41. Uma declaração

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A noite estava silenciosa, e o quarto de Felix estava mergulhado na penumbra. As cortinas balançavam levemente com a brisa noturna, mas o jovem continuava imóvel na cama, respirando calmamente, como se estivesse em um sono profundo. Ele não esperava visitas naquela noite, muito menos do homem que ocupava todos os seus pensamentos.

O som da porta se abrindo foi sutil, quase inaudível, mas suficiente para Felix despertar. Ele não se mexeu. Não abriu os olhos. Sua respiração permaneceu ritmada, treinada pela necessidade de parecer inabalável. Então, o perfume inconfundível de Hyunjin encheu o quarto, rico e envolvente, um aroma que era tão Hyunjin que fez o coração de Felix disparar instantaneamente.

Ele ouviu os passos silenciosos no chão de mármore, cada movimento cuidadosamente calculado. Hyunjin estava se aproximando. Felix permaneceu quieto, esperando. Ele se forçou a ignorar o som de seu coração martelando contra as costelas, como se temesse que Hyunjin pudesse ouvi-lo.

A cama afundou ligeiramente quando Hyunjin se sentou à beira dela. Felix sentiu a proximidade antes mesmo de sentir o toque. O calor que emanava do corpo de Hyunjin era inconfundível, como se ele fosse uma chama viva. Felix engoliu seco, tentando manter a calma, mas então veio o toque.

A mão de Hyunjin deslizou pelo rosto de Felix, quente e firme, com um cuidado que parecia em desacordo com tudo que ele era. Os dedos longos traçaram o contorno de sua bochecha, enquanto o polegar acariciava a maçã do rosto em movimentos lentos e quase reverentes. Felix se segurou com todas as forças para não abrir os olhos, para não ceder à vontade desesperada de se lançar nos braços dele.

A palma de Hyunjin era quente, quase reconfortante, e a intensidade do gesto fazia Felix se perguntar o que Hyunjin estava pensando. Ele sentia o toque como se fosse um segredo compartilhado, algo que deveria ser guardado entre eles e mais ninguém.

Hyunjin ficou ali por longos segundos, sua mão ainda no rosto de Felix. Felix podia ouvir sua respiração, lenta e controlada, mas carregada de algo mais, algo que ele não conseguia decifrar. Ele desejava saber o que Hyunjin via nele naquele momento. Será que Hyunjin sabia o efeito que tinha sobre ele? Será que ele sentia o mesmo?

O toque cessou tão repentinamente quanto começou. Hyunjin se levantou, e Felix sentiu a cama retornar à sua posição normal. Ele ouviu os passos se afastarem e o som da porta se fechando suavemente, como se Hyunjin quisesse apagar qualquer evidência de sua presença.

Felix finalmente abriu os olhos, seu coração ainda disparado, seus lábios trêmulos. Ele levou a mão ao rosto, onde ainda podia sentir o calor do toque de Hyunjin. Hyunjin ainda estava ali. De alguma forma, ele ainda se importava.

Felix saiu do quarto em um ímpeto, os pés descalços batendo no chão frio enquanto ele percorria os corredores do palácio. O ar parecia mais denso, o silêncio da noite o cercando enquanto ele corria, decidido a alcançá-lo. Ele sabia que Hyunjin não podia ter ido longe; Felix sentia sua presença, como se fosse um calor constante que chamava por ele.

Ele virou um corredor e o viu. Hyunjin estava andando lentamente, com a postura rígida e os ombros tensos, como se carregasse um peso invisível.

— Hyunjin! — Felix chamou, sua voz tremendo, mas forte o suficiente para ecoar pelas paredes altas.

Hyunjin parou. Ele não se virou imediatamente, apenas ficou ali, de costas, como se estivesse decidindo se deveria responder. Felix sentiu o coração apertar, mas não desistiu.

— Por que você está fazendo isso? — Felix continuou, dando alguns passos em sua direção. — Por que está me evitando? Por que se afastou de mim?

Hyunjin finalmente se moveu. Ele virou a cabeça ligeiramente, permitindo que seus olhos escuros encontrassem os de Felix por cima do ombro. Seu rosto estava impassível, uma máscara fria e impenetrável que Felix odiava.

— Eu quase te destruí, Felix. — A voz de Hyunjin era baixa, controlada, mas carregava um peso que perfurava Felix como uma lâmina. — Eu quase te queimei inteiro. Não quero correr o risco de fazer pior.

Felix deu um passo adiante, ignorando o nó que se formava em sua garganta.

— Eu também te queimei, Hyunjin! — ele rebateu, sua voz quebrando com a intensidade. — Não foi algo que pudemos controlar. Nós dois estávamos...

— Isso não importa. — Hyunjin o interrompeu, balançando a cabeça com firmeza. Ele se virou completamente desta vez, o rosto ainda inexpressivo, como se tivesse decidido se fechar completamente. — Eu sou o maior risco para você, Felix. Quanto mais perto eu fico, maior o perigo.

Felix sentiu as lágrimas brotarem. Ele tentou segurar, tentou ser forte, mas a dor de ser afastado era esmagadora. Ele deixou escapar um soluço, sua voz falhando quando falou novamente.

— Você não entende... Eu preciso de você, Hyunjin. — Ele apertou os punhos ao lado do corpo, as lágrimas escorrendo por suas bochechas pálidas. — Eu preciso de você como nunca precisei de ninguém.

Hyunjin continuou imóvel, seus olhos sombrios fixos nos de Felix. Ele não disse nada, sua expressão permanecendo fria, como se quisesse ignorar a intensidade do que Felix estava dizendo.

— Você vai mesmo ficar aí? — Felix chorou, sua voz subindo em desespero. — Você vai me olhar assim, como se eu não significasse nada?

Hyunjin não respondeu. Sua impassibilidade cortava Felix como facas.

E então, Felix explodiu.

— Eu te amo, Hyunjin! — ele gritou, sua voz ecoando pelo corredor vazio. O peso das palavras parecia quebrá-lo enquanto ele as dizia. — Eu te amo, e... e eu sinto muito por isso. Me desculpe por te amar tanto.

A declaração pairou no ar, carregada de dor e vulnerabilidade. Felix olhava para Hyunjin, esperando algo, qualquer coisa, enquanto as lágrimas continuavam caindo livremente.

Hyunjin fechou os olhos, como se estivesse tentando se blindar contra o impacto das palavras. Ele respirou fundo, mas quando abriu os olhos novamente, ainda havia frieza neles.

— Vai para o seu quarto, Felix. — Ele disse simplesmente, sua voz tão controlada quanto antes.

Felix deu um passo para trás, como se tivesse levado um golpe no estômago. Ele mordeu o lábio, tentando conter um soluço. Por fim, sem mais palavras, ele se virou e correu de volta pelos corredores, deixando Hyunjin para trás.

E Hyunjin ficou ali, sozinho, a expressão impassível finalmente se quebrando quando ele passou a mão pelos cabelos e suspirou profundamente. Por mais que quisesse, ele sabia que precisava resistir. Por Felix. Por ambos.

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