32. Um vinho

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Quando Felix e Hyunjin deixaram a sala, o ambiente ainda parecia carregado com o calor e a intensidade do momento que haviam acabado de compartilhar. Felix limpava os lábios apressadamente com a manga da camisa, tentando se livrar da mistura de saliva e resquícios do que Hyunjin havia derramado nele. Seu rosto estava corado, as bochechas queimando com a vergonha que agora o tomava. Ele mal conseguia encarar Hyunjin, que caminhava ao seu lado com uma calma desconcertante, ajeitando os cabelos escuros com os dedos e o casaco vermelho que já estava de volta ao corpo.

O príncipe parecia impecável, como se nada tivesse acontecido. No entanto, o sorrisinho malicioso que curvava seus lábios denunciava exatamente o contrário. Ele sabia o efeito que tinha sobre Felix. Sabia o quanto aquele olhar afiado, como uma chama baixa e ardente, fazia o garoto se contorcer de timidez.

— Eu... eu vou para a biblioteca — Felix murmurou, a voz tão baixa que quase não foi audível.

Ele evitava olhar diretamente para Hyunjin, os olhos castanhos fixos no chão enquanto caminhava. No entanto, sua tentativa de soar casual foi frustrada pela gagueira nervosa que escapou junto com as palavras. Ele podia sentir o calor do olhar de Hyunjin queimando em sua direção, como se o príncipe estivesse se divertindo com seu desconforto.

Hyunjin parou abruptamente e Felix, percebendo, fez o mesmo. O garoto finalmente levantou o olhar, apenas para encontrar Hyunjin com aquele sorriso de canto, os olhos brilhando com uma malícia contida.

— A biblioteca? — Hyunjin perguntou, o tom de sua voz carregado de falsa inocência. — Tão cedo depois de... tudo isso?

Felix sentiu a garganta apertar, a vergonha borbulhando dentro dele. Ele abriu a boca para responder, mas nenhum som saiu. Em vez disso, desviou os olhos novamente, encarando qualquer coisa que não fosse Hyunjin.

— S-sim, a biblioteca — ele finalmente conseguiu dizer, embora sua voz tremesse tanto que as palavras mal tinham firmeza.

Hyunjin deu um passo em direção a ele, o suficiente para que Felix sentisse o calor de sua presença. Felix congelou no lugar, os dedos inconscientemente agarrando a barra da camisa branca que usava, como se isso pudesse escondê-lo de algum modo.

— Está bem, vá para a biblioteca então — Hyunjin disse, a voz mais baixa agora, quase um sussurro. Ele inclinou-se ligeiramente para Felix, os lábios perto o bastante para que o garoto sentisse o calor de sua respiração. — Mas lembre-se, Felix... você não precisa ficar tímido comigo. Afinal, você já me provou o quanto pode ser corajoso.

Felix ficou completamente imóvel, as palavras ecoando em sua mente e o deixando ainda mais ruborizado. Hyunjin então se afastou, endireitando a postura e lançando um último olhar carregado de provocação antes de seguir pelo corredor, o som de suas botas ecoando pelo mármore.

Felix ficou parado por um momento, tentando recuperar a compostura. Ele apertou os lábios, limpando novamente o canto da boca como se ainda houvesse algo ali. Sua mente estava uma bagunça de pensamentos contraditórios — vergonha, satisfação, e um desejo que ele não conseguia afastar.

Com um suspiro profundo, ele virou-se na direção da biblioteca, o rosto ainda vermelho como uma maçã. Enquanto caminhava, tentou convencer a si mesmo de que precisava de um tempo para respirar, longe do olhar predatório de Hyunjin. Mas, no fundo, ele sabia que bastaria um sorriso daquele homem para que ele voltasse a perder toda a compostura novamente.

...

A biblioteca estava silenciosa, preenchida apenas pelo leve som das páginas que Felix virava vez ou outra, mais por hábito do que por concentração. Ele estava sentado em uma das grandes poltronas próximas à janela, um livro pesado de capa marrom aberto em seu colo. Mas não conseguia se focar nas palavras escritas ali. As frases dançavam em sua frente, sem sentido, apagadas pela memória insistente do que tinha acontecido naquela sala vermelha.

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