Capítulo 16: Pregos x Pneus | Parte 2

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Oito horas depois...


– Nós vamos morrer.

Lágrimas escorriam rápidas demais dos meus olhos. Benny segurou meu rosto entre suas mãos e beijou minha têmpora de uma forma terna. Passei a mão em sua cintura e desembainhei sua pistola do coldre. Coloquei-a em sua mão e apontei para a minha cabeça. Benny negou. Ele queria soltá-la, mas entrelacei nossas mãos em volta da arma.

– Por favor. Eu não quero virar um deles... – pedi.

Abracei sua cintura, soltando a arma. Senti que ele balançava a cabeça, assentindo, sobre meu ombro.

– Queria ter te conhecido antes de tudo isso... – ele disse em meu ouvido.

Aquela declaração me fez sorrir. Houve um estrondo no cômodo ao lado, pelo visto aquela porta podre havia caído. Me aninhei em seu peito. Eu não estava com medo da morte e sim da forma como morreria. Respirei fundo e aguardei o tiro de misericórdia que recebia logo a seguir.

– Eu também. – sussurrei e respirei fundo. – Obrigada!

O agradeci por tudo o que ele havia feito por mim, uma completa estranha que ele nunca havia visto antes na vida. E principalmente por ter me ajudado a salvar todas aquelas pessoas que eu considerava minha família. Ele não tinha o porquê salvá-las ou me salvar e mesmo assim o fez. O abracei ainda mais forte. Os grunhidos estavam cada vez mais perto. Inúmeros passos se aproximavam. O cheiro de morte impregnou o ambiente. Benny acariciou meu rosto. Tentei sorrir, mas não consegui. Eu estava prestes a morrer pelas mãos do homem que eu mais confiava em todo aquele fim do mundo. Uni nossas bocas em um último beijo. O beijo da despedida. Encostei novamente o cano da arma em minha cabeça.

– Faça. – ordenei.

Fechei os olhos.

Ouvi o engatilhar da arma.

Um disparo foi efetuado.

O tiro encontrou o seu alvo.

Eu ainda estava viva.

O corpo morto de uma das criaturas caiu pesado no chão.

– O que você 'tá' fazendo? – olhei para Benny preocupada. Não havia possibilidades de sairmos vivos daquele galpão. Estávamos cercados.

– Não posso fazer isso. Eu tenho... deixa eu ver... – Benny retirou o carregador da pistola, verificou a munição e logo o encaixou novamente. – tenho três balas. Isso vai dar tempo.

– Tempo de quê?

– De você fugir. Você vai pular por aquela janela basculante ali e vai correr o mais rápido que conseguir 'pra' longe daqui. – Benny indicou a janela no alto de uma das paredes. Retirou um papel do bolso da calça e colocou na palma da minha mão. – Aqui está o endereço da minha propriedade em Tutinah. Agora vá 'pra' casa, Melina.

– Você enlouqueceu? Eu não vou te deixar aqui. Se chegamos até aqui juntos, vamos morrer juntos também, 'tá' me ouvindo? Não vou te abandonar aqui...

O abracei novamente. Enfiei o papel de volta no bolso de sua calça e aguardei pelo inevitável. Os grunhidos vinham de todas as partes, estavam mais altos e enfurecidos. Benny encostou minha cabeça em seu peito e cobriu minha orelha com a mão livre. Seu grito, um urro angustiante, preencheu a sala, chamando mais ''famintos'' para a nossa direção. Ele disparou os últimos três tiros e continuou puxando o gatilho, fazendo um clique seco, como se aquelas balas invisíveis pudessem nos salvar. Uma mão tateou descoordenada pela minha blusa de frio, mas logo cravou os dedos firmes pelo meu braço, fazendo pressão suficiente para eu começar a sentir dor.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora