72. A Fuga da Sereia

6 1 4
                                    

A atmosfera do palácio estava carregada. O ar parecia mais denso do que o normal e Mikha sentia o peso invisível das paredes ao seu redor. Desde que começara a se aproximar de Soojin, a tensão entre ela e o rei se tornara palpável. Seus olhos a seguiam como sombras, pesados e implacáveis. Ela fingia não notar, mas cada passo seu parecia mais vigiado, mais calculado. Mas isso não a impedia de continuar cuidando da moça. Agora que a saúde de Soojin estava completamente recuperada, as duas passeavam pelos corredores, compartilhando confidências que fortaleciam a amizade.

Além disso, Mikha dividia seu tempo ajudando o irmão na investigação sobre os recentes acontecimentos. No entanto, os avanços eram mínimos. A essa altura, estavam presos em um beco sem saída, com suspeitos em potencial, mas sem nenhuma prova concreta que confirmasse suas suspeitas.

Naquela tarde, encontrou Soojin sentada perto de uma janela, observando o céu com um olhar perdido. Sua barriga se destacava, grande e redonda que abrigava uma nova vida. Mikha se sentou ao lado da amiga, observando-a em silêncio por um instante.

— Você já sentiu o bebê se mexer? — perguntou, curiosa, tentando aliviar a tensão que se acumulava em seu peito.

Soojin sorriu, pousando a mão sobre o ventre.

— Algumas vezes. É estranho, mas... bonito. Parece um lembrete de que, apesar de tudo, algo bom pode existir na minha vida.

Mikha observou a amiga, percebendo o cansaço em seus olhos. Sabia que Soojin não estava feliz, que a gravidez a deixava vulnerável diante do rei. E, ainda assim, havia uma doçura na forma como falava sobre o filho. Algo que Mikha não entendia completamente.

— O rei... Ele tem sido bom para você esses dias? — A pergunta escapou antes que pudesse se conter.

Soojin desviou o olhar, seus dedos apertando levemente o tecido do vestido sobre sua barriga.

— Não mais... ele está a cada dia mais cruel e às vezes murmura o nome dela enquando dorme.

— Yuna? — Mikha franziu a testa.

Soojin hesitou antes de sussurrar:

— É,  ele também falava o nome dela antigamente mas eu pensava que era apenas outra concubina. Agora que sei quem era ela... ouvir me revira por dentro. — O tom amargo de sua voz denunciava sua dor. — Não dá para competir com um fantasma...

Mikha sentiu uma pontada de empatia pela amiga. Ainda assim, a conversa a fez voltar ao tema que a inquietava há dias.

— É muitas vezes ela  parece um fantasma pairando sobre tudo, não só no palácio, mas também nas terras dos Mangjeol. É estranho como ela está ligada a tudo. — Pegou uma flor caída no chão e a girou entre os dedos, pensativa. — Quero dizer, ela é a mãe do Taehyung, meu ex-noivo. Foi amiga íntima da rainha e, ao mesmo tempo, ex-noiva do rei. Às vezes, parece que tudo gira em torno dela.

A concubina assentiu, os olhos vagando pelas flores ao redor. Um silêncio desconfortável se instalou entre as duas, até que Soojin suspirou e forçou um sorriso.

— Mas isso não importa. O que importa é meu filho.

Mikha não respondeu. Sabia que Soojin se agarrava à esperança de que a criança lhe traria um novo propósito, mas não podia deixar de pensar no que significava carregar o filho de um homem como Sung Hoon. Mas Soojin tinha outra coisa em mente

— E você? Ainda está esperando pelo tio do seu ex-noivo? Taehyung sabe? Eu o vi há alguns dias, e ele estava bem abatido...

Mikha controlou a expressão, evitando transparecer qualquer hesitação.

Destiny - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora