70. Pobre escudeiro

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Miguel aproveitava uma de suas folgas como escudeiro para estudar, mas sua mente teimava em ir para outro lugar. Nos últimos dias, ele observava Mikha com crescente desconfiança. A sereia passava tempo demais com a concubina, e aquilo o incomodava. Algo ali não parecia certo.

Além disso, seus pensamentos também recaíam sobre Jimin, trazendo uma pontada de preocupação. O príncipe havia piorado nos últimos dias, mas, para sua sorte, Taehyung demonstrava uma devoção impressionante ao cuidar dele. Miguel tinha certeza de que, em breve, Jimin estaria totalmente recuperado, sem sequelas.

Ainda assim, os dias no palácio seguiam dentro de uma estranha normalidade. A rainha Miran lhe concedia momentos como aquele para que pudesse se dedicar aos estudos da língua de sinais e à sua alfabetização, habilidades que vinha cultivando com grande esforço e gratidão. Apesar disso, a política entre os reinos e a magia dos tritões o deixavam exausto.

Por mais intrigante que tudo fosse, ele ansiava por um dia de paz. Apenas uma folga tranquila ao lado de Liliana. Era disso que mais precisava para organizar os pensamentos e aliviar a tensão crescente.

Seus devaneios foram abruptamente interrompidos quando Pablo entrou no cômodo com passos rápidos e uma expressão carregada de preocupação.

— Miguel, temos um problema. — Ele fechou a porta atrás de si e se aproximou com urgência. — Há criados nos seguindo. Todos nós! O príncipe, Taehyung, eu, você, minha irmã... até a concubina.

Miguel arqueou as sobrancelhas, sua expressão endurecendo.

— Seguindo a gente? Tem certeza disso? — Ele se inclinou para frente, cruzando os braços. — Quem mais sabe disso?

Pablo olhou ao redor, como se temesse que alguém pudesse ouvi-los.

— Só você e Mikha. Mas é melhor manter isso entre nós, pelo menos até entendermos quem está por trás disso e por quê.

Miguel apertou os lábios, processando a informação.

— Isso explica algumas coisas... — Ele estreitou os olhos. — Mas você tem algum nome? Alguma pista?

— Tenho. — Pablo hesitou, a incerteza visível em seu rosto. — São criados novos. Entraram no palácio há pouco tempo e estão sempre onde não deveriam estar. E pior: Mikha viu um deles indo direto para a ala do rei depois de nos seguir.

Miguel tamborilou os dedos no braço da cadeira, o semblante pensativo.

— E você acha que isso leva ao rei? — Ele balançou a cabeça. — Ah, para. Não me diga que vai insistir nisso de novo.

— Tudo indica que é ele! — Pablo rebateu, cruzando os braços. — Quem quer que esteja por trás disso não é um simples plebeu. Ninguém de fora da nobreza teria os contatos ou o dinheiro para infiltrar tantos criados e nos cercar desse jeito!

— Por que o rei atentaria contra o próprio filho? — Miguel o encarou com ceticismo. — Isso não faz sentido, pode ser outro nobre... qual seria a motivação?

Pablo hesitou por um instante antes de responder, a voz baixa, quase um sussurro:

— E se o Jimin não for filho dele?

Miguel sentiu um frio subir pela espinha. Aquilo era absurdo. Ou não?

— O quê? Olha, a rainha é honrada, e o príncipe... Ele parece uma versão jovem do rei. Como alguém pode questionar isso?

Pablo suspirou, como se já esperasse aquela reação.

— Mikha me contou uma coisa que ouviu nas terras da família de Taehyung. O rei tinha um irmão mais velho, gêmeo. Ele era o noivo original da rainha Miran... Mas morreu antes do casamento. E se...

— E se o irmão for o pai de Jimin? — Miguel completou, incrédulo. — Isso é uma loucura. Não temos provas. E, mesmo que fosse verdade, por que o rei esperaria tanto tempo para agir?

— Porque agora ele tem um herdeiro de sangue incontestável a caminho. — Pablo inclinou-se para frente. — A concubina está grávida, Miguel. Isso não é coincidência.

Miguel ficou em silêncio, tentando processar a avalanche de informações. Por fim, soltou um suspiro pesado.

— Precisamos de provas, Pablo. Não podemos simplesmente sair por aí manchando a honra da rainha e acusar o rei sem algo concreto.

— Concordo. — Pablo assentiu. — Mas precisamos agir rápido. Mikha está observando os criados. Eles estão sempre seguindo um de nós. Preste atenção.

Miguel resmungou, levantando-se da cadeira com um movimento brusco.

— Mikha, claro... Ela sempre está no lugar errado, na hora errada! Você confia nela, mas eu não. Ela se aproxima da concubina, observa tudo de perto... e se ela estiver ajudando o outro lado?

Pablo soltou um suspiro exasperado, cruzando os braços.

— Mikha está tentando ajudar, Miguel. Você precisa parar com essa paranoia sobre ela! — Ele pausou, a voz mais firme. — Ela nunca tinha visto uma humana grávida, é natural que esteja curiosa. Até a rainha está preocupada com a saúde dessa moça e do bebê!

Miguel estreitou os olhos, encarando o amigo por um longo momento antes de responder.

— Certo. Mas se algo der errado, a responsabilidade é sua. Ela é sua irmã, afinal.

Pablo sustentou o olhar firme, sem ceder à provocação.

— E nada vai dar errado, porque Mikha só está buscando respostas e porque ele ajudaria outro lado? Não tem motivos Miguel! 

Miguel bufou, desviando o olhar para a janela. Após alguns segundos de silêncio, falou com mais seriedade:

— Agora, precisamos focar no que importa. Se o rei está mesmo por trás disso, não podemos agir por impulso. Precisamos de provas. Se acusarmos sem ter certeza, podemos ser nós os próximos alvos.

Pablo assentiu, mas Miguel viu a preocupação em seu olhar.

— Mas se esperarmos demais... — Pablo murmurou. — Ele pode matar o Jimin antes.

O silêncio que se seguiu foi carregado de tensão. Ambos sabiam que estavam entrando em um jogo perigoso, onde as peças eram movidas por alguém poderoso, alguém com recursos para manipular o palácio de forma sutil.

Miguel passou a mão pelos cabelos, tentando afastar a sensação sufocante que tomava conta de seu peito. O palácio estava cheio de olhos. Se não se movessem rápido, eles seriam as próximas vítimas.

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