Capítulo quatro

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No sábado acordo cedo, coloco minhas roupas de ginástica e saio para correr. Papai e Pedro decidiram fazer uma pequena viagem para pescar – o passeio mais tentador do mundo para uma garota de 19 anos. Disse que ficaria em casa, mas que estava feliz porque os dois iriam passar algum tempo juntos.

Além de não estar com vontade de pescar, queria passar o dia com Bernardo, que tem reclamado da distância entre nós. Por falar nele, sorrio ao ver que está me ligando.

- Oi, linda.

- Oi, Bernardo. Tudo bem?

- Hum, mais ou menos. Não vou conseguir ir para Florianópolis esse fim de semana. Achei que conseguiria terminar meus trabalhos, mas não deu certo. Vou precisar ficar por aqui.

Paro de caminhar sentindo-me um tanto decepcionada.

- Tudo bem, então. Nos vemos na semana que vem – digo.

- Sim, estou ansioso para vê-la novamente. Tchau, te amo.

- Te amo.

E eu desligo. Respiro fundo e volto a correr.

-||-

Uma hora depois, estou ofegante, mas me sinto bem. Paro de correr quando chego em frente a nossa casa e avisto um sujeito, com duas malas gigantes e algo que se parece com um violão, sentado na varanda.

Franzo o cenho e começo a me aproximar. Ele não parece, de forma alguma, perigoso. Além disso, me aproximo apenas porque tenho uma vaga ideia de quem possa ser.

Quando me avista, o rapaz se levanta e desce os pequenos degraus, ficando de pé na minha frente. Minha primeira percepção é: nossa, ele é alto! A segunda: será que ele já ouviu falar em pente? O ser humano na minha frente está com os cabelos loiros escuros e ondulados bagunçados em todas as direções.

- Você deve ser o Gabriel – eu digo, tentando impedir com as mãos que o sol queime meus olhos. Meu rosto deve estar franzido de um jeito engraçado, porque ele abre um sorriso, divertido.

- E acho que você não deve ser Pedro e nem Carlos, o que resta... Olívia, certo? Prazer em conhece-la.

- Nós já nos conhecemos – eu digo a ele.

Ele me analisa, pensativo.

- A menina que eu conheci não era tão suada – responde, por fim, observando minhas roupas molhadas.

Arregalo os olhos, surpresa e irritada ao mesmo tempo. De repente me torno superconsciente das minhas roupas suadas. O que ele esperava? Que eu estivesse impecável após correr por uma hora inteira?

- Ei, estou brincando, está bem? Não fique irritada comigo – Gabriel diz, rindo e erguendo as mãos como se estivesse se rendendo. – Você parece diferente. Só isso.

- Deve ser porque eu tinha dez anos na última vez que você me viu.

- Verdade – ele responde, pensativo. – Você continua sendo chata?

- Não, mas pelo jeito você continua irritante – eu digo, parecendo brava, mas admito que estou até me divertindo.

Ele abre um sorriso enorme, mostrando uma linha de dentes brancos. Não consigo desviar o olhar.

- Legal te ver novamente, Olívia. E obrigado por concordar em me deixar ficar aqui por algum tempo.

Eu aceno com a cabeça, séria.

- Tudo bem.

- Estou falando sério – Gabriel diz, e percebo pela primeira vez que seus olhos tem um tom de cinza muito diferente. – Significa muito para mim.

Nós dois ficamos em silêncio por um instante e então eu aponto com minha mão para a porta.

- Vamos entrar? – pergunto. – Eu meio que preciso de um banho.

- Por favor, Olívia, acabei de chegar. Não acha meio cedo me convidar para um banho?

Eu reviro os olhos, mas estou rindo. Ele também. Já vi que Gabriel faz o tipo engraçadinho.

- Precisa de ajuda com as malas?

- Não, obrigado. Que tipo de cavalheiro eu seria se deixasse você carregar minhas malas?

- Quer dizer que você é um cavalheiro? – eu o olho, levantando uma sobrancelha.

- Mas é claro – ele responde, rindo, enquanto arrasta sua bagagem com muita dificuldade. – Mas será que você pode carregar o violão?

Eu rio, balançando a cabeça, e o guio para o andar de cima, até o quarto vago, que agora tem uma cama e um guarda-roupa.

- Esse é seu quarto. O meu é aqui ao lado – caminho até a outra porta que há dentro de seu quarto e a abro. – E esse é o nosso banheiro. Tem uma porta que dá para o meu quarto também, portanto não se esqueça de trancá-la quando for usá-lo. E deixe-o limpo.

Gabriel observa tudo com atenção, balançando a cabeça positivamente.

- Bom, vou tomar um banho e depois vou fazer o almoço. A cozinha é lá embaixo, então sabe onde me encontrar se precisar de mim – digo.

- No banho? – ele pergunta, sorrindo inocentemente.

Eu reviro os olhos e o deixo sozinho no quarto.

Desconsiderando as piadinhas, ele parece legal. Talvez não seja tão ruim tê-lo por aqui.

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