENOVE - CAMILA

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A luz do sol invade o quarto através das cortinas, aumentando a dor latejante em minha cabeça. Parece que um bando de martelos está batendo dentro do meu crânio. Maldita tequila, nunca mais vou beber na vida. Meu estômago revira e sinto um gosto amargo na boca, lembrança desagradável da noite anterior.

A porta se abre de repente, interrompendo meus pensamentos torturantes. Isabel, a avó de Germano, entra acompanhada por uma comitiva de pessoas. Olho para ela, tentando disfarçar minha dor e desgosto. Ela se aproxima da cama com uma expressão suave.

— Bom dia, noivinha.

Tomo um banho e me sento diante da penteadeira para fazer o cabelo e a maquiagem com os melhores profissionais que o dinheiro de Germano pode pagar. Sinto-me como um animal enjaulado, sendo arrumado e maquiado para o abate. Os profissionais ao meu redor fazem seu trabalho com uma precisão mecânica, enquanto eu me sinto cada vez mais distante de mim mesma. Não reconheço a pessoa que olha de volta para mim no espelho, maquiada e polida como uma boneca de porcelana.

A fotógrafa está lá, com sua câmera irritantemente brilhante, capturando cada momento deste dia infernal. Cada clique parece ecoar dentro da minha cabeça, uma tortura adicional para a dor já insuportável que sinto. Tento sorrir para as fotos, mas meu rosto parece travado em uma expressão de desespero.

— Um sorriso, querida! — a fotógrafa ordena, sua voz cortando o ar como um chicote.

Dou um sorriso forçado. É claro que ela não entende. Ela não sabe o que é ser forçada a se casar com um homem que você odeia, a se tornar propriedade de alguém que vê você como nada mais do que um troféu para exibir aos outros.

Eu me afundo na cadeira, deixando meu olhar vagar pelo quarto. As paredes brancas e imaculadas, os móveis elegantes e as flores frescas espalhadas por todos os cantos. Tudo isso é uma farsa, uma tentativa patética de esconder a verdadeira natureza do que está acontecendo aqui.

Um arrepio percorre minha espinha enquanto me dou conta do que está prestes a acontecer. Em poucas horas, estarei de pé diante de um altar, prometendo amor e fidelidade a um homem que desprezo com cada fibra do meu ser. Será o fim de tudo o que eu conheço, o fim da minha liberdade, do meu direito de escolher meu próprio destino.

Mas por enquanto, sou apenas uma noiva sendo preparada para o sacrifício. Uma vítima sacrificada no altar da tradição, da conveniência e do poder masculino. E enquanto os flashes da câmera continuam a cegar meus olhos e a dor lateja em minha cabeça, só consigo pensar em como gostaria de estar em qualquer outro lugar neste momento.

Ela entrega o estojo de joias com um gesto gracioso, como se estivesse oferecendo um presente genuíno para uma noiva ansiosa, e eu aceito-o com um sorriso falsamente grato.

— Obrigada, Isabel. — Minha voz soa oca até para mim mesma.

Por um breve momento, estou sozinha com Helena, minha única amiga nesta casa cheia de estranhos. Ela me olha com preocupação, seus olhos escuros cheios de empatia silenciosa.

— Como você está se sentindo? — ela pergunta, sua voz suave e reconfortante.

Suspiro, uma onda de exaustão me atingindo de repente.

— Como você acha que estou me sentindo? — respondo, minha voz tremendo ligeiramente. — Estou prestes a me casar com um homem que não amo, em um casamento que não é meu, para agradar a um pai que me trata como uma mercadoria.

Helena balança a cabeça, compreensão brilhando em seus olhos. Ela sabe tanto quanto eu o que isso significa, o que está em jogo. Ela sabe que este não é o meu destino, que este não é o meu final feliz.

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