Alguns dias se passaram depois da nossa incursão infrutífera à cidade. A possibilidade de um bando dos ''famintos'' nos pegar desprevenidos deu aos homens mais o que fazer: patrulhar dia e noite os arredores da casa. Ainda não havíamos visto nenhum deles perambulando pela cidade, o que era extremamente estranho.O dia havia começado com o céu encoberto de nuvens carregadas, iria começar a chover a qualquer momento. Saí da casa e caminhei pela mata rasteira encoberta de orvalho até chegar nos limites da cerca que delimitava a propriedade. Lobo Selvagem empunhava uma espingarda calibre doze e olhava distraído a paisagem a sua esquerda. Me aproximei sorrateira e imitando um ''faminto'' mordi seu vigoroso bíceps direito, o que o fez rir. Eu fazia aquilo quase todas as manhãs.
- Que tal o meu sabor hoje? - ele perguntou ao me erguer em seus braços e beijar meu pescoço.
- Igual a ontem. - respondi. - Lobo pela manhã me cai super bem.
Lobo Selvagem sorriu, o que enrugou levemente as laterais de seus olhos e vincou suas bochechas, lhe dando covinhas.
- Vão sair hoje? - ele me sentou no alto da cerca e eu lhe entreguei uma garrafa d'água.
- Iremos. Vamos nos dividir em pequenos grupos e vasculhar mais um pouco a cidade, caso não encontremos nada por aqui, vamos para as cidades vizinhas.
- Isso é mesmo necessário? Podemos só reforçar essa cerca, ficaremos bem. Não há ''famintos'' por aqui.
- Não tenha tanta certeza disso. Se nos acostumarmos com essa idéia, vamos morrer cedo. Essa praga chegou em todos os lugares em que passamos. Está em nível nacional e me arrisco a dizer que até global, por aqui não seria diferente. É só uma questão de tempo até que os primeiros mortos apareçam zanzando por aí.
- Na minha cidade demorou a aparecer. Em um dia estava tudo bem e no seguinte havia um bando deles soltos na rua da minha casa. Eu nunca vou me esquecer daquele dia, o dia em que quase morri pela primeira vez. A minha mãe se tornou uma daquelas coisas e eu gostaria de saber como. Por tudo o que reparei nos ''famintos'' com que me deparei é que quase todos eles levaram alguma mordida e minha mãe não tinha nenhuma. Como ela pode ter sido infectada?
- Sei lá, talvez essa doença esteja no ar e todos nós estamos condenados a ela.
- Só sei que nada sei. - respondi e pulei do alto da cerca, caindo em pé. - Vamos tomar o café da manhã. Hoje o dia vai ser longo.
Lobo Selvagem pegou em minha mão e seguimos em direção a casa. Ainda não havíamos oficializado nada, mas também não fazíamos questão alguma de esconder que estávamos nos conhecendo melhor. Ao adentrar a cozinha pela porta lateral meu irmão preparava o café. Ele nos olhou de rabo de olho antes de soltarmos nossas mãos.
- Henri. - Lobo Selvagem o cumprimentou e abriu a porta da geladeira.
- Bom dia, maninho. - me aproximei e beijei sua bochecha.
- Bom dia. Alguma movimentação estranha lá fora? - Henri perguntou.
- Tudo tranquilo. Nada fora do comum... - Lobo Selvagem respondeu e serviu um copo com suco de cor vermelha.
Pente Fino entrou no cômodo - como se não tivesse nos vistos - e abriu a geladeira, vasculhando, ansiosa, seu interior.
- Quem foi que tomou meu Gatorade de novo? - ela perguntou e nos encarou com uma das mãos na cintura.
Eu balancei a cabeça e Lobo Selvagem também. Ela encarou Henri e quase faltou fuzilá-lo com os olhos.
- Não olhe 'pra' mim. Eu nem gosto disso. - ele respondeu e colocou as duas garrafas de café em cima da ilha móvel no centro da cozinha.
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Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos Mortos
HorrorAquela era para ser mais uma manhã pacata na vida de Melina Reis. Ela se preparava para uma entrevista de trabalho quando percebera que estava vivendo um Apocalipse Zumbi. As pessoas que ela costumava conhecer começaram a agir de forma irracional. S...