Trono destruído

44. A carta

A noite havia caído, e o quarto de Felix estava imerso em um silêncio quase absoluto, quebrado apenas pelo som ocasional do vento contra as janelas. Ele estava de pé em frente ao espelho, segurando o terno cuidadosamente no cabide, como se fosse uma relíquia preciosa. Seus olhos percorriam cada detalhe prateado, cada bordado delicado em forma de floco de neve, admirando a perfeição do trabalho.

O terno era belo, isso era inegável. Havia algo nele que parecia gritar sua identidade, algo que era exclusivamente seu. Mas, ao mesmo tempo, Felix não conseguia evitar a pontada de nervosismo em seu estômago. Amanhã, ao pôr do sol, ele o usaria para se casar com Hyunjin.

Ele suspirou e levantou o cabide, analisando o terno sob a luz do abajur. O brilho suave do bordado parecia mágico, como se fosse feito de gelo verdadeiro. Por um instante, ele se permitiu sonhar com o que aquela peça representava — um novo começo, talvez até uma promessa de algo bom.

Mas então, uma batida suave na porta quebrou sua concentração. Felix piscou, voltando à realidade, e rapidamente pendurou o terno de volta no guarda-roupa. Ele ajustou a posição da peça com cuidado, como se estivesse protegendo algo sagrado, e caminhou até a porta.

Quando a abriu, encontrou o corredor vazio. Felix franziu o cenho, olhando para os lados, mas não havia ninguém ali. Foi então que notou um pequeno envelope branco repousando no chão, bem diante da entrada. Ele se abaixou para pegá-lo, sentindo um arrepio subir pela espinha.

De volta ao quarto, fechou a porta e se sentou na cama com o envelope nas mãos. O papel era de alta qualidade, macio ao toque, e tinha um aroma sutil de algo familiar — o perfume de Hyunjin.

Felix engoliu em seco, o coração batendo mais rápido enquanto deslizava o dedo para abrir o envelope. Lá dentro, havia uma única folha de papel dobrada, com uma caligrafia elegante e bem trabalhada. Ele reconheceria aquela escrita em qualquer lugar. Era de Hyunjin.

Felix ajustou a luz do abajur e desdobrou a carta com cuidado, as mãos tremendo levemente. Seus olhos correram pelas primeiras palavras.

"Felix,
Espero que tenha gostado do terno. Fiz questão de escolher cada detalhe para que representasse você — sua beleza, sua força, sua delicadeza."

Felix sentiu o coração apertar. Ele leu aquelas palavras repetidas vezes, quase incapaz de acreditar que Hyunjin havia escrito algo tão pessoal, tão atencioso.

"Quero que saiba que, mesmo que eu pareça distante, cada passo dessa cerimônia foi planejado pensando em nós dois. Você merece algo grandioso, algo especial, e espero estar à altura disso. Amanhã, ao pôr do sol, espero que possamos começar algo que transcenda tudo o que somos agora."

As mãos de Felix tremiam ainda mais. Ele sentia uma mistura de emoções tomando conta de si — confusão, alívio, tristeza e, acima de tudo, amor. Ele continuou lendo, os olhos se enchendo de lágrimas.

"Eu sei que cometi erros, Felix, mas quero fazer isso certo. Quero que este casamento seja o começo de uma nova vida, uma vida onde eu possa protegê-lo, amá-lo, sem medo de machucá-lo. Não há ninguém no mundo com quem eu prefira dividir minha eternidade."

Uma lágrima escorreu pela bochecha de Felix, caindo sobre o papel. Ele limpou rapidamente, com medo de borrar a caligrafia impecável de Hyunjin.

No final da carta, havia apenas uma última frase:

"Durma bem esta noite. Amanhã, tudo muda."

Felix deixou a carta repousar em seu colo enquanto encarava o vazio. Seu coração estava acelerado, suas emoções uma bagunça completa. Ele queria acreditar em Hyunjin, queria desesperadamente que aquelas palavras fossem reais. Mas a memória de toda a distância, toda a frieza que Hyunjin demonstrara nas últimas semanas, ainda pesava em sua mente.

Ele dobrou a carta com cuidado, como se ela fosse feita de vidro, e a guardou de volta no envelope. Então se deitou na cama, ainda segurando o papel contra o peito, sem saber se deveria chorar ou sorrir.