Felix caminhou até a pia com passos lentos, a queimadura na curva da cintura latejando a cada movimento. Ele pegou a toalha de linho que estava pendurada ao lado do lavatório e a molhou com a água gelada da jarra que descansava ali. O líquido escorreu pelos dedos dele, gelando sua pele, mas Felix não se importou. Ele torceu a toalha e voltou para o espelho, se virando parcialmente para expor a queimadura.
A pele ali estava avermelhada, um vergão vivo que ainda pulsava, lembrando-o de cada segundo do toque de Hyunjin. Ele pressionou a toalha contra a queimadura, chiando baixo quando a dor o atingiu, uma mistura de ardência e alívio. Fechou os olhos, suspirando, tentando se concentrar na sensação fria que acalmava o calor na pele.
Porém, sua mente não o deixava em paz. A imagem de Hyunjin surgia, vívida, como se ainda estivesse ali no quarto. Ele conseguia se lembrar da expressão intensa nos olhos dele, das mãos grandes e quentes que o seguraram com tanta força, como se nunca quisessem soltar. Felix respirou fundo, mas o ar parecia preso em seu peito.
Ele abriu os olhos e encarou o reflexo no espelho. Seu rosto estava abatido, os olhos levemente avermelhados, denunciando a exaustão emocional. Hyunjin não o tocaria mais agora, ele sabia disso. Hyunjin estava determinado a manter distância até o compartilhamento de poderes, até o casamento. E isso estava deixando Felix louco.
Ele abaixou a toalha, largando-a de qualquer jeito sobre a pia, e se apoiou no mármore frio com ambas as mãos.
— Um mês... — murmurou para si mesmo, a voz rouca. Apenas um mês, mas parecia uma eternidade. Felix sentia o corpo pulsar, o desejo queimando em suas veias, uma necessidade tão visceral que quase o fazia chorar. Ele apertou os olhos, tentando afastar o nó em sua garganta. Ele queria Hyunjin agora. Não importava as regras, não importava a culpa. Ele o queria tanto que a ideia de esperar parecia insuportável.
Felix passou a mão pelos cabelos, bagunçando os fios lisos e loiros, e ergueu o rosto para o teto. Ele respirou fundo, como se isso pudesse afastar os pensamentos que o atormentavam, mas tudo que conseguiu foi sentir o cheiro suave que Hyunjin deixara no quarto. Era um aroma quente, como canela e fumaça, um lembrete constante de que ele estivera ali, de que Hyunjin o tocara, o beijara, o queimara.
— Droga... — Felix murmurou, cerrando os punhos. Hyunjin era uma presença constante, uma força que dominava seus pensamentos, sua vontade, seu corpo. E Felix sabia que não tinha escolha a não ser esperar. Esperar pelo dia em que Hyunjin o tocaria de novo, pelo dia em que aquele desejo avassalador seria finalmente saciado. Mas esperar parecia ser a maior tortura de todas.
Felix voltou para a cama, mas o sono parecia impossível de alcançar. Ele se jogou sobre os lençóis, mas logo se arrependeu quando a queimadura na cintura tocou a superfície macia do colchão, fazendo-o arquear as costas em dor. Ele bufou, frustrado, e sentou-se na beira da cama. Olhou para a janela, onde a luz pálida da lua entrava e iluminava o quarto. A noite estava quieta, mas sua mente era um turbilhão de pensamentos.
Passou os dedos pelos cabelos, afastando as mechas loiras do rosto, e suspirou profundamente. Hyunjin estava certo. Ele odiava admitir, mas havia verdade nas palavras dele. Felix tinha medo. E não era apenas medo do casamento ou do compartilhamento de poderes. Era algo mais profundo, mais perturbador. Ele tinha medo de ser usado. Medo de que tudo aquilo fosse uma manipulação, uma estratégia de Hyunjin para algo maior que ele não conseguia compreender.
Felix apertou os lábios, frustrado consigo mesmo.
— Eu não sou fraco — murmurou baixinho, quase como se precisasse convencer a si mesmo. Mas era exatamente assim que se sentia. Fraco. Vulnerável.
Fechou os olhos e tentou acalmar a mente. Lembrou-se das palavras que lera nos livros sobre controle de magia. "Para dominar o gelo, primeiro você deve entender o que está congelado dentro de você." Felix nunca havia entendido completamente o que aquilo significava, mas agora, naquela quietude opressiva do quarto, as palavras começaram a fazer sentido.
Talvez o que estivesse congelado dentro dele fosse exatamente aquele medo. Ele havia reprimido tantas coisas ao longo dos anos. O medo de não ser bom o suficiente. O medo de ser abandonado. O medo de estar sozinho. Tudo isso formava uma camada espessa de gelo em sua alma, uma barreira.
Felix suspirou novamente e estendeu as mãos na frente do corpo, fechando os olhos mais uma vez. Ele tentou se concentrar. A queimadura na cintura ainda latejava, mas ele ignorou a dor, forçando-se a se interiorizar, a mergulhar nas profundezas de si mesmo.
Por um momento, não sentiu nada. Apenas o vazio, o silêncio. Mas então, bem no fundo, ele percebeu algo. Era como uma fagulha, mas não de calor. Era fria, cortante, quase dolorosa. Felix ofegou, abrindo os olhos. Suas mãos estavam ligeiramente trêmulas, e uma fina camada de gelo começava a se formar na ponta de seus dedos.
Ele ficou imóvel, encarando aquilo. A fagulha estava lá, dentro dele. Felix apertou as mãos, dissipando o gelo. Ele precisava fazer isso em um lugar aberto. Felix levantou e pegou a capa de veludo azul.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Trono destruído
FanficNa terra distante de Terrasen, onde feéricos de poderes elementares governam vastos reinos, Felix, um assassino notório com a habilidade de manipular gelo, é capturado pelo Estado após uma missão fracassada. Preso em uma masmorra, ele aguarda sua ex...