43. O casamento se aproxima

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Os dias passavam como uma neblina densa para Felix. O tempo era irrelevante, um borrão indistinto de luz e escuridão. Ele passava a maior parte do dia trancado no quarto, envolto nos lençóis de sua cama como se fossem um casulo. A rotina era sempre a mesma: ele mal se levantava e apenas pedia aos criados que deixassem as refeições na porta. Comia o mínimo necessário, apenas o suficiente para manter o corpo funcionando, enquanto sua mente parecia à deriva em uma tempestade emocional.

A biblioteca e os jardins, antes um refúgio, tornaram-se territórios proibidos. A simples ideia de esbarrar com Hyunjin nos corredores fazia o peito de Felix apertar, uma dor que queimava como o fogo que ele tanto temia. Ele sabia que, se o visse, iria desmoronar. Choraria na frente dele, imploraria por algo que já sabia que não viria.

Em uma manhã como outra qualquer, a bandeja de café da manhã chegou cedo, trazida por uma criada que parecia mais apressada do que o habitual. Felix, ainda grogue, percebeu uma inquietação no ar. Um burburinho distante vinha dos corredores, o som de passos apressados e vozes abafadas. Ele franziu o cenho, finalmente levantando-se da cama com um esforço visível.

— O que está acontecendo? — perguntou, sua voz rouca de quem não falava muito nos últimos dias.

A criada hesitou por um momento, ajustando a bandeja em suas mãos, antes de responder:

— Os preparativos, senhor. A cerimônia de casamento será em uma semana.

As palavras bateram nele como um trovão. Um calafrio percorreu o corpo de Felix, e ele quase deixou cair o copo de suco que segurava. Seus dedos começaram a formigar, uma sensação que logo se transformou em dor quando pequenos cristais de gelo começaram a se formar em sua pele. Ele escondeu as mãos atrás das costas rapidamente, tentando manter a compostura.

— Em... uma semana? — conseguiu murmurar, a voz tremendo.

A criada assentiu com um sorriso forçado, visivelmente desconfortável com o tom de Felix.

— Sim, senhor. Todos estão trabalhando incansavelmente. Será um evento grandioso.

Felix não respondeu. Ele apenas assentiu, dispensando a criada com um aceno curto. Assim que a porta se fechou, ele desabou na cadeira ao lado da mesa, a cabeça caindo pesadamente entre as mãos.

"Uma semana."

O pensamento ecoava em sua mente como um relógio que marcava o tempo até sua ruína. Ele não conseguia imaginar aquele dia, aquele momento em que Hyunjin estaria diante dele, impassível como sempre, enquanto ele se sentia quebrado por dentro. O casamento deveria ser uma celebração, mas para Felix parecia mais um julgamento, uma sentença que ele não sabia se suportaria.

Ele olhou para as mãos e viu o gelo nos dedos desaparecer lentamente, deixando apenas uma dor incômoda em seu lugar.

— Eu não consigo fazer isso — murmurou, mordendo o lábio até sentir o gosto metálico do sangue.

Felix sabia que não havia escapatória. O casamento aconteceria, com ou sem sua vontade. E ele estaria lá, diante de todos, tentando parecer inteiro quando, na verdade, se sentia aos pedaços. O castelo ao redor parecia vivo, cada som de movimento e preparação um lembrete cruel do que estava por vir.

Ele voltou para a cama, deitando-se de lado e puxando os lençóis até o queixo. Lágrimas escorriam silenciosamente pelo rosto enquanto ele encarava o vazio.

— Como vou suportar isso? — A pergunta permaneceu sem resposta.

...

A semana que se seguiu ao anúncio do casamento passou como um borrão, tão rápida e sem forma que Felix quase não percebeu os dias escorrendo por seus dedos. Ele vivia preso em sua bolha de solidão e ansiedade, ignorando a passagem do tempo até que o inevitável o confrontasse. E foi exatamente o que aconteceu na manhã da véspera do casamento.

O som suave de passos no quarto o despertou. Felix abriu os olhos lentamente, piscando contra a luz fraca que entrava pelas cortinas. Ele ouviu o movimento discreto da criada ao lado da cama, mas não se mexeu imediatamente. Sentia-se preso naquele estado nebuloso entre o sono e a vigília, como se acordar significasse encarar algo terrível.

— Bom dia, senhor Felix — a criada falou em um tom calmo, mas formal.

Felix finalmente se sentou na cama, os cabelos loiros caindo de forma desordenada sobre os olhos inchados de noites mal dormidas. Ele passou uma mão pelo rosto, tentando clarear os pensamentos, enquanto a criada se aproximava com um cabide.

Quando Felix levantou o olhar, seus olhos se fixaram no que ela carregava. Um terno impecável, branco como a neve, pendia ali, cuidadosamente envolto em um tecido de proteção transparente. A peça parecia brilhar na luz do dia, com pequenos detalhes em prata que refletiam de forma sutil, quase mágica.

— Este é o traje para amanhã — a criada explicou, como se ele precisasse de um lembrete. — O casamento acontecerá ao pôr do sol.

Ao pôr do sol. Felix repetiu mentalmente as palavras, sentindo um peso esmagador no peito. Ele levantou-se devagar, os pés descalços tocando o chão frio enquanto caminhava hesitante em direção ao traje.

— Posso...? — perguntou, indicando com um gesto que queria vê-lo mais de perto.

A criada sorriu gentilmente e removeu o tecido protetor. O terno era ainda mais belo do que ele imaginava. O corte era perfeito, desenhado sob medida para ele, com um design que misturava o clássico e o moderno. As bordas do tecido tinham pequenos bordados prateados em forma de flocos de neve, um toque delicado que parecia feito para simbolizar sua magia.

Felix passou os dedos pelo tecido macio e luxuoso, sentindo a textura entre as pontas geladas dos dedos. Havia algo assustadoramente final naquele traje, como se ele representasse o destino que o aguardava.

Ele deu um passo para trás, respirando fundo enquanto seus olhos percorriam cada detalhe da peça.

— Amanhã ao pôr do sol... — repetiu baixinho, mais para si mesmo do que para a criada.

— Sim, senhor. — A criada fez uma pequena reverência antes de colocar o terno de volta no cabide e pendurá-lo no armário. — Quer que eu traga o café da manhã aqui novamente hoje?

Felix assentiu, mas não respondeu. Sua mente estava presa na visão do terno, na lembrança constante de que o dia seguinte marcaria o início de algo que ele não sabia se queria — ou pelo menos não da maneira como deveria.

Enquanto a criada saía do quarto, Felix continuou parado, olhando para o armário onde o terno agora estava guardado. A luz do sol que entrava pela janela parecia se intensificar, iluminando o quarto vazio, mas Felix sentia-se mais sozinho do que nunca.

Ele suspirou e voltou a se sentar na cama. Seu olhar vagueou pela janela, para o céu azul claro do lado de fora. Amanhã, ao pôr do sol, ele usaria aquele terno. Amanhã, ao pôr do sol, sua vida mudaria para sempre.

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