☆ Capítulo < XXXVIII >

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Capítulo 38 = " O peso do silêncio "











O ar parecia mais frio dentro da casa, apesar de o inverno do lado de fora gritar com seu vento gélido. Severus abriu os olhos com dificuldade, as pálpebras pesadas como se carregassem o peso de noites em claro.

Ele não sabia ao certo quanto tempo tinha passado desde a última vez que dormira profundamente, ou mesmo desde que tinha colocado algo sólido dentro do seu estômago. Tudo parecia um borrão - os dias misturados com noites intermináveis de tormento silencioso.

Sentando-se na cama, ele tentou se erguer, mas uma dor aguda latejou em sua cabeça, como se cada pensamento estivesse se rebelando contra ele.

A boca amarga denunciava a combinação de álcool e arrependimento que ele não conseguia afastar. Cambaleando, ele alcançou o banheiro, empurrando a porta com força. Antes que pudesse sequer pensar, uma náusea violenta tomou conta dele, obrigando-o a se inclinar sobre o vaso sanitário.

A bile queimava sua garganta, mas ele não se importava. Olhando para o espelho, viu sua própria imagem - e aquilo era o suficiente para fazer sua alma encolher ainda mais.

"Você é um desastre, Snape."

Os olhos fundos, cercados por olheiras escuras, o cavanhaque desalinhado e o cabelo despenteado eram apenas uma fração do caos que ele carregava dentro de si. Ele afastou o olhar, incapaz de suportar sua própria visão, e foi para a cozinha, guiado pelo instinto de sobreviver mais um dia.

O cheiro forte de café preencheu o ar, mas o aroma não trouxe consolo. Ele segurou a caneca nas mãos, o calor do líquido parecia um contraste cruel com o frio dentro dele. O silêncio da casa era sufocante. Não muito tempo atrás, ele ansiava por esses momentos de paz, mas agora... agora, o vazio gritava contra a sua mente.

"Papai, posso tomar chocolate quente? Quero usar minha caneca do Batman!"

A voz de Zachriel ecoou na memória de Severus, e ele instintivamente olhou para a prateleira onde a pequena caneca azul repousava. Um aperto no peito o fez respirar fundo, como se tentando empurrar a dor para longe. Mas era impossível.

Ele tragou o cigarro com força, tentando usar a fumaça para preencher o vazio. Seus olhos pousaram em um punhado de cartas no balcão. Ele as folheou preguiçosamente, reconhecendo as caligrafias familiares: Kingsley, Minerva, Alvo. Palavras de preocupação, questionamentos sobre seu isolamento.

Mas foram as três cartas de Narcisa que fizeram seu coração apertar.

"Por que você está me evitando, Severus?"
"Estou preocupada. Por favor, responda."
"Severus, Zachriel precisa de você. Por favor, volte a si."

Ele jogou as cartas de lado, incapaz de encarar a verdade em suas palavras. Ele não estava apenas se isolando - estava fugindo. Fugindo da sua culpa, da dor, e, mais do que tudo, do vazio esmagador que a ausência de Zachriel havia deixado nele.

Severus agarrou uma garrafa de uísque, despejando o líquido âmbar em sua garganta. O calor não trazia conforto, mas anestesiava um pouco. Ele perdeu a conta de quantos goles tomou antes de se deixar cair na poltrona da sala.

Mas o silêncio continuava implacável.

Algo dentro dele o impulsionou a subir as escadas. Seus passos foram pesados até a porta do quarto de Zachriel, onde o nome do menino estava gravado. Ele ficou parado ali por um momento, a mão hesitando na maçaneta. Quando finalmente a girou, o quarto o recebeu com uma explosão de memórias.

O cheiro suave do shampoo de Zachriel ainda pairava no ar. O quarto estava bagunçado, mas cada detalhe gritava a presença de seu filho. Severus passou os olhos pelo ambiente, e o peso da ausência do menino parecia esmagá-lo.

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