Dentro do quarto, Hyunjin permanecia imóvel, seus ombros tensos e o rosto rígido enquanto ouvia a voz de Felix chamando por ele do outro lado da porta. Cada palavra carregava uma intensidade que fazia sua determinação vacilar. Ele apertava as mãos com força, os nós dos dedos quase brancos, e seu peito subia e descia em uma respiração pesada. A necessidade de abrir aquela porta e puxar Felix para os braços era quase insuportável.
Quando Felix encostou a testa na porta e murmurou baixinho que precisava dele, Hyunjin fechou os olhos e prendeu a respiração. Aquela frase o atingiu como um golpe. Precisar... Ele sabia que Felix precisava dele tanto quanto ele precisava de Felix, mas essa era exatamente a razão pela qual ele tinha que resistir.
"Você não pode fazer isso", pensou, repetindo a frase como um mantra enquanto lutava contra o impulso de atravessar aquela barreira de madeira.
Quando finalmente ouviu os passos lentos de Felix se afastando, Hyunjin soltou o ar de maneira pesada, como se estivesse segurando a respiração desde que Felix havia chegado. Ele se deixou cair em uma cadeira ao lado da cama, passando as mãos pelos cabelos. Apesar do alívio momentâneo, o vazio deixado pela partida de Felix era esmagador.
A decisão que tomara havia sido clara desde a noite anterior. Na banheira, segurando Felix tão fraco e vulnerável, ele entendeu que estava brincando com fogo, literalmente. Felix era frágil. E mesmo que tivesse uma força interna surpreendente, Hyunjin sabia que o limite de Felix já havia sido ultrapassado naquela noite.
O amor que Hyunjin sentia por Felix era devastador em sua intensidade, mas justamente por isso ele não podia continuar arriscando a vida dele. O fogo que queimava dentro de Hyunjin — e que o conectava à sua própria essência — era algo que Felix não podia suportar. Ele não podia se dar ao luxo de perdê-lo em um momento de descuido.
A decisão de se afastar até o casamento não era algo que ele queria, mas era necessária. Quando compartilhassem seus poderes e suas forças se igualassem, Hyunjin sabia que poderiam estar juntos plenamente. Até lá, ele precisava resistir.
Ele levantou-se da cadeira e começou a caminhar pelo quarto, o olhar perdido, mas os passos firmes. Sentia-se como um animal enjaulado, o desejo por Felix queimando dentro dele, quase incontrolável. A cada passo, ele pensava na voz de Felix, nos toques dele, na forma como o corpo de Felix se encaixava perfeitamente no seu.
"Se eu o visse agora..." pensou Hyunjin, parando de repente no meio do quarto. Ele sabia o que aconteceria. Ele o puxaria para si, beijaria cada parte de Felix, e todo o controle que estava tentando manter se dissiparia.
Por isso, ele não havia saído do quarto desde que entrara. E não sairia. Não enquanto Felix estivesse acordado, andando pelo palácio.
Hyunjin sentou-se na beira da cama e passou as mãos pelo rosto, os dedos tremendo levemente. A necessidade de estar com Felix, de tocá-lo, era avassaladora, mas ele não podia se permitir ceder.
Ele olhou para a porta novamente, a memória da voz de Felix ecoando em sua mente. "Eu preciso de você."
E Hyunjin sabia, com cada fibra do seu ser, que precisava de Felix ainda mais. Mas, por amor, ele precisava se afastar.
...
Hyunjin se aproximou do grande espelho emoldurado que ficava ao lado do armário e ficou parado por um momento, analisando seu reflexo. A luz suave do quarto revelava as marcas azuladas e arroxeadas em seu corpo, queimaduras gélidas que ainda formigavam de dor. Ele deslizou os dedos sobre elas, cerrando os dentes ao sentir a ardência. As marcas eram claras: obra das mãos pequenas e ágeis de Felix.
Um suspiro escapou de seus lábios quando ele desviou o olhar, mas não pôde evitar um pequeno sorriso ao lembrar como cada uma daquelas marcas havia sido deixada. A lembrança da noite passada voltou com força, o inundando como uma onda quente, um contraste doloroso com a ardência gelada de sua pele. Ele se virou e começou a preparar mais uma compressa quente, algo que já havia feito várias vezes desde que amanhecera.
Enquanto segurava o pano aquecido contra as queimaduras, seus pensamentos vagaram sem controle. A mente o arrastou de volta para os momentos mais intensos: o som manhoso dos gemidos de Felix, tão doce e ao mesmo tempo tão cheio de desejo. Hyunjin conseguia ouvir a voz dele chamando por seu nome com aquela paixão rouca, algo que Hyunjin nunca esqueceria.
Ele se lembrou da forma como as mãos de Felix o agarraram com tanta força, como se ele fosse a única coisa que existia no mundo naquele instante. Eram mãos pequenas, mas carregavam um fervor que parecia não combinar com a delicadeza delas.
Hyunjin fechou os olhos e suspirou fundo, mas a memória não lhe deu trégua. Ele ainda podia sentir o gosto dos lábios de Felix, moldados em um perfeito formato de coração, e como aqueles beijos eram capazes de incendiar seu corpo inteiro. Havia algo único na forma como Felix o beijava: uma mistura de urgência e vulnerabilidade, como se cada beijo fosse uma confissão de algo que ele não podia expressar em palavras.
O sorriso nos lábios de Hyunjin se alargou, mas logo ele o reprimiu, balançando a cabeça, tentando afastar as imagens. Foi inútil. A lembrança de Felix cavalgando em seu colo voltou com uma clareza perturbadora. Ele sentiu os músculos do corpo se tensionarem com a memória. Aquela visão... Felix, arqueando o corpo de um jeito que parecia não natural de tão perfeito, os cabelos loiros grudando na testa úmida, os olhos semicerrados e a boca entreaberta, soltando gemidos que ecoavam em sua mente.
Hyunjin engoliu em seco e cerrou os punhos, pressionando o pano quente contra o ombro com mais força do que o necessário. Mesmo naquele instante, ele quase podia sentir a pressão do corpo de Felix ao seu redor, o calor sufocante e o aperto que o fazia perder o controle.
— Maldição... — Hyunjin sussurrou para si mesmo, fechando os olhos com força.
A lembrança era tão intensa que parecia real. Ele sabia que precisava parar de pensar nisso, mas cada tentativa era um fracasso maior do que a anterior. A verdade era que ele não conseguia se afastar de Felix nem em pensamento.
Hyunjin jogou o pano na pia, inclinando-se sobre o balcão, respirando fundo para se recompor. Ele abriu os olhos, encarando seu reflexo novamente. As queimaduras ainda estavam ali, como um lembrete físico daquela noite. Um lembrete de algo que ele sabia que não deveria ter acontecido.
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Trono destruído
أدب الهواةNa terra distante de Terrasen, onde feéricos de poderes elementares governam vastos reinos, Felix, um assassino notório com a habilidade de manipular gelo, é capturado pelo Estado após uma missão fracassada. Preso em uma masmorra, ele aguarda sua ex...