5. O jantar

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Felix mordeu os lábios, o gosto metálico de sangue quase o distraindo do tumulto em sua mente. Ele estava preso em um beco sem saída, e cada segundo que passava sob o olhar afiado do príncipe fazia a situação parecer ainda mais sufocante. Hyunjin o estudava de cima a baixo com aquele sorriso satisfeito, como se já soubesse qual seria a resposta antes mesmo de ouvi-la.

— Tudo bem, eu aceito — disse Felix, finalmente, a voz grave e controlada, mesmo que por dentro estivesse fervendo.

Os olhos dourados de Hyunjin brilharam com satisfação, mas Felix ergueu a mão, interrompendo qualquer comemoração precoce.

— Com uma condição.

Hyunjin arqueou uma sobrancelha, claramente intrigado.

— Condição?

Felix inspirou profundamente, escolhendo as palavras com cuidado.

— Quando a troca de poderes estiver completa... eu quero minha liberdade.

O sorriso do príncipe desapareceu por um momento, substituído por algo que parecia quase... ponderação. Ele apoiou o queixo na mão, os dedos longos batendo levemente no maxilar enquanto o observava. O silêncio no salão foi tão pesado que Felix sentiu que podia ouvi-lo bater como um tambor em sua cabeça.

Então, para sua surpresa, Hyunjin inclinou-se levemente para frente e sorriu.

— Aceito sua condição.

Felix não sabia se o alívio que sentiu era genuíno ou apenas momentâneo. Ele cruzou os braços e estreitou os olhos.

— Só isso? Vai aceitar assim tão fácil?

Hyunjin riu baixinho, um som que fez Felix sentir a pele arrepiar.

— Não se engane, Felix. Não sou alguém que faz promessas levianamente. Quando digo que aceito, aceito. Mas... — Ele inclinou a cabeça, os cabelos escuros caindo suavemente sobre o rosto. — Isso significa que agora você é meu noivo.

A palavra parecia ressoar no ar como uma sentença. Noivo. Felix sentiu o coração acelerar, um misto de raiva e descrença, mas antes que pudesse protestar, Hyunjin se levantou do trono com um movimento gracioso, como se estivesse flutuando.

— E para selarmos esse noivado, acho que devemos comemorar.

Felix estreitou os olhos.

— Comemorar como?

Hyunjin sorriu, aproximando-se um pouco mais, o suficiente para Felix sentir a leve fragrância amadeirada que emanava dele.

— Um jantar. Você e eu. Esta noite.

Felix quis recusar imediatamente, a ideia de sentar-se à mesa com aquele homem que agora era tecnicamente seu noivo parecia insuportável. Mas então seu estômago roncou baixo, traindo sua fome. Ele não comia algo decente há tanto tempo que até a menção de comida fazia sua boca salivar.

— Tudo bem — murmurou Felix, contrariado.

Hyunjin sorriu de forma ainda mais satisfeita, os olhos brilhando com triunfo.

— Ótimo. Em algumas horas, os guardas o buscarão no quarto. Eu espero que esteja à altura da ocasião, noivo.

A palavra final foi dita com um tom que quase parecia brincalhão, mas Felix não respondeu. Apenas virou-se rigidamente quando os guardas se aproximaram, conduzindo-o de volta pelo enorme salão.

Enquanto caminhava pelos corredores frios do palácio, com os passos dos guardas ecoando atrás dele, Felix não conseguia afastar os pensamentos sobre tudo o que havia acontecido. Ele estava noivo. Noivo. A palavra parecia absurda, como se estivesse em um pesadelo surreal do qual não conseguia acordar.

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