Capítulo 18: Da ficção para a realidade | Parte 1

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Meu quarto era a última porta do lado esquerdo da casa. Havia uma cama king size com um colchão compacto muito macio de viscoelastano. O closet de tamanho médio daria para várias pessoas morarem e ainda receberem visitas. No banheiro, havia uma banheira de hidromassagem enorme. O lavatório assim como o chuveiro era duplo. Provavelmente eu peguei uma das suítes máster, talvez eu devesse deixa-la para algum casal...

Guardei no closet o pouco de roupa que tinha na minha mochila. Parecia que alguém havia feito as malas às pressas e deixado para tras uma ou outra peça de roupa nos cabides. Eu precisaria fazer novas aquisições, mas ainda não sabia qual era a última moda das lojas em Tutinah. Guardei no banheiro os meus produtos de higiene pessoal e olhando no espelho, vi o reflexo de uma Melina abatida, fraca e medrosa. Talvez, como Pente Fino havia dito, o fim do mundo só tenha aflorado o que eu sempre tive de pior em mim, assim como fez com outras pessoas.

Olhando naquele espelho eu tive pena de mim mesma.

Lágrimas escorreram pelo meu rosto e pingaram pesadas em meu peito.

Toda aquela depressão momentânea só me trouxe mais recordações ruins. Me permiti pensar em minha mãe e em todos que eu conhecia e que estavam mortos no momento. Não houve uma despedida prévia, tudo aconteceu repentinamente pegando a todos de surpresa. O mundo não era mais um lugar habitável e todos que nele habitavam estavam correndo o risco de se contaminarem com uma doença rápida, letal, totalmente desconhecida e que consequentemente não tinha cura. Pude ouvir passos e conversas no corredor. As pessoas estavam se acomodando na casa e estavam felizes em ter um lugar para chamar de lar. Tudo ao nosso redor se resumia a uma mata densa e quilômetros distantes do vizinho mais próximo. 

Estávamos relativamente seguros ali.

Meus pensamentos iam de Benny beijando aquela loira aguada até Lobo Selvagem me rechaçando há algumas noites, após termos nos beijado. Entendi o motivo para ele ter feito aquilo, mas este ainda estava corroendo meu cérebro. Encarei novamente meu reflexo no espelho, dei um tapa em cada lado do rosto e o enxaguei. Eu precisava acordar para a realidade em que estávamos vivendo: um mundo devastado por uma pandemia e cheio de mortos que voltaram à vida, sedentos de fome por carne humana.

Esse tinha que ser o meu mantra e a minha preocupação por um longo tempo.


Algumas horas depois alguém bateu na porta do meu quarto insistentemente.

– Entre. – gritei.

– Uau, que quarto lindo. Já quero trocar. – Brígida analisou o meu quarto com uma careta de espanto. – O que está fazendo?

– Só pensando na loucura que está sendo a minha vida. Ainda não acredito que minha mãe está morta.

Brígida sentou-se ao meu lado na cama e pegou em minha mão.

– Eu sinto muito por ter perdido sua mãe, ela era uma mulher incrível. Ela sempre foi gentil comigo, de menos quando quebrei aquele vaso de flores que pertenceu a sua avó, você se lembra? Fiquei meses sem poder ir à sua casa com medo do que sua mãe poderia fazer comigo... – Nós duas rimos ao lembrar da situação.

– Era o vaso preferido dela e eu que paguei o pato por aquilo. Fiquei dois meses sem assistir Rubi por sua causa. – Eu disse, fingindo raiva.

Nós rimos ainda mais. Eu e Brígida adorávamos os clichês das novelas mexicanas e principalmente os atores mexicanos.

– Foi um acidente. Você tem que acreditar em mim.

– Eu sabia que aquela sua dança do ventre não daria certo na sala da minha casa. Você não levava jeito para rebolar como a Shakira...

– Como assim? Eu assisti vários vídeos dela dançando. Sei imitar direitinho, quer ver? – Brígida levantou-se e começou a rebolar desastrosamente pelo quarto, fazendo uma dança do ventre desengonçada.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora