42. O rosto de gelo

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Felix não se levantou naquela manhã. O sol se infiltrava pelas frestas das cortinas, iluminando o quarto com uma luz suave e dourada, mas ele não queria saber da claridade. Ele puxou o cobertor por cima da cabeça, tentando esconder-se da realidade e do dia que insistia em começar sem ele.

Seu peito doía, como se tivesse sido esmagado por algo invisível e implacável. Ele afundou o rosto no travesseiro, abafando o som dos soluços que escapavam involuntariamente. A textura macia do tecido rapidamente ficou úmida com suas lágrimas.

As palavras de Hyunjin ecoavam em sua mente, repetindo-se como uma melodia cruel. "Eu sou o maior risco para você." O tom frio, os olhos duros, a distância imposta... tudo aquilo se misturava com os flashes de memórias mais doces, como o toque de Hyunjin em seu rosto enquanto ele fingia dormir.

Felix apertou o travesseiro contra si, como se isso pudesse afastar os pensamentos conflitantes. Por que ele entrou no meu quarto? A pergunta o corroía. Por que ele me tocou com tanta ternura, mas depois me tratou como se eu não fosse nada?

O tempo parecia se arrastar, o quarto mergulhado em um silêncio pesado que só era quebrado pelos seus pequenos murmúrios e respirações irregulares. Felix não se incomodou em olhar para o relógio. A ideia de sair da cama parecia impossível.

Cada vez que fechava os olhos, ele via o rosto de Hyunjin. O olhar impassível, os lábios imóveis, e aquela máscara de indiferença que contrastava tanto com a intensidade da única noite que haviam compartilhado. Ele sentia que Hyunjin o despedaçava e depois o reconstruía apenas para despedaçá-lo novamente.

Felix queria odiá-lo. Queria gritar que não precisava de Hyunjin, que podia seguir em frente sozinho. Mas era mentira. Ele sabia disso. Hyunjin era uma parte de si, uma chama que aquecia e queimava ao mesmo tempo, uma presença que ele não podia evitar ou apagar.

Enquanto as horas passavam, Felix permanecia imóvel na cama, o corpo pesado de tanto chorar. O vazio de Hyunjin parecia preencher tudo ao seu redor, como se o mundo fosse apenas uma extensão da distância entre eles.

Finalmente, quando o sol começou a se inclinar no céu, ele virou o rosto para o lado, o olhar fixo em um ponto qualquer da parede.

— Eu te amo... — ele sussurrou para o vazio, sua voz rouca e trêmula. As palavras saíram como um segredo compartilhado apenas com o travesseiro e o silêncio do quarto.

E então, sem forças para mais nada, ele fechou os olhos, deixando o cansaço físico e emocional finalmente vencê-lo, mesmo que o sono fosse inquieto e pesado.

...

A madrugada era silenciosa, e o castelo parecia mergulhado em uma quietude pesada. A luz da lua atravessava as grandes janelas do quarto, iluminando o espaço com um brilho prateado suave. A enorme banheira de mármore transbordava com água gelada que ondulava suavemente com o movimento de Felix.

Ele havia tirado as roupas lentamente, quase como se o peso do dia tivesse tornado o gesto difícil. Seu corpo parecia mais frágil, magro e pálido, marcado pelo cansaço e pela dor emocional que carregava. Quando entrou na água, um suspiro escapou de seus lábios, e ele deixou o corpo afundar até que apenas o topo da cabeça permanecesse visível.

Ao emergir, os olhos de Felix estavam vermelhos e inchados, reflexos das incontáveis lágrimas que havia derramado ao longo do dia. A água gelada não era capaz de acalmar o calor da tristeza em seu peito, mas ele precisava daquele momento, daquele isolamento.

Com um gesto delicado, ele começou a conjurar pequenas esculturas de gelo. Primeiramente, formas simples – pequenos flocos de neve que caíam como uma chuva gentil sobre a superfície da água, derretendo assim que tocavam a sua pele. Ele observava, hipnotizado, como aquelas formas efêmeras desapareciam tão rapidamente quanto haviam sido criadas.

Mas então, sem perceber o que fazia, sua magia tomou forma em algo mais sólido, mais íntimo. Um cristal de gelo começou a crescer em suas mãos, os detalhes se esculpindo com precisão quase sobrenatural. E quando Felix terminou, ele congelou.

Era o rosto de Hyunjin.

Os traços eram perfeitos – os olhos intensos, os lábios curvados em uma expressão serena, o contorno marcante do rosto que ele conhecia tão bem. Felix olhou para a escultura e sentiu o peito apertar. Era como se Hyunjin estivesse ali com ele, tão perto, mas ao mesmo tempo inalcançável.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Felix, caindo na água e criando pequenas ondulações. Ele tentou desviar o olhar da figura congelada, mas não conseguiu. A lembrança de Hyunjin o invadiu com força – o toque quente de suas mãos, o som rouco de sua voz, os olhos que o encaravam com intensidade. Era um contraste cruel com a frieza que ele enfrentava agora.

E então, ele chorou novamente. Chorou como se sua dor pudesse derreter o gelo que ele havia criado. As lágrimas misturavam-se à água da banheira, e Felix apertou a escultura contra o peito.

Ele afundou o rosto nas mãos, os soluços ecoando pelo quarto vazio.

— Por que você faz isso comigo? — ele sussurrou, embora a pergunta não tivesse um destinatário. — Por que eu não consigo parar de te amar?

A resposta nunca veio, apenas o som de suas lágrimas e o silêncio impiedoso do castelo, que parecia conspirar para lembrá-lo de quão sozinho ele estava.

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