Capítulo 1 - Parte 2

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Toda aquela agitação matutina havia me cansado mentalmente. Só reparei que havia caído no sono, quando acordei de sobressalto com um estrondo vindo do andar de baixo e muita correria nas escadas. Pela quantidade dos passos, várias pessoas estavam subindo e descendo em velocidade acelerada demais para se contar em número exato. Elas gritavam em algazarra. Batucavam as portas, como se fosse tambores, tocavam campainhas incessantemente na intenção de apavorar os moradores dos apartamentos. Percebia-se pelo alarde feito do outro lado da porta de entrada, que esse grupo de pessoas tinha a intenção de invadir as residências.

Assim que percebi a barulhenta movimentação se aproximando do meu andar, abri a janela da sala, para ver do que se tratava e vi pessoas saindo correndo do prédio carregando televisores, fogões, pacotes com mantimentos e muitas outras coisas. Eu não as reconhecia, eu nunca havia visto nenhuma delas entrando ou saindo dali, sendo como morador ou como visitante de algum morador. Na mesma hora, fechei a janela e empurrei um dos sofás para trás da porta. Eu sabia que eles tentariam invadir minha casa. Juntei os sofás de dois e três lugares e ainda coloquei o rack onde ficava a televisão, a fim de fazer uma forte barricada para impedi-los de entrar ali.

Não deu outra.

Um dos invasores tentou arrombar a porta. Foram seis pancadas contra ela e como não surtiu efeito, ele usou um pé de cabra para abrí-la. Meu coração quase saltou pela boca.

O que eu iria fazer contra um grupo de ladrões? Deviam estar com 'ódio mortal' de mim, já que eu dei trabalho para eles, já que os outros apartamentos foram fáceis de adentrar e no meu foram precisos vários golpes contra a porta e um pé de cabra.

Um estalo foi ouvido e a fechadura se partiu.

Um dos ladrões conseguiu empurrar um pouco a porta e me olhou pela fresta como se ele estivesse no deserto, há dias, e eu fosse a última coca cola da face da Terra. Foi um olhar de cobiça. Ele percebeu que eu estava apavorada e como se aquilo tivesse dado um gás, ele empurrou ainda mais a porta, diminuindo o espaço entre nós. Eu me lembrei da faca, a qual eu iria golpear a minha mãe e me armei com ela. O invasor olhou para mim e para a faca e retornou seu olhar desafiador em mim, como se eu não tivesse coragem de atingi-lo ou como se eu não soubesse o que estava segurando. E com uma ombrada contra a porta, ele a escancarou e afastou os sofás que estavam entre nós.

A minha barreira não passou de um pequeno obstáculo para ele.

Eu tive que segurar a faca com as duas mãos, pois, estava tremendo de medo. Eu nunca nem havia sido assaltada e agora entraria em luta corporal com um ladrão.

Ele era da minha altura, bem mais velho do que eu, tinha uma barba por fazer e fedia a gasolina. Pensei em usar meus fósforos, talvez colocar fogo nas roupas do ladrão, mas eles estavam no fundo da minha bolsa, a qual, agora, se encontrava no chão do outro lado da sala. Eu não perderia tempo indo atrás dos fósforos. Isso poderia nem funcionar, também.

Vacilei para a esquerda e ele também. Eu tinha que sair dali. Mas, como? Foi quando o ladrão chegou até mim em duas passadas. Ficou tão próximo, que a faca tocava seu peito e ele parecia gostar. Ele deu uma risadinha irônica, mostrando os filetes dos dentes espaçados e podres e eu ainda não tinha coragem de acertá-lo. O que estava acontecendo comigo? Estava de cara com o perigo e mesmo assim estava indo abraçá-lo?

- Largue essa faca, menina. Você pode se cortar com ela. - Ele dizia cada palavra tão calmamente, como se estivesse me hipnotizando, que eu quase obedeci.

Ele segurou meu pulso tão forte, que eu tive a impressão de ouví-lo estralar. O aperto foi tão grande, que minhas mãos formigavam e foi quando a faca caiu no chão. Ele me virou contra ele e sussurrou em meu ouvido:

- Sabe o que eu posso fazer com uma garota bonita como você? - E passou a mão que estava livre por dentro da minha blusa. Seu toque era grosseiro e ansioso.

A minha repulsa foi tão grande, que eu girei os meus pulsos para fora, soltando um dos braços e acertei meu cotovelo em suas costelas. Ao mesmo tempo dei um pisão em seu pé com o meu calcanhar e por fim, o acertei na virilha, com um chute rápido e doloroso. Ele não esperava os golpes. Posso atribuir a minha modesta faixa branca de karaté ou qualquer que seja a arte marcial que eu usei contra o meu agressor, aos meus filmes favoritos do Jack Chan. Como ele havia me soltado, corri em direção à porta. Ele me alcançou antes mesmo que eu chegasse lá e me puxou pelos cabelos. Na mesma hora eu me virei de frente para ele e o esbofeteei, inutilmente. Ele bateu a minha cabeça contra a parede, acertando-me contra o espelho do aparador , trincando-o em várias partes. Eu senti o sangue escorrer pelo meu olho esquerdo e comecei a ver as coisas ao meu redor rodando e embaçadas. Quando eu pensei em reagir, senti a segunda pancada e meu corpo deslizou pesado, como um pacote de batatas, pelo chão. Estava sem controle das minhas coordenações motoras. Eu estava cansada e sem forças. Só vi quando aquele monstro abriu a minha blusa preta de botões e começou a tirar a minha calça jeans. Eu estava protestando e senti a minha cabeça ir de encontro ao chão, com toda a força que o meu agressor tinha nas mãos, em um terceiro golpe.

Não me lembro de ter fechado os olhos.

Mas eu adormeci.


Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora