16. Treino prático

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Na manhã seguinte, Felix acordou bufando, o rosto parcialmente enterrado no travesseiro enquanto murmurava uma série de reclamações para si mesmo. Era a terceira noite seguida que sonhava com Hyunjin, e desta vez as malditas trufas tinham sido as protagonistas de seu tormento. Não conseguia tirar da cabeça a maneira como Hyunjin o observava, como seus dedos haviam roçado seus lábios.

— Esse cara vai me enlouquecer — resmungou, jogando as cobertas para o lado e se levantando de mau humor.

Depois de um banho rápido, vestiu-se como de costume, optando por um conjunto azul claro que contrastava com a tonalidade quente de sua pele e destacava as sardas em seu rosto. Prendeu o cabelo parcialmente, deixando algumas mechas loiras caírem soltas sobre os ombros, e passou o gloss em seus lábios, mesmo sabendo que o brilho chamaria a atenção.

Ele seguiu para a biblioteca, decidido a evitar qualquer interação desnecessária com Hyunjin. O plano era estudar em paz e esquecer os últimos dias, mas assim que empurrou as grandes portas, seus olhos encontraram a figura já familiar do príncipe.

Hyunjin estava ali, encostado casualmente em uma das estantes, como se tivesse todo o tempo do mundo. Ele olhou para Felix com um sorriso ligeiro, como se soubesse exatamente o que passava pela mente dele, o que só irritou Felix ainda mais. Antes que Felix pudesse dizer algo ou sequer pensar em um cumprimento educado, Hyunjin afastou-se da estante e começou a caminhar na direção da porta.

— Vamos — disse Hyunjin, sem sequer parar para olhar para trás.

Felix franziu o cenho, confuso.

— Vamos? Para onde?

Hyunjin parou apenas o suficiente para lançar um olhar de quem não aceitaria perguntas.

— Hoje você vai pôr em prática tudo o que leu sobre seus poderes — disse ele com naturalidade, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Felix abriu a boca para protestar, mas antes que conseguisse formular qualquer frase, Hyunjin já estava seguindo em frente, com passos confiantes.

Felix respirou fundo, irritado com a atitude autoritária do príncipe, mas algo no tom dele o fez seguir sem mais perguntas. Enquanto caminhava atrás de Hyunjin pelos corredores do palácio, Felix se perguntava o que exatamente ele tinha em mente e, mais importante, por que a simples presença de Hyunjin fazia seu coração acelerar como se estivesse prestes a enfrentar algo muito maior do que apenas o treinamento.

...

Os jardins do palácio eram um vasto labirinto de arbustos perfeitamente aparados, fontes congeladas e árvores de galhos nus que balançavam suavemente ao sabor do vento frio da manhã. Felix encolheu os ombros ao sair da proteção do calor interno, sentindo o gelo no ar morder sua pele exposta. Ele odiava essa sensação. Era estranho para alguém como ele, que costumava não sentir frio graças aos seus poderes, ter que lidar com o incômodo gelado do reino.

Hyunjin vestiu uma capa de veludo preta por cima de seu conjunto formal vermelho, o tecido pesado contrastando com o brilho de sua pele. O príncipe parecia quase teatral, como se aquela capa fosse uma extensão natural de sua presença imponente. Sem dizer nada, ele retirou outra capa — desta vez, de um tom azul profundo, bordada com detalhes prateados — e a entregou a Felix.

— Vista. Vai ajudar com o frio — disse ele simplesmente.

Felix hesitou por um instante antes de pegar a capa. Ele a colocou sobre os ombros, puxando-a para frente e prendendo o fecho no pescoço. O veludo era pesado e reconfortante, mas também um lembrete irritante de sua condição atual. Ele ainda não recuperara os poderes, e isso o fazia se sentir vulnerável, como se algo vital tivesse sido arrancado dele.

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