9. Flores congeladas

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Felix caminhava lentamente pelos jardins congelados, os passos afundando na camada fina de neve que cobria o chão. O ar era cortante, mas ele já havia se acostumado com o frio. O palácio de Erillea era um paradoxo estranho: o Reino do Fogo coberto por gelo, como se o próprio lugar estivesse preso em uma luta constante entre o calor que deveria existir e a frieza que tomava conta de tudo.

Ele enfiou as mãos nos bolsos do colete, tentando proteger os dedos do vento gélido. Mesmo assim, algo no cenário o fazia desacelerar. As árvores e arbustos, cobertos de uma camada fina e brilhante de gelo, pareciam esculturas de vidro, obras de arte naturais que faziam Felix sentir-se pequeno diante da beleza intocada ao seu redor.

Foi então que ele o viu.

Hyunjin estava parado sob uma pequena árvore cujas flores congeladas brilhavam como cristais sob o fraco sol da manhã. Ele estava de costas no início, um manto preto de veludo cobrindo seus ombros, mas as mãos — aquelas mãos longas e elegantes — estavam desprotegidas, tocando as flores com um cuidado surpreendente. Felix podia ver as unhas pintadas de preto, o brilho metálico dos anéis que adornavam cada dedo. Hyunjin movia os dedos devagar, como se estivesse analisando cada pétala congelada, os olhos concentrados no pequeno mundo que segurava entre as mãos.

Felix parou por um momento, observando-o de longe. Havia algo tão natural em Hyunjin naquele instante, uma calmaria que contrastava completamente com a energia intimidante que ele costumava exalar. No entanto, mesmo com essa quietude, ele parecia uma figura que não pertencia àquele mundo — algo etéreo, quase impossível de tocar.

Hyunjin, então, virou a cabeça lentamente, como se soubesse que estava sendo observado. Seus olhos escuros encontraram os de Felix com facilidade, e por um instante, o mundo pareceu congelar ainda mais. Felix se sentiu preso naquele olhar intenso que parecia atravessá-lo como uma lâmina de gelo.

Hyunjin afastou a mão da flor e virou-se completamente para ele, os passos elegantes e lentos. Quando os olhos dele desceram pelo corpo de Felix, analisando a roupa que ele havia escolhido, Felix resistiu à vontade de se mexer ou ajustar o colete. Era impossível não sentir o peso daquele olhar, como se Hyunjin estivesse lendo algo muito mais profundo do que apenas o tecido azul e branco.

Finalmente, Hyunjin ergueu as sobrancelhas e soltou um assobio baixo, o som quase perdido no vento.

— Nada mal, príncipe exilado — ele disse, o canto de seus lábios curvando-se em um sorriso quase imperceptível.

Felix sentiu o rosto esquentar levemente, mas disfarçou, dando de ombros.

— Achei que deveria combinar com o gelo — respondeu, tentando manter a voz firme, embora sentisse que não havia convencido a si mesmo.

Hyunjin riu suavemente, o som reverberando pelo ar frio como um eco distante. Ele deu mais alguns passos, aproximando-se o suficiente para que Felix pudesse ver os detalhes bordados no manto, as costuras douradas que formavam padrões intrincados. Hyunjin parou a poucos passos de distância, as mãos agora pendendo ao lado do corpo.

— Azul combina com você, Felix — disse ele, a voz baixa, quase um sussurro. — Mas você não precisa da cor para brilhar.

Felix piscou, pego de surpresa. Antes que pudesse responder, Hyunjin se virou novamente para a árvore congelada.

Felix hesitou por um instante antes de dar mais alguns passos à frente. O som leve de suas botas pisando a neve mal perturbava o silêncio. Hyunjin continuava de costas para ele, a cabeça levemente inclinada para o lado enquanto observava as rosas congeladas com uma intensidade que Felix não compreendia.

Finalmente, Felix parou a poucos passos dele, sentindo o frio das rosas refletido no ar ao redor.

— Por que você está olhando tanto para elas? — perguntou, a voz suave, mas curiosa.

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