As semanas seguintes passaram voando. A cerca em volta da propriedade estava sendo erguida de vento em polpa. Mesmo quem não podia pegar no pesado estava ajudando de alguma forma. Até Mamba Negra com seu um braço e meio fazia questão de ajudar. Segundo ele, todos deveriam contribuir para o que estávamos construindo ali. E ele não se referia somente a cerca.
Padre Lázaro gostava de ser útil ao invés de só decorativo e ficou decepcionado por não poder ajudar os outros homens na construção da cerca, por conta de seu problema na coluna. Tonho havia tido a idéia de fazer uma pequena horta. Ele havia arado o campo e plantou vários grãos no solo preparado. Stella adorava ajuda-lo, era seu passatempo preferido. E ela o levava muito a sério.
Pente Fino estava me evitando desde o dia em que eu chegara de volta na casa. Ela quase nunca saía do quarto e quando o fazia não dava papo 'pra' ninguém. Eu sentia falta de nossas conversas sobre coisas aleatórias. O máximo de contato que tivemos foi quando ela me entregara algumas cartelas de ácido fólico e me instruiu como tomar os comprimidos corretamente.
Patrick, Ian e Ricardo - a trupe - haviam vasculhado as casas vizinhas e achado uma vaca leiteira e algumas galinhas. Era bem provável que aqueles animais famintos e desnutridos não produzissem nada que pudesse ser aproveitado. Só o tempo nos diria se se recuperariam por terem passado tanto tempo comendo tão parcamente.
Lobo Selvagem havia decidido reformar a casa do caseiro morto e se mudar 'pra' lá. Ele retirou alguns móveis arruinados do interior da residência e estava pintando as paredes. Me ofereci para ajudá-lo, mas ele não permitia que eu movesse uma palha sequer, estava sendo exageradamente cuidadoso comigo. E com o neném. Minha barriga já estava estufada, me deixando com uma cinturinha arredondada. Eu tentava esconde-la ao máximo usando roupas largas e evitava contatos íntimos, como abraços. Eu ainda não estava preparada para falar sobre aquela gravidez. Com ninguém.
Eu havia conversado seriamente com Marlene e ela me explicara como meu irmão e ela haviam começado a ter sentimentos um pelo outro. Era estranhíssimo pensar neles como um casal - por eu considerar Marlene uma segunda mãe - mas eu teria que me acostumar, assim como estava me acostumando àquela vida e a conviver com todas àquelas pessoas tão distintas umas das outras.
Benny e Íris pareciam ter se acertado de vez. Estavam sempre juntos e tudo levava a crer que curtiam a companhia um do outro. Eles saiam muito e, às vezes, só voltavam depois de dias. Benny dava notícias de seu paradeiro todos os finais de tarde através de um rádio comunicador que encontrara na delegacia da cidade vizinha. Por mais que eu tentasse dizer para mim mesma que eu não queria saber nada sobre ele, me pegava ansiosa aguardando notícias suas durante o jantar. Todas as noites.
Ele e a Barbie Maligna haviam chegado de mais uma longa incursão sabe-se lá onde. Passaram o dia no quarto e só desceram no início da noite. Todos já haviam se servido quando os dois se juntaram a nós na sala de jantar. Tentei não encara-los, mas vi que Benny mancava de uma das pernas e sua barba estava consideravelmente grande, em contraste com o cabelo, que ele havia raspado. Stella levantara correndo da mesa, quase derrubando o copo d'água a sua frente, e se jogou em seus braços. Íris revirou os olhos e fez um muxoxo. Saiu rebolando seu rabo magrelo até umas das cadeiras e se sentou. Benny a acompanhou, com a pequena em seu encalço. Ele cumprimentou os presentes à mesa, correndo os olhos ao redor da sala de jantar. Nossos olhos se encontraram brevemente, mas ele ignorou minha presença. Engoli em seco e encarei o prato a minha frente. Aquilo me fizera perder o apetite. Lúcio contava algum caso interessante, visto que as pessoas ao nosso redor o observavam atentas, mas eu não estava mais prestando atenção ao falatório.
- A mãe da Mel também mandava muito bem na cozinha, mas quase nunca estava presente nos últimos anos. A mulher vivia para o trabalho... - Lúcio disse e mordiscou um pedaço de pão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos Mortos
HorreurAquela era para ser mais uma manhã pacata na vida de Melina Reis. Ela se preparava para uma entrevista de trabalho quando percebera que estava vivendo um Apocalipse Zumbi. As pessoas que ela costumava conhecer começaram a agir de forma irracional. S...