– Ufa, quase fomos descobertos. – Odete sussurrou.
Rogério abriu a porta do quarto onde Pente Fino estava e me empurrou com força para dentro dele. Fechou a porta novamente e a trancou. Eu tropecei em meus pés e caí de joelhos no chão. Engatinhei até a cama de Pente Fino e a chacoalhei algumas vezes, mas não obtive nenhuma reação. Levantei e corri em direção a um guarda roupa despencando e abri uma porta, que veio junto da minha mão. Apoiei a porta na parede e comecei a vasculhar algumas caixas. Ali, provavelmente, outrora, era o quarto da Mamãe. Havia camisolas e roupas íntimas nas gavetas que não caberiam em Odete.
Não encontrei nada de útil. Vasculhei os bolsos de Pente Fino. Em vão. Ela sempre andava bem guarnecida de armas e agora não restara nenhuma consigo. Grunhi em frustração e me sentei no chão. Nós estávamos presas em um quarto minúsculo – sem janelas – e fedendo a naftalina.
Eu achei que iria enlouquecer.
Horas se passaram e ninguém havia voltado para falar comigo ou para verificar o estado de saúde de Pente Fino, que por sinal, ainda estava desacordada. Chutei, esmurrei e tentei derrubar a porta de todas as maneiras, mas nada aconteceu. Pelo menos, não com a porta. Minhas mãos e pernas estavam esgotados por lutar boxe com uma porta de madeira maciça. Sentei novamente no chão e chorei. Se não fosse por um descuido meu e por uma maldita dúvida que rondava minha cabeça nós não estaríamos naquela situação.
A porta foi aberta em um rompante. Bateu com força contra a parede, arrancando farelos de concreto do reboco. Me encolhi, assustada, para perto de Pente Fino, protegendo-a com o meu corpo.
– Qual das moçoilas usou isso aqui? – Odete nos encarou furiosa.
Ela balançou alguns testes de gravidez na mão e aguardou ansiosa pela resposta.
– Foi eu. – sussurrei.
Ela caminhou em minha direção como um gigante faria: rápida e pesada. Me encolhi ainda mais. Meu rosto ainda ardia pela força com a qual ela desferiu um tapa no meu rosto mais cedo. Só pensei que ganharia outra bofetada. Ela se aproximou de mim e deu dois tapinhas nas minhas costas.
– Parabéns, querida. Você vai ser mamãe. – ela disse.
Aquela declaração doeu como soco no estômago. Odete estava muito animada com aquela gravidez, parecendo que ela própria estava grávida. Falava e falava sobre algo que eu não tinha interesse nenhum em ouvir. Meus olhos fixaram-se em algo a minha frente, mas meus pensamentos estavam muito além daquele quarto.
Eu estava grávida.
Eu ainda não estava pronta para ter um filho. Eu não entendia nada sobre crianças. Comecei a tremer com a possibilidade de dar à luz daqui há, pelas minhas contas, sete meses. Odete se aproximou ainda mais e secou uma lágrima que descia pelo meu rosto com a barra de seu avental imundo, me deixando imóvel com aquele contato repentino.
– Venha, querida. Você precisa se alimentar. Não pode deixar o meu bebê... – ela tapou a boca com a mão e logo voltou a sorrir. – não pode deixar esse neném com fome, não é?
Ela me ajudou a levantar, fechou novamente a porta atrás de nós e me conduziu por aquele corredor sombrio. Chegamos em uma cozinha pequena. Limpa. Diferente do buraco onde fui mantida junto da verdadeira e única Mamãe. Sentei em uma cadeira junto a uma mesa de jantar retangular. Um copo d'água foi servido, mas eu nem lembrava mais que estava com sede ou da minha vontade de usar o banheiro.
– Beba, querida. O que você quer comer? Hum? – Odete me olhava com expectativa.
– Tanto faz. – respondi sem muito interesse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos Mortos
HorrorAquela era para ser mais uma manhã pacata na vida de Melina Reis. Ela se preparava para uma entrevista de trabalho quando percebera que estava vivendo um Apocalipse Zumbi. As pessoas que ela costumava conhecer começaram a agir de forma irracional. S...