40. Uma rotina vazia

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Os dias no palácio se arrastavam como se cada hora fosse um ano. Felix estava preso em uma rotina vazia, preenchida por silêncio e solidão. Cada manhã começava da mesma forma: ele acordava sozinho, tomava banho e vestia um de seus trajes formais antes de descer para o salão de jantar. Lá, encontrava a enorme mesa posta, mas apenas ele ocupava um dos assentos.

O café da manhã era sempre o mesmo. A comida estava impecável, uma refeição digna de um rei, mas Felix quase não sentia o sabor. Ele comia devagar, empurrando os pedaços pelo prato, o olhar perdido na imensidão do salão vazio. Hyunjin não aparecia. Ele não o via desde a noite em que o encontrou na torre, pintando algo que Felix não conseguira discernir.

Depois do café, Felix se refugiava na biblioteca. Era o único lugar onde ele conseguia encontrar algum tipo de conforto. Ele vagava pelas prateleiras, os dedos passando pelas lombadas dos livros, até escolher algum que chamasse sua atenção. Romance, suspense, ficção científica — ele lia de tudo, tentando se perder em histórias que o afastassem de sua própria realidade.

Às vezes, as palavras dos livros o distraiam. Ele se envolvia nas tramas e personagens, mas inevitavelmente sua mente voltava a Hyunjin. A imagem dele pintando, as mãos delicadas mas firmes segurando o pincel, o olhar intenso e concentrado. Felix se perguntava o que Hyunjin pintava e por que ele parecia tão decidido a mantê-lo afastado.

Quando o sol começava a se pôr, Felix deixava a biblioteca e ia para os jardins congelados. Ali, ele caminhava lentamente, apreciando o frio cortante que combinava com seu humor. Ele brincava com seus poderes, criando pequenas esculturas de gelo. As formas eram delicadas, quase etéreas: flores, pássaros, estrelas. Ele também gostava de conjurar flocos de neve que dançavam ao redor dele, uma pequena tempestade particular em meio ao vazio.

Mas por mais que tentasse se distrair, a ausência de Hyunjin o seguia como uma sombra. Felix sentia falta dele com uma intensidade que doía. Era como se uma parte essencial de si estivesse ausente, deixando apenas um espaço oco em seu peito.

À noite, após um jantar solitário, ele voltava para seu quarto. Ali, longe dos olhares curiosos dos criados, ele se permitia desmoronar. As lágrimas começavam a escorrer assim que ele se deitava. Não era um choro contido ou discreto, mas algo profundo, desesperado. Felix chorava todas as noites, apertando o travesseiro contra o rosto para abafar os soluços.

Ele se sentia invisível. Era como se Hyunjin tivesse deixado de existir, e essa indiferença o destruía por dentro. Felix se perguntava o que tinha feito de errado, por que Hyunjin estava tão distante. Ele revivia a noite que compartilharam, o calor de seus corpos, a conexão intensa que parecia ter significado tanto. Agora, parecia que aquilo não tinha significado nada para Hyunjin.

Cada lágrima que Felix derramava era carregada de saudade e dor. Ele queria entender, queria respostas, mas acima de tudo, queria Hyunjin. Ele queria que Hyunjin o visse, o tocasse, o quisesse da mesma forma que Felix o queria. Mas, com cada dia que passava, a esperança de que isso acontecesse parecia se afastar cada vez mais.

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