DEZ - CAMILA

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São Paulo, Brasil.

Abro os olhos lentamente, piscando contra a claridade que invade o quarto através das cortinas. A cama é macia e confortável sob meu corpo, e por um momento, fico perdida em pensamentos, tentando reconhecer o lugar onde estou. As lembranças da noite anterior surgem vagamente na minha mente, uma névoa confusa de imagens e sensações.

Ergo-me com cuidado, sentindo-me estranhamente desorientada. Meus olhos caem sobre o pijama de seda vermelha que estou usando, e uma pontada de confusão me atinge. Não me lembro de ter vestido isso. Na verdade, não me lembro de ter trocado de roupa desde que fui arrancada à força do meu apartamento.

Com um suspiro resignado, me levanto da cama e me aproximo da janela, a luz do sol banhando meu rosto. Sinto-me como um pássaro enjaulado, incapaz de voar livremente. De repente, uma batida na porta me faz pular de susto, e meu coração dispara. Engulo em seco, temendo quem possa estar do outro lado. Com passos hesitantes, me aproximo da porta e a abro lentamente. Germano está parado do outro lado, sua expressão séria enquanto me encara. U

— Bom dia, Camila. Espero que tenha dormido bem. — sua voz é suave, mas há uma dureza subjacente que me faz estremecer.

Engulo em seco, lutando para encontrar palavras. Não sei como responder a isso, como lidar com ele e com toda essa situação absurda em que me encontro.

— Bom dia. Onde estamos?

Ele me observa por um momento, como se avaliasse minhas palavras, antes de responder.

— Estamos em minha casa. — Ele percorre meu corpo com os olhos. — Você é realmente encantadora, Camila. — Sua voz, carregada de um interesse masculino cru, ressoa no quarto, fazendo-me arrepiar. — Eu queria que estivesse mais relaxada ontem à noite, mas você parecia um pouco nervosinha demais. Então, decidi te ajudar a dormir melhor. Coloquei algo na sua água. — Seu sorriso se alarga, revelando um lado mais sombrio e manipulador. — Afinal, não queria que você passasse a noite toda pensando em como sua vida mudou.

Engulo em seco, minha mente girando em busca de uma saída. O choque inicial começa a dar lugar a uma chama de raiva. Como ele ousa fazer isso comigo? Invadir minha privacidade, me drogar para seu próprio prazer sádico?

— Isso é um sequestro! — Minha voz sai mais firme, carregada de revolta. — Você não pode simplesmente me manter aqui contra a minha vontade, me drogar!

Ele solta uma risada baixa, como se achasse graça na minha indignação.

— Não estou te prendendo aqui. Você pode ir embora, mas seu pai será preso. — Engulo as verdades que quero dizer a ele.  — Aqui está um celular novo para você. Acesse o Instagram. Tenho uma surpresa lá para você. — Ele me entrega o aparelho com um gesto indiferente, como se estivesse distribuindo uma tarefa rotineira. — Tem a prova final do vestido às 15, o motorista vai levar você. Às 20 horas, minha avó e meus irmãos virão jantar. Esteja pronta e comporte-se à altura da família Moretti. — Seu beijo na minha testa é tão gélido quanto sua ordem. Uma mistura de ameaça e formalidade.

Assim que ele se retira, examino o conteúdo do celular, ciente de que cada ação minha está sendo monitorada. A surpresa no Instagram revela fotos de um jantar sofisticado, com legendas que insinuam um noivado iminente. Os comentários elogiam a beleza do "casal" e fazem conjecturas sobre o futuro.

Conforme fui rolando o feed daquela conta que nunca foi minha, vejo várias fotos de momentos que nunca existiram ao lado de Germano, aquele filho da puta tinha forjado toda uma vida romântica e perfeita para nós dois. O toque estridente do meu celular antigo irrompe o silêncio, interrompendo a farsa virtual que Germano criou. Ao atender, escuto a voz de Helena, uma mistura de surpresa e ansiedade.

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