Pente Fino havia destrancado uma das salas no primeiro andar onde ficavam os equipamentos e utensílios médicos, assim como todo e qualquer medicamento que tínhamos na casa. Aquela sala havia se tornado uma enfermaria improvisada quando chegamos e Mamba Negra havia feito dela seu quarto nas primeiras semanas. Agora tudo o que se via era uma cama comum na parede oposta a uma janela, os armários de madeira todos com fechadura e a maioria fechado e caixas amontoadas em um canto. Por mais que o cômodo fosse grande, a quantidade de gente presente nele estava me deixando claustrofóbica. Marlene havia acabado de jogar no lixo a camiseta ensanguentada que ela havia cortado e tirado do corpo de Benny. Suas mãos eram ágeis, o que me fez pensar que era assim que ela e minha mãe faziam no hospital onde as duas trabalhavam juntas.Águia e Tonho colocaram Benny sentado por um momento para que ela auscultasse as vias respiratórias e procurasse por lesões em suas costas. Seu ombro esquerdo estava levemente inchado. Não havia marcas de dentes em seu abdômen. Aparentemente. Ele gemeu quando o colocaram deitado de volta na cama.
Todos faziam alguma coisa: uns estavam em cima de Benny ajudando Marlene a movê-lo, Pente Fino lia rapidamente rótulos de frascos de vidros já com uma seringa preparada para medicá-lo assim que achasse a medicação correta, Íris estava com seus olhos azuis tão abertos que eu achei que pudessem saltar das órbitas a qualquer momento. Ela fazia o papel da namorada preocupada na cabeceira da cama, segurando a mão dele.
Pente Fino achou o que precisava e enfiou a agulha dentro do frasco e aspirou o líquido transparente. Deu dois petelecos nela, para retirar o ar de dentro da seringa e espetou no braço de Benny. Ela olhou para mim e para Stella que estava parada, em choque, em um canto do quarto observando tudo. Ninguém havia notado ela ali. Muito menos eu, a mãe dela.
- Quer ajudar? - Pente Fino perguntou para mim, pegando outro frasco de líquido transparente de um dos bolsos de sua calça de moleton.
Eu confirmei com a cabeça. Ávida para ajudar no que fosse preciso.
- Tire a garota daqui. Agora.
A decepção preencheu meu cenho, mas alguém precisava tirar Stella dali e ninguém melhor do que eu para fazer aquilo. Caminhei em direção da menina e me abaixei, ficando de joelhos, na frente dela.
- Eu sabia que o meu pai tinha sido mordido. - uma lágrima grossa e pesada rolou pelo seu rosto, pingando em seu peito.
- Ele não foi mordido. - eu não tinha tanta certeza daquilo, mas precisava ser otimista. - O Benny apenas se machucou, mas ele vai ficar bem.
- Você é uma mentirosa. O meu pai vai morrer.
Nesse instante, Benny acordou meio grogue e com os braços estendidos na frente do corpo tentou nos alcançar, mas foi contido pelos que estavam em cima dele, deitando-o novamente na cama. Ele tinha a aparência de um ''faminto'', sua roupas eram farrapos e seu corpo estava coberto de sangue. Stella deu um grito apavorante e saiu correndo pela porta. Todos olharam em sua direção, mas não por muito tempo, pois Benny precisava de cuidados imediatos. Levantei e, frustrada, passei as mãos pelo rosto.
- Ei. - Pente Fino chamou novamente, fazendo-me virar em sua direção. - Traga água quente e toalhas. Por favor.
Dei mais uma olhada em Benny, que estava com o rosto virado na direção oposta a minha, e saí da enfermaria. Cheguei na cozinha em poucos passos, talvez eu tenha corrido, não me lembro. Só o que me lembro é de estar sufocada, totalmente sem ar. Apoiei as mãos nos joelhos e forcei os pulmões a trabalharem. Minha cabeça doía, parecia que ia explodir. Com toda a força vontade, me levantei, peguei uma chaleira e a enchi com água, colocando-a sobre o fogão aceso. Fui até a lavanderia e peguei quatro toalhas felpudas no armário onde ficavam as roupas de cama, mesa e banho excedentes. Joguei as toalhas de qualquer jeito em cima de um dos balcões, abri a porta lateral da cozinha, me debrucei sobre uma lixeira e vomitei. Aquilo me deu certo alívio. Me recompus rapidamente.

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Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos Mortos
HorrorAquela era para ser mais uma manhã pacata na vida de Melina Reis. Ela se preparava para uma entrevista de trabalho quando percebera que estava vivendo um Apocalipse Zumbi. As pessoas que ela costumava conhecer começaram a agir de forma irracional. S...