Capítulo 22: O herói virou mártir?

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Alguns dias se passaram depois da nossa incursão infrutífera à cidade. A possibilidade de um bando dos ''famintos'' nos pegar desprevenidos deu aos homens mais o que fazer: patrulhar dia e noite os arredores da casa. Ainda não havíamos visto nenhum deles perambulando pela cidade, o que era extremamente estranho.

O dia havia começado com o céu encoberto de nuvens carregadas, iria começar a chover a qualquer momento. Saí da casa e caminhei pela mata rasteira encoberta de orvalho até chegar nos limites da cerca que delimitava a propriedade. Lobo Selvagem empunhava uma espingarda calibre doze e olhava distraído a paisagem a sua esquerda. Me aproximei sorrateira e imitando um ''faminto'' mordi seu vigoroso bíceps direito, o que o fez rir. Eu fazia aquilo quase todas as manhãs.

- Que tal o meu sabor hoje? - ele perguntou ao me erguer em seus braços e beijar meu pescoço.

- Igual a ontem. - respondi. - Lobo pela manhã me cai super bem.

Lobo Selvagem sorriu, o que enrugou levemente as laterais de seus olhos e vincou suas bochechas, lhe dando covinhas.

- Vão sair hoje? - ele me sentou no alto da cerca e eu lhe entreguei uma garrafa d'água.

- Iremos. Vamos nos dividir em pequenos grupos e vasculhar mais um pouco a cidade, caso não encontremos nada por aqui, vamos para as cidades vizinhas.

- Isso é mesmo necessário? Podemos só reforçar essa cerca, ficaremos bem. Não há ''famintos'' por aqui.

- Não tenha tanta certeza disso. Se nos acostumarmos com essa idéia, vamos morrer cedo. Essa praga chegou em todos os lugares em que passamos. Está em nível nacional e me arrisco a dizer que até global, por aqui não seria diferente. É só uma questão de tempo até que os primeiros mortos apareçam zanzando por aí.

- Na minha cidade demorou a aparecer. Em um dia estava tudo bem e no seguinte havia um bando deles soltos na rua da minha casa. Eu nunca vou me esquecer daquele dia, o dia em que quase morri pela primeira vez. A minha mãe se tornou uma daquelas coisas e eu gostaria de saber como. Por tudo o que reparei nos ''famintos'' com que me deparei é que quase todos eles levaram alguma mordida e minha mãe não tinha nenhuma. Como ela pode ter sido infectada?

- Sei lá, talvez essa doença esteja no ar e todos nós estamos condenados a ela.

- Só sei que nada sei. - respondi e pulei do alto da cerca, caindo em pé. - Vamos tomar o café da manhã. Hoje o dia vai ser longo.

Lobo Selvagem pegou em minha mão e seguimos em direção a casa. Ainda não havíamos oficializado nada, mas também não fazíamos questão alguma de esconder que estávamos nos conhecendo melhor. Ao adentrar a cozinha pela porta lateral meu irmão preparava o café. Ele nos olhou de rabo de olho antes de soltarmos nossas mãos.

- Henri. - Lobo Selvagem o cumprimentou e abriu a porta da geladeira.

- Bom dia, maninho. - me aproximei e beijei sua bochecha.

- Bom dia. Alguma movimentação estranha lá fora? - Henri perguntou.

- Tudo tranquilo. Nada fora do comum... - Lobo Selvagem respondeu e serviu um copo com suco de cor vermelha.

Pente Fino entrou no cômodo - como se não tivesse nos vistos - e abriu a geladeira, vasculhando, ansiosa, seu interior.

- Quem foi que tomou meu Gatorade de novo? - ela perguntou e nos encarou com uma das mãos na cintura.

Eu balancei a cabeça e Lobo Selvagem também. Ela encarou Henri e quase faltou fuzilá-lo com os olhos.

- Não olhe 'pra' mim. Eu nem gosto disso. - ele respondeu e colocou as duas garrafas de café em cima da ilha móvel no centro da cozinha.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora