18. Tentando esquecer

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A noite já havia se instalado por completo, e a biblioteca estava mergulhada em um silêncio quase absoluto, interrompido apenas pelo som ocasional da pena de Felix riscando o papel ou pelo farfalhar suave de páginas sendo viradas. Uma única vela tremeluzia ao lado de Felix, projetando sombras dançantes nas paredes cobertas de livros. Ele piscava mais frequentemente agora, os olhos pesados de sono.

Ele esfregou os olhos com os dedos, tentando afastar a exaustão que o dominava. Cada palavra no livro à sua frente parecia flutuar, como se a tinta estivesse se desprendendo do papel. A ponta da pena vacilou em sua mão, deixando uma marca desajeitada no caderno, mas Felix não cedeu.

Foi então que ele ouviu passos. Não os passos leves dos criados ou o som distante de alguém passando apressado pelos corredores. Esses eram diferentes. Mais firmes, mais pesados. Eles ecoaram na biblioteca silenciosa, fazendo Felix levantar os olhos, embora com certa hesitação.

Hyunjin surgiu na penumbra, a luz do candelabro que ele segurava iluminando seu rosto e a silhueta de seu corpo. Ele estava sem camisa, e sua pele pálida reluzia suavemente à luz das velas. Os cabelos escuros caíam desordenados pelos ombros, alguns fios grudando na pele, como se ele tivesse acabado de sair de um banho. Felix sentiu a boca secar e, ao mesmo tempo, suas mãos começaram a suar.

Hyunjin caminhou até ele com passos lentos e calculados, seus olhos fixos em Felix. Ele parou ao lado da mesa, inclinando-se ligeiramente, e a proximidade fez Felix prender a respiração. A chama do candelabro tremulou entre eles.

— Você deveria estar no seu quarto — disse Hyunjin, sua voz baixa, mas carregada de firmeza.

Felix engoliu em seco e desviou os olhos, voltando-os ao livro à sua frente.

— Quero continuar estudando.

Hyunjin ergueu uma sobrancelha, claramente não satisfeito com a resposta. Ele colocou o candelabro na mesa com mais força do que o necessário, a chama tremulando violentamente. Seus olhos escuros faiscaram enquanto ele cruzava os braços sobre o peito, a postura ficando mais rígida.

— Você está se destruindo, Felix. — A voz dele estava mais ríspida agora, carregada de impaciência.

Felix levantou o olhar e tentou manter a compostura, embora o cansaço e a tensão no ar o fizessem vacilar. Ele abriu a boca para argumentar, mas Hyunjin se inclinou mais perto, seus olhos estreitos em um aviso mudo.

— Vá. Para. O. Quarto. — Hyunjin articulou cada palavra com precisão, seu tom definitivo, como se não houvesse espaço para discussão.

Felix sentiu o estômago revirar. Ele sabia que Hyunjin estava certo, mas parte de si se recusava a ceder tão facilmente. Seus olhos desceram brevemente para o peito de Hyunjin, para a pele exposta tão próxima dele, antes de subir de volta para o rosto do príncipe.

— Eu só preciso de mais um tempo — murmurou Felix, mas a falta de convicção em sua voz o traiu.

Hyunjin revirou os olhos, frustrado, e se endireitou.

— Mais um tempo não vai adiantar nada se você desmaiar aqui. Vá dormir, Felix. Agora.

O tom autoritário fez Felix suspirar, derrotado. Ele sabia que Hyunjin não sairia dali até que ele obedecesse. Com relutância, começou a juntar suas anotações, evitando o olhar penetrante do outro. Mesmo quando se levantou e passou por Hyunjin, sentiu o peso do olhar dele nas costas, ardendo mais do que a chama das velas.

...

O quarto estava aquecido, as chamas da lareira dançando suavemente e iluminando as paredes com um brilho dourado. Assim que chegou, Felix não hesitou em ir direto para o banho. Ele precisava se livrar do peso do dia, do cansaço que parecia ter se impregnado em sua pele — e talvez, secretamente, da memória incômoda do toque de Hyunjin.

A banheira estava cheia de água quente e espuma perfumada, cobrindo a superfície como um cobertor macio. Felix se sentou e começou a esfregar os braços lentamente, quase mecanicamente, enquanto o vapor subia ao redor dele. Seu cabelo estava preso em um coque frouxo para evitar que molhasse, mas algumas mechas soltas caíam pela sua nuca, onde ele passava os dedos molhados, como se tentasse apagar o calor persistente que ainda sentia.

As mãos de Hyunjin. Ele ainda podia senti-las ali, firmes, quentes, deixando uma impressão quase impossível de ignorar. Felix bufou, tentando afastar o pensamento, mas cada movimento da água ao redor de seu corpo parecia trazer a memória de volta.

De repente, a porta do quarto se abriu com um rangido suave, e Hyunjin entrou sem aviso, a silhueta dele iluminada pelas chamas da lareira.

— Ah! — Felix deu um gritinho, puxando os braços para cobrir o tronco exposto. A espuma da banheira ajudava, mas a surpresa o fez corar instantaneamente.

Hyunjin parou próximo à banheira, as mãos nos bolsos da calça preta de linho. Ele ainda estava sem camisa, e os cabelos escuros, agora um pouco mais arrumados, caíam pelos ombros com um ar descontraído. Ele parecia não se importar com a reação de Felix, o que só deixava o jovem mais desconcertado.

— Amanhã, acorde mais cedo — disse Hyunjin com o mesmo tom autoritário de antes, os olhos fixos em Felix, mas com um brilho indecifrável. — Estude mais e, depois, vamos treinar o uso dos poderes.

Felix tentou manter o foco em suas palavras, mas seus olhos inevitavelmente se fixaram na clavícula de Hyunjin, no contraste entre a pele clara e os cabelos escuros. Ele sentiu as bochechas queimarem e desviou rapidamente o olhar, apertando os braços contra o peito em uma tentativa de se recompor.

Hyunjin, por sua vez, parecia relaxado, mas sua postura escondia algo mais. Ele permaneceu ali por um momento que pareceu mais longo do que o necessário, os olhos analisando cada detalhe de Felix, como se tentasse gravar a cena.

Felix pigarreou, desconfortável.

— Está bem... Eu farei isso.

Hyunjin não respondeu de imediato. Apenas inclinou levemente a cabeça, seus olhos descendo da cabeça aos ombros de Felix, antes de se virar para sair.

Ele parou por um instante na porta, como se quisesse dizer algo mais, mas então apenas lançou um último olhar por sobre o ombro. Era um olhar demorado, calculado, que deixou Felix ainda mais vermelho.

A porta se fechou, e o som do clique ecoou pelo quarto silencioso. Felix soltou um suspiro longo, apoiando a testa no joelho enquanto tentava acalmar a pulsação acelerada. Ele passou a mão pela nuca novamente, como se pudesse apagar tudo o que acabara de acontecer, mas a sensação do olhar de Hyunjin — e do calor persistente que ele parecia carregar consigo — não o deixava em paz.

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