Uma leve brisa trouxe um cheiro que há muito eu não sentia: carne em decomposição. ''Famintos''. Passei a mão na faca Bowie e a empunhei na defensiva. Estaria preparada caso aparecesse um deles por ali, pois havia algum não muito longe dali. Umedeci os lábios secos e sequei o suor que brotou em minha testa com o antebraço. Caminhei apreensiva até o final do quarteirão a fim de encontrar a fonte daquele odor pútrido, mas não achei nada. Corri de volta para onde o ônibus estava estacionado e quando cheguei lá o grupo estava reunido e ansioso. Ouvi um ''Meu Deus'' conforme me aproximava daquelas pessoas que me olhavam como se eu fosse um ET.
- Por onde você se meteu? - Lobo Selvagem perguntou, mas eu não respondi, o que fez com que ele segurasse grosseiramente em meu braço.
- Eu estou aqui agora, não estou? - esquivei-me, tentando me livrar de seu aperto.
- Ficamos preocupados com você.
- Deveria ter se preocupado com sua mais nova amiga.
- Mel, não faz assim...
- Tá machucando meu braço. - disse rispidamente.
Na mesma hora Lobo Selvagem afrouxou o aperto e consegui entrar no ônibus, seguida por olhares de piedade. Segui direto para o segundo andar, não estava a fim de conversar e muito menos continuar recebendo tanta atenção gratuita por causa do meu olho inchado e possivelmente roxo. Como se Benny adivinhasse que eu iria 'pra' lá, lá estava ele me aguardando. Dei um passo para trás, mas eu não voltaria para o andar de baixo.
- Merda. - xinguei baixinho. - Viu o que sua namorada fez comigo? - perguntei e indiquei meu rosto.
- Soube que foi você quem começou... - ele respondeu.
Ri sem achar graça da situação e me sentei na poltrona ao seu lado.
- E isso importa? Se foi eu ou se foi ela?
- Claro que importa. Você não a conhece como eu conheço. Não deveria se meter com ela...
- Por quê? Porque ela pode deixar o meu outro olho roxo?
- O que há de errado com você, Melina? Anda tão introspectiva ultimamente, se afastando de todos. Nunca vemos você pela casa ou em qualquer outro canto. E agora deu 'pra' sair socando as pessoas.
-Virou psicólogo agora? Você só está preocupado porque soquei o rostinho bonito da sua namorada. Pena que não temos mais hospitais funcionando, senão ela poderia fazer outra plástica naquele nariz torto dela.
- Melina... - Benny segurou firme as minhas mãos - Eu me preocupo com você. A Íris pode ser difícil de lidar às vezes, ela sempre teve tudo o que quis...
- Inclusive você, não é? Fiquei sabendo como se conheceram... Ela fez questão de contar a história de vocês. Falou um pouco sobre você também.
Benny ficou tenso ao ouvir aquilo e não me encarou mais.
- O que ela disse sobre mim?
- Não se preocupe. Ela só disse que você era do Exército, que perdeu sua esposa para o seu melhor amigo e que a ajudou fugir do seu antigo grupo. Nada além disso...
Ele suspirou aliviado. Soltei minhas mãos das dele e alisei as dobras da calça que vestia. O silêncio que pairou entre nós era asfixiante.
- Quer saber mais alguma coisa sobre mim? - ele estava aberto a responder as minhas perguntas.
Eu o conhecia há algum tempo e mesmo assim ele era um completo estranho para mim. Eu queria saber tudo sobre ele, mas não conseguia colocar em palavras o que havia em minha mente. Pigarreei desconsertada depois de gaguejar meia palavra. Balancei negativamente a cabeça, sem saber o que responder, ou melhor, o que perguntar.
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Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos Mortos
HorrorAquela era para ser mais uma manhã pacata na vida de Melina Reis. Ela se preparava para uma entrevista de trabalho quando percebera que estava vivendo um Apocalipse Zumbi. As pessoas que ela costumava conhecer começaram a agir de forma irracional. S...