Capítulo dez

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No dia seguinte, quando acordei, papai ainda estava em casa, assistindo a uma corrida de cavalos na TV (fala sério, quem é que gosta de ver isso?).

- Caiu da cama? – ele pergunta. – Não acredito que está acordada tão cedo.

Eu estranho. Papai estava tentando ser engraçado?

- Eu sempre acordo cedo, papai – digo ao me sentar perto dele. – Acontece que quando eu levanto você nunca está em casa.

Ele contrai os lábios em uma linha reta e balança a cabeça, concordando.

- Eu sei – diz. Eu o escuto suspirar. – Como estão as coisas? Pelo o que vi Gabriel está se adaptando bem aqui.

- Sim – eu digo, e um sorriso aparece em meu rosto de repente. – Pedro e ele são melhores amigos agora. Eu até mesmo fui substituída para leva-lo ao futebol, porque, aparentemente, Gabriel entende mais sobre isso do que eu.

Papai sorri. É o segundo sorriso que vejo em seu rosto após um longo tempo.

- E vocês dois? Se deram bem? – pergunta, coçando a sobrancelha com o polegar.

Compreendo na hora que seu questionamento carrega mais de um significado.

- Papai... – eu começo.

- Foi apenas uma pergunta. E ele é um bom rapaz, Olívia.

- Mas isso não muda o fato de que eu tenho um namorado.

Ele suspira.

- Um namorado que nunca a visita.

- Eu não posso exigir muito dele. Eu também não vou visita-lo.

- Mas ele não tem tantas responsabilidades como você tem.

Agora é minha vez de suspirar. Em partes, ele tem razão. Eu não posso simplesmente deixar Pedro sozinho e ir visita-lo, uma vez que papai está constantemente na delegacia.

Nosso silêncio é quebrado quando a porta da frente se abre e Gabriel e Pedro entram. Meu irmão sobe correndo as escadas, e Gabriel sorri quando nos vê sentados no sofá.

- Como foi o treino? – papai grita para Pedro, que não para de correr para responde-lo.

- Foi animal!

Nós rimos de seu comentário.

- Bom dia, seu Carlos – Gabriel diz a meu pai. Quando se vira para mim, seus olhos se fixam nos meus. - Bom dia, Olívia

- Por favor, filho, já falei que pode me chamar apenas de Carlos.

Ele assente, abrindo um sorriso sem jeito em seu rosto.

Eu me levanto.

- Acho que vou ir correr um pouco – falo. – Volto a tempo de fazer o almoço, está bem?

- Não se preocupe com isso, filha. Hoje eu faço.

Uau. O que aconteceu com o meu pai? Ele não cozinha desde... Bem, não me lembro de alguma vez ter comido algo feito por ele.

- Você sabe cozinhar? – pergunto, erguendo uma sobrancelha.

Ele dá uma gargalhada, mas não me responde. Apenas se levanta e vai em direção à cozinha. Eu olho para Gabriel com uma expressão confusa e dou de ombros, rindo. Ele ri também.

- Bom, já estou de saída – anuncio. – Até depois.

Quando passo por ele, paro de caminhar imediatamente quando sua mão segura meu pulso. Foi um toque suave, delicado, diferentemente da minha reação à ele. Parei tão abruptamente que parecia que tinha acabado de ser eletrocutada.

Ele pareceu não perceber minha reação idiota.

- Eu... ah – ele começa, soltando meu braço após longos segundos. – Eu consegui um emprego.

- Que ótimo, Gabriel! – digo, feliz por ele. – Onde?

- Você conhece o Days and Nights? Aquele pub, no centro? – ele pergunta. Eu balanço a cabeça indicando que sim. – Eu fui até lá noite passada para conhecer e vi que eles estavam à procura de alguém para tocar nas primeiras horas da noite, até que a banda convidada comece sua apresentação. Então eu me inscrevi, toquei algumas músicas para os caras, e eles gostaram de mim.

- Uau, isso é incrível.

Embora eu pareça surpresa, não estou. Ele tem muito talento. E carisma. Por que ele precisa ser tão simpático? E tão... charmoso? Eu percebo que estou o encarando quando seus lábios se retraem em um sorriso discreto.

- Sim, pelo menos não vou precisar parar de tocar.

- Parabéns. Estou feliz por você, de verdade.

- Valeu – ele sorri. – Porém...

Eu levanto uma sobrancelha.

- O quê?

- Eu começo essa noite. Você já tem planos para hoje?

Sim, vou deitar na minha cama e ler um livro, já que meu namorado não pode vir me visitar. Eu reviro os olhos mentalmente. Sou patética.

- Estou livre – respondo, respirando fundo.

- Ótimo, assim você não vai precisar cancelar algum plano para ir me assistir – ele fala com um sorriso no canto de seus lábios.

Como pode ser tão confiante?

- Como pode ter tanta certeza de que eu quero assisti-lo?

Ele sorri, revirando os olhos.

- Porque você não consegue resistir ao meu talento.

Eu rio.

- Ok, senhor irresistível. Talvez eu realmente gostaria de ir vê-lo, mas não me sinto bem indo sozinha.

- Você estará comigo – ele fala rapidamente, roçando seu polegar na parte de cima de minha mão.

- Tecnicamente, não. Você vai estar no palco e eu na mesa – digo, afastando-me um pouco.

Não gosto dos arrepios que seu simples toque me fez sentir.

Sua expressão se torna pensativa.

- Que tal levar Lúcia? – ele pergunta. – Acho que ela gostaria de ir também.

Ah, Lúcia... Claro que ela gostaria de ir. Isso ficou bem claro ontem quando ela almoçou conosco. Ela simplesmente não conseguia tirar os olhos de Gabriel. Eu sei que ele é bonito mas, por favor, será que ela não sabe disfarçar?

Eu respiro fundo.

- Tudo bem. Mas já vou te avisando: nem pense em começar a namorar minha amiga – digo, séria, embora esteja me divertindo. – Ela é a única amiga que me restou.

Ele abre um pequeno sorriso, cruza as mãos sobre o peito e me olha diretamente nos olhos. Quando fala, sua voz é mais baixa e rouca:

- Não estou interessado nela, Olívia. Não se preocupe.

Depois que você chegouOnde histórias criam vida. Descubra agora