DOZE - GERMANO

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A irritação fervilha dentro de mim enquanto retorno para o escritório, um turbilhão de pensamentos sombrios que parecem se chocar como ondas furiosas. O peso das responsabilidades e a teia de problemas que cercam minha vida pessoal formam um fardo insuportável.

Meu telefone toca, interrompendo meu mergulho nos abismos dos meus próprios pensamentos. É Murilo, meu irmão mais novo, aquele que, ao contrário de mim, parece levar a vida de forma mais despreocupada e leve.

— O que foi, Murilo? Estou ocupado. - minha voz soa mais ríspida do que pretendia.

— Calma aí, irmão. Só queria saber como você está. Alguma novidade?

A pergunta de Murilo soa casual, como se não estivesse ciente do turbilhão que é a minha vida neste momento. Respiro fundo antes de responder, tentando conter a raiva que ameaça transbordar.

— Não, nada de novo. Apenas lidando com os problemas como sempre faço.

Murilo solta uma risada descontraída do outro lado da linha.

— Sempre tão sério, Germano. Relaxa um pouco. Às vezes, a vida é para ser vivida, não apenas administrada.

Sinto um impulso de raiva ao ouvir seus conselhos simplistas. Ele não entende a pressão que estou enfrentando, as decisões difíceis que preciso tomar para manter o império dos Moretti intacto.

— Não tenho tempo para filosofias baratas, Murilo. Estou no meio de uma situação complicada, e não é algo que possa ser resolvido com um sorriso e pensamento positivo.

A voz de Murilo soa mais séria agora.

— Seja lá o que estiver enfrentando, lembre-se de que não está sozinho. A família está aqui para apoiar. Você sempre quis levar tudo nas costas, mas não precisa fazer isso sozinho. Tudo certo com o jantar de hoje?

Murilo pergunta sobre o jantar em minha casa, como se tudo estivesse correndo conforme o planejado, como se a minha vida não estivesse sendo arrastada por uma correnteza de caos e desespero. Sua voz soa animada do outro lado da linha, como se estivesse se preparando para uma festa, enquanto eu luto para manter as aparências em meio ao turbilhão que é a minha vida.

— Claro, está confirmado. - respondo, tentando manter a voz firme, apesar da tempestade de pensamentos furiosos que atormentam minha mente. — E a despedida de solteiro? Você ainda está planejando isso?

A resposta de Murilo é rápida e cheia de entusiasmo.

— Claro que sim, irmão! Vai ser épico. Estou organizando tudo com os rapazes. Você merece uma última noite de liberdade antes do grande dia, não é mesmo?

O sarcasmo em sua voz é inegável, uma provocação sutil que ecoa em meio à conversa casual sobre festas e celebrações. Ele sabe tão bem quanto eu que essa "última noite de liberdade" é uma farsa, uma ilusão criada para esconder a verdade amarga por trás do meu casamento arranjado.

— Sim, claro. - murmuro, minha voz soando oca até mesmo para os meus próprios ouvidos. — Agradeço por organizar tudo. Estarei lá.

Desligo o telefone com um suspiro pesado, sentindo o peso da farsa que é minha vida se aprofundar ainda mais. A ideia de uma despedida de solteiro, uma festa regada a álcool e risadas falsas, parece uma piada de mau gosto diante da realidade sombria que me aguarda.

Mas não tenho escolha a não ser jogar o jogo, seguir em frente como se tudo estivesse sob controle, enquanto as paredes ao meu redor desmoronam lentamente. A máscara de normalidade que mantenho perante o mundo é uma armadura frágil, uma tentativa desesperada de manter o controle em meio ao caos que ameaça me engolir.

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