Cheguei na casa principal completamente sem fôlego. Uma caminhada rápida de cinco minutos separava uma casa da outra. Fui até o depósito pegar algumas ferramentas para arrombar a porta do casebre e encontrei Águia manobrando o ônibus. Tonho aguardava, ansioso, para embarcar. Lobo Selvagem estava com ele. Me enchi de coragem e caminhei em sua direção. A casa poderia esperar, ela não sairia de lá.
- Lobo, será que podemos conversar? - perguntei ao segurá-lo pelo braço.
Ele olhou rudemente para o meu toque, o que me fez soltá-lo na mesma hora.
- Agora não dá. Tô saindo. Talvez mais tarde. - ele respondeu e seguiu para o ônibus.
- Certo... Tome cuidado lá na cidade. - eu disse, mas ele pareceu não me ouvir.
Voltei ao meu objetivo. Girei a maçaneta do depósito, mas estava trancada. Provavelmente a chave estava no chaveiro de Benny, o mesmo que Águia jogara para Pente Fino na noite anterior para que ela abrisse a porta da enfermaria. Droga. Contornei a casa e entrei pela porta lateral da cozinha. Mamba Negra, Ian e Ariana estavam preparando seus desjejuns. Meu irmão não estava mais presente. Cumprimentei quem eu ainda não havia cumprimentado e saí pela porta vai-e-vem. Fui até a enfermaria e entrei sem bater. Íris estava ao lado de Benny, acariciando seu rosto. Ela me olhou dos pés a cabeça com desprezo. Pente Fino não estava com eles.
- Você não deveria estar aqui. - ela disse antes que eu pudesse sair e fechar a porta atrás de mim.
- Eu já estou saindo. - respondi sem muito interesse.
- Não digo aqui e agora, mas sim nesta casa. Nenhum de vocês deveria estar aqui. Tudo o que ele faz é para proteger a todo mundo. Ele não tem essa obrigação. Se não fosse por essa gentinha colocando ideias na cabeça dele, ele não teria se ferido.
- Ele não é influenciável, você deve saber muito bem disso. Então não coloque a culpa na gente.
- Eu o conheço perfeitamente, lembra? Sei bem do que ele é capaz de fazer quando precisa ou quer proteger alguém...
Minha antipatia por aquela mulher crescia conforme eu via o quanto ela conhecia Benny melhor do que eu.
- Você deveria tomar conta da sua vida e não ficar vindo aqui a toda hora. Vá arrumar o que fazer, talvez ficar com aquela orfãzinha que você chama de filha ou com os seus amigos pé rapados. O Benny não precisa de vocês, muito menos de você. Ele tem a mim.
Cerrei os punhos e contei mentalmente até sessenta. Entreabri a porta e me virei novamente na direção dela.
- Só sairei se ele não me quiser mais aqui, caso contrário, voltarei sempre que eu sentir vontade.
- Se voltar aqui irá se arrepender amargamente.
- Não tenho medo das suas ameaças.
- Quem disse que foi uma ameaça, querida? Estou só constatando o óbvio. O Benny é meu e nenhuma franguinha irá rouba-lo de mim.
Bati a porta atrás de mim. Estava cansada de ouvir aquela voz de gralha engasgada e mais cansada ainda de ouvir o que ela tinha a dizer. Subi a escada bifurcada e entrei no meu quarto. Lavei as mãos meladas de manga e troquei a blusa respingada daquela fruta suculenta. Eu tinha uma lista de coisas para fazer naquele dia e precisava começar a fazê-las o quanto antes. Abri a porta do quarto e Pente Fino estava com a mão erguida, prestes a bater.
- Ah, oi. - Pente Fino disse.
- Oi, Tefi. Tava mesmo querendo falar com você. Entra.
Pente Fino estava com seus cabelos soltos, fazendo aqueles fios vermelhos repousarem serenamente em suas costas. Ela havia retirado os piercings das sobrancelhas e o do lábio inferior, deixando somente o do nariz.
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Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos Mortos
HorrorAquela era para ser mais uma manhã pacata na vida de Melina Reis. Ela se preparava para uma entrevista de trabalho quando percebera que estava vivendo um Apocalipse Zumbi. As pessoas que ela costumava conhecer começaram a agir de forma irracional. S...